03.03.2000.

Folha de S. Paulo
A sociedade adverte
Que os mortos enterrem os mortos

Jornal da tarde
Ensino médio receberá R$ 87 milhões

O Estado de S. Paulo
CPI da Educação será prorrogada

Jornal do Brasil
BID financia ensino



Folha de S. Paulo

A sociedade adverte

            Chegará o dia em que os produtores
             de bebidas vivenciarão o pesadelo das
             indenizações
 

           MAURÍCIO GATTAZ

            Enquanto as telas de televisão, as páginas dos jornais e as ondas dos
            rádios veiculam um conflito de interesses protagonizado pelas
            grandes produtoras de cerveja do país, quem de novo fica na mão é
            o povo brasileiro. Cade, AmBev, Kaiser e governo federal se iludem
            e iludem os cidadãos, buscando um discurso de justiça e
            solidariedade com o povo brasileiro contra os grandes monopólios ou
            contra os interesses pessoais ocultos.
            Na realidade nem as cervejarias nem os órgãos governamentais
            nem o terceiro setor têm tido o empenho necessário no
            esclarecimento da sociedade quanto ao vultoso problema que
            realmente tem a ver com a vida, com a qualidade de vida e com a
            sobrevida do brasileiro, que é o aumento indiscriminado do consumo
            de álcool em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias e
            em ambos os sexos.
            Como afirma Arivaldo de Almeida Costa em um excelente artigo na
            publicação "Medicina", do Conselho Federal (novembro/99), 18 em
            cada 100 brasileiros adultos são dependentes de álcool, o hábito de
            beber entre crianças e adolescentes é cada vez maior, 75% dos
            acidentes fatais de trânsito são associados ao uso excessivo de
            álcool (em torno de 29 mil mortes por ano) e cerca de 40% das
            ocorrências policiais relacionam-se ao abuso da bebida.
            Somam-se a isso o alto índice de absenteísmo nas empresas,
            acarretando grande prejuízo financeiro, a inegável associação de
            crimes bárbaros e violentos e a agressividade nos lares, com
            destruição das células familiares, quebrando a estrutura financeira,
            emocional, ética e moral.
            Estudo realizado por Alice Chassin, do Instituto Médico Legal, e por
            Beatriz Carlini, da USP, mostrou que, das 5.700 mortes violentas
            ocorridas em São Paulo em 1996, 48% das pessoas apresentavam
            excesso de álcool no sangue. Dos mortos por afogamento, 64%
            tinham excesso de álcool no sangue; dos mortos por homicídio,
            52%; dos mortos por queda fatal, 36%; dos mortos por suicídio,
            36%.
            Como se não bastassem esses alarmantes números, o que dizer da
            agressão à saúde do indivíduo, acarretando problemas neurológicos
            (como demência alcóolica, derrame cerebral, traumas
            cranioencefálicos, distúrbios neuropsiquiátricos, abstinência alcóolica
            com mortalidade de até 30% e coma hepático)? Sem falar de
            pancreatite, cirrose, gastrite, úlcera péptica, hipertensão arterial,
            arritmias cardíacas, miocardiopatia alcóolica, infarto do miocárdio,
            desnutrição, infecções (como meningites, pneumonias, abscessos
            pulmonares, peritonites) e câncer do trato respiratório e
            gastrintestinal.
            Essas patologias, que fazem parte do dia-a-dia do pronto-socorro do
            Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, acarretam
            um aumento de quatro vezes da mortalidade e um gasto
            extraordinário em internações -segundo o Ministério da Saúde, o
            gasto com internações decorrentes do uso abusivo de álcool foi de
            R$ 310 milhões nos últimos três anos.
            Diante de tais dados, causa-me espanto e tristeza observar que a
            preocupação das autoridades está ligada à ética do "monopólio em
            prejuízo do consumidor", escondendo o monstruoso problema que é
            a "negligência geral em prejuízo da saúde do consumidor".
            Chegará o dia em que os produtores de bebidas alcóolicas
            vivenciarão o verdadeiro pesadelo das indenizações milionárias,
            semelhante ao das indústrias de tabaco.
            O governo, as organizações não-governamentais e a sociedade
            como um todo deveriam estar mais preocupados em coibir as
            propagandas sedutoras, que atingem todas as faixas etárias e
            estimulam a ingestão de bebida alcóolica, em tornar obrigatórias nos
            rótulos das bebidas advertências quanto aos riscos da ingestão
            alcóolica, em juntar esforços para, num trabalho sério e responsável,
            desenvolver campanhas de conscientização quanto aos malefícios
            do abuso de álcool.
            Deveriam, também, promover campanhas especificamente
            direcionadas aos jovens nos colégios e nas universidades, criar
            programas para detectar o alcoolista inicial e trabalhar com ele em
            um processo de reeducação, proibir o patrocínio de bebidas
            alcóolicas em eventos esportivos e culturais e, por fim, proclamar
            em uníssono e bom som: álcool cria dependência e seu abuso faz
            mal à saúde.
 

            Maurício Daniel Gattaz, 42, médico, é coordenador do Serviço de
            Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
            da Universidade de São Paulo (FMUSP).

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Que os mortos enterrem os mortos

            Os democratas chilenos, ao final, foram os mais prejudicados
            com a novela produzida pelos britânicos

            JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE
            especial para a Folha

            Na memória recente da "latinoamericanidad" costuma-se atribuir
            aos argentinos a paixão mórbida pelos cadáveres dos próceres
            políticos. Os ingleses parecem ter-se contaminado em sua recente
            campanha nas Malvinas, inoculando, por sua vez, os chilenos. E de
            tal forma que protagonizaram essa desagradável farsa que consistiu
            em enterrar e desenterrar seguidamente esse verdadeiro cadáver
            político insepulto em que se tornou o general Pinochet.
            O que queriam os ingleses? Dar lições de respeito e acatamento das
            leis internacionais, dos princípios civilizados da convivência humana?
            Perguntem então aos africanos, aos indianos, aos árabes ou, se
            quiserem, aos irlandeses, o quanto vale um ser humano quando
            estão em jogo interesses considerados vitais pelos britânicos.
            Ou será que estavam empenhados em tocar os corações mais
            ternos com essa figura quase avuncular que a velhice e a (alegada)
            doença mostram cada vez mais vergado sob o peso do presente?
            Confesso que às vezes quase fico com pena desse homem que a
            razão me manda tratar como inimigo, tanto é infame a maneira
            como prolongaram um desfecho que não podia ser evitado
            indefinidamente. A não ser que estivessem esperando que ele
            morresse e, com ele, morresse o problema.
            O senso de "timing" e de conveniência com que trataram a novela
            Pinochet, então, é de chorar de raiva. É como se o governo
            britânico escolhesse a dedo os momentos mais adequados para
            embaraçar e aumentar as vulnerabilidades dos democratas chilenos.
            Sim, pois não há setor da sociedade chilena que tenha sido mais
            prejudicado em todo esse "affair" do que os democratas e o regime
            democrático.
            Afinal, de quem é a falha se um suposto criminoso, viajando
            acobertado por imunidades diplomáticas, precisa ser exemplado em
            outro país, se não da incapacidade da democracia chilena para fazer
            justiça?
            Essa é a mensagem em filigrana que o governo britânico e a justiça
            de alguns países europeus passa para a opinião internacional: "É
            preciso que nós, povos civilizados e respeitadores da lei, ajamos em
            nome do direito e da humanidade, porque esses povos ainda na
            infância do estado de direito não são capazes ou não têm vontade
            própria para fazê-lo".
            Não tenho dúvida de que Pinochet é um adversário da democracia e
            que só a aceitou quando não tinha alternativa e, mesmo assim,
            depois de ter obtido salvaguardas constitucionais com o objetivo
            determinado de emasculá-la.
            Pinochet é um adversário de todos os democratas e é assim, como
            adversário, que os democratas chilenos o tratam.
            Mas é um adversário que concordou em deixar o poder sob
            condições que muitos movimentos de idéias europeus consideram
            inaceitáveis, mas que a maioria do povo chileno e seus dirigentes
            aceitaram como única alternativa ao prolongamento da ditadura e à
            certeza de conflitos insanáveis.
            Quando os democratas chilenos que, diferentemente dos ativistas
            europeus, sofreram na pele os crimes cometidos pelo regime de
            Pinochet concederam uma sobrevida política, prerrogativas e
            imunidades, sabiam perfeitamente o preço que estavam pagando
            pelo bem maior que esperavam colher, isto é, o estado de direito e a
            democracia. Não se pode dizer o mesmo de certos burocratas
            europeus.

            José Augusto Guilhon Albuquerque, 59, é professor titular de Ciência
            Política e coordenador científico do Núcleo de Pesquisa em Relações
            Internacionais da USP

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Jornal da tarde

Ensino médio receberá R$ 87 milhões

                O ensino médio paulista receberá, ainda este ano, R$ 87 milhões de um
                convênio assinado ontem. Cerca de R$ 35 milhões referem-se ao acordo entre
                MEC e BID e R$ 52 milhões representam uma contrapartida em recursos do
                próprio governo de São Paulo. No próximo ano serão aplicados no ensino
                médio mais R$ 70 milhões, e em 2002, outros R$ 42 milhões. A secretária da
                Educação, Rose Neubauer, informou que já estão preparadas as licitações,
                conforme os padrões do BID, para a construção de 27 escolas de ensino
                médio nas periferias da Grande São Paulo e das maiores cidades do interior,
                como Campinas e São José dos Campos. Rose garantiu que a aplicação dos
                recursos será “imediata”.

                Dos R$ 77 milhões aplicados ainda este ano, R$ 57,1 milhões serão
                destinados a projetos de melhoria da qualidade do ensino.

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O Estado de S. Paulo

CPI da Educação será prorrogada

      Os deputados estaduais de São Paulo decidiram prorrogar o prazo
 para conclusão dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
 que investiga a não-aplicação, por parte do governo do Estado, dos recursos
 obrigatórios da Educação. Programada para ser encerrada no dia 26, a CPI
 terá mais três meses para apresentar seu relatório final. Na quinta-feira, os
 integrantes da comissão definirão um calendário para os depoimentos de
 autoridades que ainda não foram ouvidas, incluindo o da secretária da
 Educação, Rose Neubauer. Segundo o presidente da comissão, deputado
 César Calegari (PSB), a CPI anda a passos lentos em razão do retardamento
 da entrega de dados solicitados aos órgãos oficiais. (Cristina Charão)

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Jornal do Brasil

BID financia ensino

BRASÍLIA - O governo federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vão
investir R$ 500 milhões no ensino médio por meio do projeto Escola Jovem, que prevê a
aquisição de equipamentos para bibliotecas, laboratórios de informática e de ciências, a
recuperação de escolas e a formação de professores. O presidente Fernando Henrique
Cardoso e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, comemoraram o aumento de 57% no
número de matrículas no ensino médio nos últimos seis anos, destacando que o acréscimo
anual chega a 11%.

"Até os mais descrentes têm de reconhecer que houve um avanço importante", disse o
presidente. "Precisamos não apenas dar conta da quantidade de vagas, mas melhorar a
qualidade", completou o ministro da Educação, fazendo referência à necessidade anual de
criação de 800 mil vagas no ensino médio. "O Brasil está vivendo um processo revolucionário
que necessita ser permanentemente melhorado", disse o presidente do BID, Enrique Iglesias.

Dos US$ 250 milhões repassados pelo banco, US$ 50 milhões vão ser usados na criação de
um centro de informática e tecnologia e na compra de computadores e materiais a serem
distribuídos às escolas. Os US$ 200 milhões restantes serão distribuídos aos estados, que
devem apresentar projetos para aplicação do dinheiro até junho. O governo terá 20 anos para
pagar o empréstimo, após quatro anos de carência. Em contrapartida ao financiamento, os
estados vão participar com US$ 225 milhões e a União com US$ 25 milhões.
 

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