Jornal da tarde
Ensino médio
receberá R$ 87 milhões
O Estado de S. Paulo
CPI da Educação
será prorrogada
Jornal do Brasil
BID financia ensino
Chegará
o dia em que os produtores
de bebidas vivenciarão o pesadelo das
indenizações
MAURÍCIO GATTAZ
Enquanto
as telas de televisão, as páginas dos jornais e as ondas
dos
rádios veiculam um conflito de interesses protagonizado pelas
grandes produtoras de cerveja do país, quem de novo fica na mão
é
o povo brasileiro. Cade, AmBev, Kaiser e governo federal se iludem
e iludem os cidadãos, buscando um discurso de justiça e
solidariedade com o povo brasileiro contra os grandes monopólios
ou
contra os interesses pessoais ocultos.
Na realidade nem as cervejarias nem os órgãos governamentais
nem o terceiro setor têm tido o empenho necessário no
esclarecimento da sociedade quanto ao vultoso problema que
realmente tem a ver com a vida, com a qualidade de vida e com a
sobrevida do brasileiro, que é o aumento indiscriminado do consumo
de álcool em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias
e
em ambos os sexos.
Como afirma Arivaldo de Almeida Costa em um excelente artigo na
publicação "Medicina", do Conselho Federal (novembro/99),
18 em
cada 100 brasileiros adultos são dependentes de álcool, o
hábito de
beber entre crianças e adolescentes é cada vez maior, 75%
dos
acidentes fatais de trânsito são associados ao uso excessivo
de
álcool (em torno de 29 mil mortes por ano) e cerca de 40% das
ocorrências policiais relacionam-se ao abuso da bebida.
Somam-se a isso o alto índice de absenteísmo nas empresas,
acarretando grande prejuízo financeiro, a inegável associação
de
crimes bárbaros e violentos e a agressividade nos lares, com
destruição das células familiares, quebrando a estrutura
financeira,
emocional, ética e moral.
Estudo realizado por Alice Chassin, do Instituto Médico Legal, e
por
Beatriz Carlini, da USP, mostrou que, das 5.700 mortes violentas
ocorridas em São Paulo em 1996, 48% das pessoas apresentavam
excesso de álcool no sangue. Dos mortos por afogamento, 64%
tinham excesso de álcool no sangue; dos mortos por homicídio,
52%; dos mortos por queda fatal, 36%; dos mortos por suicídio,
36%.
Como se não bastassem esses alarmantes números, o que dizer
da
agressão à saúde do indivíduo, acarretando
problemas neurológicos
(como demência alcóolica, derrame cerebral, traumas
cranioencefálicos, distúrbios neuropsiquiátricos,
abstinência alcóolica
com mortalidade de até 30% e coma hepático)? Sem falar de
pancreatite, cirrose, gastrite, úlcera péptica, hipertensão
arterial,
arritmias cardíacas, miocardiopatia alcóolica, infarto do
miocárdio,
desnutrição, infecções (como meningites, pneumonias,
abscessos
pulmonares, peritonites) e câncer do trato respiratório e
gastrintestinal.
Essas patologias, que fazem parte do dia-a-dia do pronto-socorro do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, acarretam
um aumento de quatro vezes da mortalidade e um gasto
extraordinário em internações -segundo o Ministério
da Saúde, o
gasto com internações decorrentes do uso abusivo de álcool
foi de
R$ 310 milhões nos últimos três anos.
Diante de tais dados, causa-me espanto e tristeza observar que a
preocupação das autoridades está ligada à ética
do "monopólio em
prejuízo do consumidor", escondendo o monstruoso problema que é
a "negligência geral em prejuízo da saúde do consumidor".
Chegará o dia em que os produtores de bebidas alcóolicas
vivenciarão o verdadeiro pesadelo das indenizações
milionárias,
semelhante ao das indústrias de tabaco.
O governo, as organizações não-governamentais e a
sociedade
como um todo deveriam estar mais preocupados em coibir as
propagandas sedutoras, que atingem todas as faixas etárias e
estimulam a ingestão de bebida alcóolica, em tornar obrigatórias
nos
rótulos das bebidas advertências quanto aos riscos da ingestão
alcóolica, em juntar esforços para, num trabalho sério
e responsável,
desenvolver campanhas de conscientização quanto aos malefícios
do abuso de álcool.
Deveriam, também, promover campanhas especificamente
direcionadas aos jovens nos colégios e nas universidades, criar
programas para detectar o alcoolista inicial e trabalhar com ele em
um processo de reeducação, proibir o patrocínio de
bebidas
alcóolicas em eventos esportivos e culturais e, por fim, proclamar
em uníssono e bom som: álcool cria dependência e seu
abuso faz
mal à saúde.
Maurício Daniel Gattaz, 42, médico, é coordenador
do Serviço de
Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina
da Universidade de São Paulo (FMUSP).
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Que
os mortos enterrem os mortos
Os
democratas chilenos, ao final, foram os mais prejudicados
com a novela produzida pelos britânicos
JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE
especial para a Folha
Na
memória recente da "latinoamericanidad" costuma-se atribuir
aos argentinos a paixão mórbida pelos cadáveres dos
próceres
políticos. Os ingleses parecem ter-se contaminado em sua recente
campanha nas Malvinas, inoculando, por sua vez, os chilenos. E de
tal forma que protagonizaram essa desagradável farsa que consistiu
em enterrar e desenterrar seguidamente esse verdadeiro cadáver
político insepulto em que se tornou o general Pinochet.
O que queriam os ingleses? Dar lições de respeito e acatamento
das
leis internacionais, dos princípios civilizados da convivência
humana?
Perguntem então aos africanos, aos indianos, aos árabes ou,
se
quiserem, aos irlandeses, o quanto vale um ser humano quando
estão em jogo interesses considerados vitais pelos britânicos.
Ou será que estavam empenhados em tocar os corações
mais
ternos com essa figura quase avuncular que a velhice e a (alegada)
doença mostram cada vez mais vergado sob o peso do presente?
Confesso que às vezes quase fico com pena desse homem que a
razão me manda tratar como inimigo, tanto é infame a maneira
como prolongaram um desfecho que não podia ser evitado
indefinidamente. A não ser que estivessem esperando que ele
morresse e, com ele, morresse o problema.
O senso de "timing" e de conveniência com que trataram a novela
Pinochet, então, é de chorar de raiva. É como se o
governo
britânico escolhesse a dedo os momentos mais adequados para
embaraçar e aumentar as vulnerabilidades dos democratas chilenos.
Sim, pois não há setor da sociedade chilena que tenha sido
mais
prejudicado em todo esse "affair" do que os democratas e o regime
democrático.
Afinal, de quem é a falha se um suposto criminoso, viajando
acobertado por imunidades diplomáticas, precisa ser exemplado em
outro país, se não da incapacidade da democracia chilena
para fazer
justiça?
Essa é a mensagem em filigrana que o governo britânico e a
justiça
de alguns países europeus passa para a opinião internacional:
"É
preciso que nós, povos civilizados e respeitadores da lei, ajamos
em
nome do direito e da humanidade, porque esses povos ainda na
infância do estado de direito não são capazes ou não
têm vontade
própria para fazê-lo".
Não tenho dúvida de que Pinochet é um adversário
da democracia e
que só a aceitou quando não tinha alternativa e, mesmo assim,
depois de ter obtido salvaguardas constitucionais com o objetivo
determinado de emasculá-la.
Pinochet é um adversário de todos os democratas e é
assim, como
adversário, que os democratas chilenos o tratam.
Mas é um adversário que concordou em deixar o poder sob
condições que muitos movimentos de idéias europeus
consideram
inaceitáveis, mas que a maioria do povo chileno e seus dirigentes
aceitaram como única alternativa ao prolongamento da ditadura e
à
certeza de conflitos insanáveis.
Quando os democratas chilenos que, diferentemente dos ativistas
europeus, sofreram na pele os crimes cometidos pelo regime de
Pinochet concederam uma sobrevida política, prerrogativas e
imunidades, sabiam perfeitamente o preço que estavam pagando
pelo bem maior que esperavam colher, isto é, o estado de direito
e a
democracia. Não se pode dizer o mesmo de certos burocratas
europeus.
José
Augusto Guilhon Albuquerque, 59, é professor titular de Ciência
Política e coordenador científico do Núcleo de Pesquisa
em Relações
Internacionais da USP
Ensino médio receberá R$ 87 milhões
O ensino médio paulista receberá, ainda este ano, R$ 87 milhões
de um
convênio assinado ontem. Cerca de R$ 35 milhões referem-se
ao acordo entre
MEC e BID e R$ 52 milhões representam uma contrapartida em recursos
do
próprio governo de São Paulo. No próximo ano serão
aplicados no ensino
médio mais R$ 70 milhões, e em 2002, outros R$ 42 milhões.
A secretária da
Educação, Rose Neubauer, informou que já estão
preparadas as licitações,
conforme os padrões do BID, para a construção de 27
escolas de ensino
médio nas periferias da Grande São Paulo e das maiores cidades
do interior,
como Campinas e São José dos Campos. Rose garantiu que a
aplicação dos
recursos será “imediata”.
Dos R$ 77 milhões aplicados ainda este ano, R$ 57,1 milhões
serão
destinados a projetos de melhoria da qualidade do ensino.
CPI da Educação será prorrogada
Os deputados estaduais de São
Paulo decidiram prorrogar o prazo
para conclusão dos trabalhos da Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI)
que investiga a não-aplicação, por parte
do governo do Estado, dos recursos
obrigatórios da Educação. Programada para
ser encerrada no dia 26, a CPI
terá mais três meses para apresentar seu relatório
final. Na quinta-feira, os
integrantes da comissão definirão um calendário
para os depoimentos de
autoridades que ainda não foram ouvidas, incluindo o da
secretária da
Educação, Rose Neubauer. Segundo o presidente da
comissão, deputado
César Calegari (PSB), a CPI anda a passos lentos em razão
do retardamento
da entrega de dados solicitados aos órgãos oficiais.
(Cristina Charão)
BRASÍLIA - O governo federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) vão
investir R$ 500 milhões no ensino médio por meio do projeto
Escola Jovem, que prevê a
aquisição de equipamentos para bibliotecas, laboratórios
de informática e de ciências, a
recuperação de escolas e a formação de
professores. O presidente Fernando Henrique
Cardoso e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza,
comemoraram o aumento de 57% no
número de matrículas no ensino médio nos últimos
seis anos, destacando que o acréscimo
anual chega a 11%.
"Até os mais descrentes têm de reconhecer que houve um
avanço importante", disse o
presidente. "Precisamos não apenas dar conta da quantidade de
vagas, mas melhorar a
qualidade", completou o ministro da Educação, fazendo
referência à necessidade anual de
criação de 800 mil vagas no ensino médio. "O Brasil
está vivendo um processo revolucionário
que necessita ser permanentemente melhorado", disse o presidente do
BID, Enrique Iglesias.
Dos US$ 250 milhões repassados pelo banco, US$ 50 milhões
vão ser usados na criação de
um centro de informática e tecnologia e na compra de computadores
e materiais a serem
distribuídos às escolas. Os US$ 200 milhões restantes
serão distribuídos aos estados, que
devem apresentar projetos para aplicação do dinheiro
até junho. O governo terá 20 anos para
pagar o empréstimo, após quatro anos de carência.
Em contrapartida ao financiamento, os
estados vão participar com US$ 225 milhões e a União
com US$ 25 milhões.