17.12.1998.  

O Estado de S. Paulo
Exame pode ser alternativa para vestibular
Enem aponta deficiências no ensino médio
Santa Casa inaugura novo hemocentro

 Folha de S. Paulo
Aluno não sabe usar o pouco que aprende
Universidade adota exame para selecionar
Avaliações traçam perfil do ensino brasileiro
EDUCAÇÃO
Maioria quer uma vaga em universidade
 

Jornal da Tarde
 Se ficar o bicho pega
Chega de baixarias na TV

Veja
Tupi or not tupi
 

Época
Nossa língua renasce
 



O Estado de S. Paulo

Exame pode ser alternativa para vestibular

       Posição é defendida por presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino

      BRASÍLIA - O presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
 (Abmes), Édson Franco, defendeu ontem a adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelas
 universidades do País para a seleção de candidatos em processos alternativos ao vestibular. "Vou fazer
 tudo para que as 600 instituições ligadas à Abmes estudem a idéia com afinco", disse ele.

      Franco, porém, considera indispensável que o MEC divulgue para o grande público a relação das
 instituições que abrirem vagas para os aprovados no Enem e apresente os resultados até o fim de
 outubro.

      No primeiro semestre do ano que vem, 264 alunos vão ingressar na Pontifícia Universidade
 Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) por ter obtido rendimento superior a 70% no exame. A
 Universidade do Sul de Santa Catarina planeja seguir o exemplo a partir de 99, exigindo desempenho
 acima de 60%.

      Segundo o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, o futuro do exame depende das
 universidades: "O jovem precisa perceber que a prova tem uma finalidade prática", disse o ministro.
 Mas ele entende que o Enem não deveria isoladamente substituir o vestibular. "Poderia constituir a
 primeira fase da seleção", sugeriu Paulo Renato.

      O adoção do Enem como critério de ingresso no ensino superior foi aprovada em parecer do
 Conselho Nacional de Educação (CNE), que precisa ser homologado pelo ministro. (D.W.)

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Enem aponta deficiências no ensino médio

       Teste revelou que formandos são incapazes de aplicar no cotidiano a maior parte do que  aprenderam

      DEMÉTRIO WEBER

      BRASÍLIA - Depois de passar pelo menos 11 anos na escola, o estudante brasileiro que conclui
 o ensino médio (antigo 2º grau) é incapaz de usar a maior parte do que aprendeu em sala de aula para
 resolver problemas no seu dia-a-dia. Isso significa enfrentar sérias dificuldades na hora de interpretar
 informações, definir conceitos ou reunir dados para argumentar numa discussão. É o que revela o
 Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em que os 115,5 mil avaliados ficaram com média 4 na
 prova de conhecimentos gerais e 4,5 na de redação, resultados considerados regulares.

      "Venho dizendo desde 95 que nosso ensino médio é fraco", afirmou o ministro da Educação,
 Paulo Renato Souza, que espera reverter o quadro com a reforma curricular a partir do ano que vem.
 Idealizado pelo Ministério da Educação (MEC) para servir de instrumento nos processos de seleção
 alternativos ao vestibular, o Enem é voluntário. Assim, houve distorções entre o número de inscritos nos
 Estados, de modo que a amostra não é representativa do 1,5 milhão de brasileiros em condições de
 concluir o ensino médio este ano. Além disso, 9,1% dos participantes concluíram a educação básica em
 anos anteriores.

      Desempenho - Mas, como o próprio ministro destacou, os estudantes que se submeteram à
 prova constituem, em princípio, um grupo com mais condições do que o total do País, uma vez que
 provêm de Estados historicamente com desempenho escolar acima da média nacional: dos 115.575
 avaliados, por exemplo, 65.156 eram de Minas e do Paraná, onde foram registrados os melhores
 resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em 97.

      "O resultado foi acima do esperado", disse Paulo Renato. "Não porque a educação tenha
 melhorado, mas por causa da amostra, que é melhor do que o conjunto do País."

      Aplicada no dia 30 de agosto, a prova foi dividida em duas partes: uma redação e 63 questões
 de múltipla escolha, com o objetivo de avaliar habilidades e competências em vez de conteúdos. "O
 exame dá ao estudante a oportunidade de mostrar como usa o conhecimento que tem", observou a
 coordenadora-geral do Enem, Maria Inês Fini.

      De um modo geral, o que o teste avalia é a capacidade de aprender. Nesse sentido, a ênfase não
 é a memória, mas as operações mentais relacionadas ao manejo da informação e do conhecimento. "Os
 conteúdos cobrados são mínimos", explicou ela.

      A prova de conhecimentos gerais reuniu questões ligadas a cinco competências: domínio da língua
 portuguesa e demais linguagens, como a matemática e a artística (média 4,2); a construção e aplicação
 de conceitos para compreender fenômenos naturais e processos históricos (média 4); a seleção,
 organização e interpretação de dados para tomar decisões (média 4); a organização de informações
 para construir argumentações (média 3,7, a menor da prova); e a capacidade de usar o que se aprendeu
 na escola para resolver problemas no cotidiano (média 3,8).

      Segundo Inês Fini, o tipo de questão apresentado é diferente daquilo a que os estudantes estão
 acostumados. "Foi uma experiência nova para eles, o que ajuda a explicar o resultado."

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Santa Casa inaugura novo hemocentro

      FABIANA GITSIO

      A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo inaugurou ontem seu novo
 hemocentro com a promessa de aumentar a coleta diária de sangue e proporcionar mais conforto ao
 doador. Graças aos modernos equipamentos, por exemplo, o sangue de um único doador pode
 beneficiar até três pacientes.

      O hemocentro antigo fazia até 4 mil coletas por mês. Agora, esse número poderá dobrar.
 Segundo Dante Langhi Júnior, médico responsável pelo serviço, bolsas excedentes poderão até ajudar a
 suprir a demanda de sangue de outros hospitais. O doador passa a contar também com uma área maior.

      Batizado de Gastão Eduardo de Bueno Vidigal - homenagem ao banqueiro que ajudou na sua
 construção -, o hemocentro recebeu R$ 1 milhão para equipamentos e reforma do prédio. A maior
 parte da verba veio da Secretaria de Estado da Saúde. Várias membros da família Vidigal, controladora
 do Banco Mercantil de São Paulo-Finasa, participaram da inauguração.

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Folha de S. Paulo
 
Aluno não sabe usar o pouco que aprende

            FERNANDO ROSSETTI
            da Reportagem Local

            BETINA BERNARDES
            da Sucursal de Brasília

            Além de aprender pouco no ensino médio (o antigo 2º grau), os
            estudantes não estão conseguindo desenvolver a capacidade para
            aplicar esses parcos conhecimentos na vida real -aquela que
            ocorre, por exemplo, no trabalho.
            O resultado do primeiro Exame Nacional de Ensino Médio, o
            Enem, divulgado ontem pelo Ministério da Educação, mostra que
            os estudantes têm mais facilidade para lidar com os conteúdos
            tradicionais transmitidos pelas escolas -como ler e escrever, fazer
            contas ou entender um gráfico.
            Mesmo assim, o desempenho nessa competência básica, que o
            Enem chama de "domínio das linguagens", ficou com nota média
            42 (numa escala de 0 a 100).
            O exame mostra, porém, que as notas pioram quando as questões
            exigem uma aplicação mais prática das linguagens básicas
            aprendidas na escola (português, matemática, ciências, arte).
            Por exemplo, a competência para construir argumentações
            consistentes -que exige a articulação dessas várias linguagens-
            teve a menor nota média do exame: 37.
            O fracasso do ensino médio tradicional também fica evidente com
            outras notas: a prova de conhecimentos gerais (que agrupa as
            cinco competências avaliadas pelo Enem) teve média 40; a de
            redação ficou com 46.

            Competências e habilidades
            Mais do que testar a capacidade do aluno de acumular
            informações -como ocorre frequentemente nos vestibulares-, o
            Enem se propõe a avaliar as competências e habilidades que ele
            adquiriu durante toda sua escolarização.
            "O exame avalia a capacidade do indivíduo de desenvolver
            determinadas operações mentais que ele deveria ter aprendido ao
            longo do 2º grau. Essa prova vai na direção das novas teorias
            cognitivas, das inteligências múltiplas, para aquilo que deve ser a
            educação atual", diz Maria Helena Guimarães de Castro,
            presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
            Educacionais).
            Realizado pela primeira vez este ano, o Enem é uma espécie de
            sinalizador do que o Ministério da Educação quer que as escolas
            ensinem a partir de agora."O Enem é um grande instrumento de
            aperfeiçoamento do sistema educacional", afirma o ministro Paulo
            Renato Souza.
            O exame consistiu em uma redação e uma prova de
            conhecimentos gerais, com 63 questões de múltipla escolha,
            divididas entre as competências (leia resultados nos quadros desta
            reportagem).
            Participaram 115 mil pessoas, que se inscreveram individualmente.
            Elas representam menos de 10% dos estudantes que frequentam
            hoje o 3º ano do ensino médio (cerca de 1,5 milhão).
            Uma das evidências de que o ensino médio tende mudar a partir
            desse exame é a inclusão, entre as competências avaliadas, da
            capacidade de usar os "conhecimentos aprendidos na escola para
            a atuação solidária e a intervenção responsável na vida social e no
            ambiente natural".
            Ou seja, o Enem está se propondo a mensurar, inclusive, o
            trabalho de formação em cidadania realizado pelas escolas. E,
            como em todas as outras áreas, os resultados são fracos. Mais da
            metade dos estudantes acertou menos de 41% das questões
            relacionadas a essa competência.
            "O desempenho foi fraco, mas melhor do que esperávamos. O
            sistema de ensino médio é fraco, não me surpreende que os
            alunos não tenham as habilidades. Se eles não sabem os
            conteúdos, não desenvolveriam as habilidades", afirma Paulo
            Renato.

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Universidade adota exame para selecionar

            da Sucursal de Brasília

            O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, fez ontem um
            apelo às universidades para que o Enem (Exame Nacional do
            Ensino Médio) seja adotado como forma de acesso ao ensino
            superior.
            "O Enem não pretende ser um sucedâneo do vestibular, mas um
            elemento de um novo processo seletivo. Se as universidades
            adotarem ou disserem que vão adotar o exame, o número de
            participantes explode no ano que vem, e é isso que a gente quer",
            afirmou.
            De acordo com Paulo Renato, a universidade não precisa ter o
            Enem como único instrumento da seleção de alunos. A instituição
            poderia usar o Enem como substituto da primeira fase do
            vestibular e manter a segunda fase.
            "Se o Enem continuar com um número pequeno de alunos, não vai
            atingir seus dois outros objetivos: forçar uma mudança no ensino
            de 2º grau, tornando-o melhor, e funcionar como uma credencial a
            mais para os estudantes que se formam entrarem no mercado de
            trabalho", afirmou o ministro.
            Seria importante a participação das universidades porque, dessa
            forma, os alunos veriam uma finalidade no exame e isso estimularia
            a participação, segundo o MEC.
            A Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina), vai adotar o
            Enem como forma de acesso no ano que vem. "Todo aluno com
            média acima de seis poderá disputar 20% das vagas", disse o
            vice-reitor Gerson da Silveira.
            "O exame poderia ser usado, mantendo outras provas específicas
            das áreas de humanas, biomédicas e tecnológicas na seleção",
            disse Edson Franco, presidente da Associação Brasileira de
            Mantenedoras de Ensino Superior.
            A Associação Catarinense das Fundações Educacionais de Santa
            Catarina também anunciou que pretende usar o Enem como
            exame final de um sistema de avaliação do 2º grau que vem sendo
            realizado para acesso a universidades da região.
            Dez universidades vão reservar 20% de suas vagas no ano 2001
            para alunos que começaram a participar neste ano do Saem, que
            avalia os alunos a cada série do 2º grau. "A última prova para o
            grupo que começa agora, que seria em 2001, será substituída pelo
            Enem", disse Salério Heerdt, secretário-executivo da Acaf. (BB)

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Avaliações traçam perfil do ensino brasileiro

            da Reportagem Local

            A extensa atividade de avaliação educacional que o Ministério da
            Educação e algumas secretarias estaduais vêm desenvolvendo já
            delinearam um quadro bem claro das mazelas e realizações do
            ensino brasileiro.
            O Enem, por exemplo, confirma o que vem sendo mostrado por
            todas as outras avaliações -e isso é essencial para a construção de
            políticas públicas mais coerentes.
            Quanto maior a distorção idade-série, pior é o desempenho dos
            alunos. Ou seja, quanto mais o aluno repete de ano ou mais tarde
            ele entra na escola, mais difícil se torna a aprendizagem. Isso já
            tinha sido mostrado pelo Saresp em 96 e 97 e pelo Saeb em 95 e
            97 (veja quadro ao lado).
            Mas é um dado fundamental para se entender por que a maioria
            das redes de ensino está introduzindo os chamados ciclos -nos
            quais os estudantes não são reprovados de um ano para o outro.
            Também explica a grande disseminação pelo país das chamadas
            classes de aceleração -que oferecem ao aluno multirrepetente uma
            atenção mais individualizada, materiais especiais e professores
            com formação específica, de forma a fazer com que ele avance
            algumas séries.
            A influência dos fatores econômicos e sociais também mostram os
            mesmos resultados das primeiras séries do ensino fundamental até
            o último ano de universidade (que é avaliado pelo provão).
            Estudantes mais pobres, com pais menos escolarizados, têm
            desempenho pior. Estudantes que têm de trabalhar também tiram
            notas mais baixas.

            Educação infantil
            Nesses dois exemplos, o Brasil ainda não desenvolveu políticas
            públicas capazes de reverter a situação. As creches e pré-escolas
            -desde que bem estruturadas e com professores bem formados-
            poderiam, por exemplo, suprir carências de informação que
            caracterizam famílias menos letradas.
            Mas a educação infantil (0 a 6 anos) ainda é marginal nas
            reformas educacionais. Os estudantes que trabalham de dia e
            estudam à noite também têm caído em uma espécie de "buraco
            negro" das reformas do ensino.
            Apesar de tudo isso, estudo recém-divulgado da Unesco (órgão
            das Nações Unidas que trata de educação, ciência e cultura)
            mostra que o Brasil, embora tenha indicadores socioeconômicos
            piores, tem desempenho em português e matemática na 3ª e 4ª
            séries semelhante à Argentina e ao Chile. E todas as pesquisas
            mostram que a situação está melhorando.
            O "boom" de avaliações educacionais no país acompanhou o
            ingresso de técnicos na administração da educação brasileira -no
            lugar de políticos-, ocorrido principalmente nesta década.
            O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais),
            por exemplo, foi criado em 1937, quando havia uma
            efervescência semelhante à atual em torno da educação. Passou
            as últimas duas décadas à míngua de recursos. Agora voltou a ser
            um dos principais órgãos do MEC. (FR)

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EDUCAÇÃO

            Mulheres são maioria e obtêm nota média melhor em redação
            Pobreza e desemprego são maiores temores de alunos

            da Sucursal de Brasília

            Os participantes do Enem indicaram a pobreza e o desemprego
            como as questões sociais que mais lhes despertam interesse.
            Essas são as maiores preocupações para 94,7% dos
            participantes.
            Outras preferências são: ter um bom trabalho (98,5%), ser
            bem-sucedido na carreira (98,2%), ter um emprego e ganhar um
            bom salário (97,7%), com um grau maior de importância do que
            as expectativas que envolvem outras pessoas, como constituir
            família e ter filhos (88,1%) e casar ou ter um parceiro (86,5%).
            A grande maioria dos 115.575 estudantes que fizeram a prova
            pretende prestar vestibular ao final do 2º grau (93%).
            "Essa amostra de agora não é representativa do 2º grau como um
            todo, ela se caracteriza por um grupo que quer entrar no ensino
            superior", disse o ministro Paulo Renato Souza (Educação).
            As mulheres (62,8%) participaram mais do exame do que os
            homens (35,5%). Elas se saíram melhor na redação, com nota
            média de 49,1, numa escala de 0 a 100. Os homens obtiveram
            média de 40,5.
            Já na prova de conhecimentos gerais, eles foram melhores do que
            elas. Conseguiram nota média de 42,8, contra uma média de 38,6
            das mulheres.
            Como já haviam mostrado resultados de outros exames realizados
            anteriormente, as notas médias aumentam em função da
            escolaridade dos pais e da renda mensal da família.
            A média em conhecimentos gerais dos participantes que tinham
            mãe com nível superior completo foi de 56,6. A média dos
            estudantes cujos pais cursaram da 1ª até a 4ª série do 1º grau foi
            de 35,4.
            Como também já foi mostrado em outros exames, o desempenho
            de quem só estudou em escola particular foi melhor. Eles
            conseguiram média de 60,5 em conhecimentos gerais, enquanto
            os da escola pública obtiveram 36,7.
            Os que estudaram apenas de dia também conseguiram médias
            mais altas (46,3) do que os que estudaram à noite (33,9).
            A participação em grupos sociais também é pequena. Estão
            ausentes de grêmios estudantis 78,2% dos alunos e 84,7% não
            participam de movimentos sociais. Os grupos religiosos são os
            que mais concentram estudantes (80,6%).
            (BETINA BERNARDES)

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Maioria quer uma vaga em universidade

            GILBERTO DIMENSTEIN
            do Conselho Editorial

            Reflexo das novas demandas profissionais, uma avalanche jamais
            vista de estudantes do ensino médio (antigo 2º grau) tem o sonho
            de entrar na faculdade -mas vai se frustrar pela simples razão de
            que são escassos os cursos noturnos nas universidades públicas.
            O Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) aplicou um
            questionário entre os 115.575 inscritos, numa tentativa de traçar o
            perfil do estudante: seus sonhos, projetos de vida, atividades
            sociais, crenças religiosas.
            Dos participantes do exame, quase todos informaram o desejo de
            seguir os estudos, pulando para algum tipo de ensino superior.
            A maioria dos estudantes do ensino médio exerce alguma
            atividade profissional de dia -logo, só poderiam estudar à noite.
            O problema é que, segundo o Ministério da Educação, 82% das
            vagas disponíveis nas universidades públicas federais exigem que
            o aluno frequente aulas diurnas; a maior oferta de vagas noturnas
            está nas particulares.
            As particulares -em geral, de qualidade inferior- oferecem a
            barreira da mensalidade, proibitiva para uma imensa parcela
            daqueles que desejam algum tipo de ensino superior.
            "As universidades devem aumentar a oferta de vagas noturnas",
            sugere o ministro Paulo Renato Souza, convencido de que há
            muito professor para pouco aluno nas universidades brasileiras.
            De 1994 a 1997, aumentaram em 45% as matrículas do 2º grau;
            no superior, 25%. Daí se vê o gargalo.
            O desemprego é a preocupação da quase totalidade dos alunos
            do 2º grau: 94,7%. São altas também as preocupações com
            pobreza, meio ambiente e Aids.
            É notável uma desconexão entre as preocupações e a forma de
            encaminhá-las economicamente. Apenas 36,8% se interessam por
            economia.
            É uma geração individualista. Não gosta de participar de ações
            comunitária e seu sonho (98,5%) é ter um "bom" trabalho.
            O exame mostrou, mais uma vez, o que já se sabia, revelando as
            dificuldades de ascensão dos alunos de famílias mais pobres.
            Quem vem de famílias com renda mensal superior a 10 salários
            mínimos exibe uma pontuação muito superior, comparado aos de
            família entre 1 e 6 mínimos.
            Quem tem pais com escolaridade mais alta também vai melhor;
            alunos de escolas privadas levam vantagem sobre os das públicas.

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Jornal da Tarde

Se ficar o bicho pega

                   Gildo Marçal Brandão

                   Ainda não se tem idéia dos estragos que as disputas políticas recentes
                   causaram ao governo federal. Em parte pela aposta suicida na manutenção
                   da política econômica, em parte pela defenestração da equipe que estava
                   articulando uma correção de rumos na ação governamental, em parte pelo
                   decorrente fortalecimento da ala “liberista” às expensas da “produtivista”, o
                   fato é que cresceu enormemente a possibilidade de o segundo mandato do
                   presidente acabar em fracasso.

                   O problema reside em que Fernando Henrique Cardoso tinha um programa
                   para o seu segundo governo e o perdeu. Do mesmo modo que se elegeu
                   com uma proposta de controle da inflação, o presidente recebeu um
                   segundo mandato para compatibilizar a estabilidade econômica com a
                   recuperação do crescimento econômico e com combate ao desemprego. A
                   execução desse programa só seria possível num acordo em que a
                   renegociação internacional promovida pelo ministro Pedro Malan estivesse
                   acoplada à preparação das condições para a retomada do
                   desenvolvimento, a ser posta em prática por meio do tal Ministério da
                   Produção.

                   A situação atual, em que o presidente perde os homens que seriam os
                   executores do novo programa, não apenas afeta o governo em geral, mas o
                   próprio papel do presidente. De fato, este é e se concebe a si mesmo
                   como o “administrador do atraso” a serviço do progresso que ele
                   representaria, o árbitro entre os interesses heterogêneos representados em
                   sua coligação. Nesse sentido, para ser Fernando Henrique ele precisa ter
                   dois lados (colaboradores íntimos, partidos, agentes da política
                   econômica, etc.) disputando entre si o tempo todo, e o fortalecimento
                   excessivo de um deles cria uma situação em que será obrigado a
                   rearrumar o lado derrotado ou ficar prisioneiro do vencedor. Ora, o
                   presidente é sabidamente um intelectual e tinha fama de mau político, mas
                   ao longo do tempo tornou-se um profissional que intimamente deve se
                   divertir quando consegue ser mais raposa do que os políticos que
                   desprezam os intelectuais. O preço disso é que se transformou num
                   realpolitiker que tende a fazer apenas o que a correlação de forças interna
                   à “classe política” o permite. O lado do político que quer fazer a história do
                   Brasil pós-moderno, assim como Vargas marcou o Brasil moderno,
                   seguramente não desapareceu, mas acaba sendo tão postergado (a não
                   ser quando dá entrevistas provocando os intelectuais) que passa a
                   impressão de acreditar que isso será decorrência natural da administração
                   do condomínio habitado pelos que “realmente contam”, os Antônio Carlos
                   Magalhães, os Jáder Barbalho, os Michel Temer, os Inocêncio Oliveira, os
                   Tasso Jereissati, etc.

                   Um governo sem programa político, enfim, corre o risco da “sarneyzação”.
                   Fazer uma reforma ministerial consagrando o equilíbrio de forças atual é
                   condenar-se a ficar prisioneiro do PFL e de Antônio Carlos Magalhães.
                   Optar pela política do “feijão-com-arroz” é antecipar a disputa por 2002. A
                   alternativa que resta ao presidente, a meu ver, é reconstruir suas alianças
                   por fora, pela sociedade, apostando em governadores como Mário Covas e
                   Tasso Jereissati, não sabotando o florescimento de experiências de
                   centro-esquerda – como o diálogo entre o PT e o PSDB paulistas ou uma
                   eventual coligação em torno da Prefeitura de São Paulo; ou o sucesso de
                   um governo como o de Anthony Garotinho, no Rio de Janeiro, que pela
                   primeira vez compromete o PT com um governo que não é dele, confinando
                   o radicalismo ao Rio Grande do Sul – e, finalmente, reaproximando-se da
                   universidade pública e dos intelectuais que seu governo hostilizou no
                   primeiro mandato.

                   Pode ser que essa estratégia esteja alguns furos acima das possibilidades
                   imediatas. De qualquer maneira, com a base política atual e sem programa
                   o governo afunda. O esquema de apoio do presidente foi bom para
                   executar reformas liberalizantes e exacerbá-las na direção do liberismo,
                   mas não presta para preparar o caminho para a retomada do
                   desenvolvimento. Urge modificá-la.

                   Gildo Marçal Brandão é professor do Departamento de Ciência
                   Política da USP
 

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Chega de baixarias na TV

                 Roque Spencer Maciel de Barros

                 Enquanto a Câmara Municipal de São Paulo, por proposta do vereador Viviani
                 Ferraz, do Partido Liberal (?), concedeu o título de “Cidadão Paulistano” ao sr.
                 Carlos Massa, vulgo Ratinho, sem que esse verdadeiro deboche tenha
                 merecido a repulsa generalizada dos meios de comunicação, pelo menos da
                 imprensa escrita (exceção, pelo que sabemos, do Caderno de Variedades
                 desta folha), o senador Artur da Távola, presidente da Comissão de Educação
                 do Senado, elaborou um Parecer, na forma de um Projeto de Decreto
                 Legislativo, com o objetivo de coibir, de maneira mais enérgica do que até
                 agora tem sido feito – se é que se fez alguma coisa –, o festival de autêntico
                 desrespeito humano e de atentado à cultura, ao bom gosto e ao bom senso
                 ao que boa parte de nossa programação televisiva se vem consagrando.

                 O senador Artur da Távola leva devidamente em consideração o clamor de
                 vários setores da sociedade “contra a veiculação de programação medíocre,
                 em que prevalecem cenas de violência, permissividade e sensacionalismo,
                 com total desrespeito aos direitos e valores do público consumidor (...) o
                 desfile diuturno de sexo e violência, a dramatização do cotidiano do miserável,
                 a exploração do grotesco fazem parte do cardápio que tem dominado as telas
                 das emissoras de televisão. Gêneros massificados, simplificados e
                 formatados (sic) para consumo em larga escala, que significam retorno
                 financeiro rápido e seguro, têm lugar cativo na busca desenfreada pela
                 conquista da audiência”. Exemplificando com a programação do SBT, chama
                 a atenção para o peso cada vez mais reduzido que ela atribui aos programas
                 informativos e aos infantis. Enquanto isso, continua, “cresce o apelo fácil à
                 ideologia do dinheiro no cerne de alguns programas de auditório, os exageros
                 e concursos de sorteio e de prognóstico”. E essa característica, acentuemos
                 nós, não é privilégio do SBT, não só com o programa do Ratinho, mas com o
                 dono da emissora e outros, outros, mas atinge a Record, com o seu Leão
                 Livre, e a própria Globo, com o seu Domingão do Faustão e a chulice de
                 algumas novelas.

                 A conclusão do Parecer do senador, que exige o respeito aos dispositivos
                 constitucionais para a renovação da concessão concedida a uma emissora de
                 tevê – o que acontece pela primeira vez no País e já tardiamente –, foi
                 aprovada pela Comissão de Educação do Senado, acentuando o relator que “é
                 preciso que o Congresso deixe de considerar o pedido de renovação de
                 concessões como meros pretextos de formalidades técnicas”.

                 É verdade que, nos últimos dias de novembro, o Tribunal de Justiça confirmou
                 decisão da 14.ª Vara Civil, proibindo algumas deformações mais gritantes do
                 mencionado programa do “Cidadão Paulistano”. Mas tanto o Parecer do
                 senador tucano quanto essa decisão da Justiça são uma primeira e tardia
                 resposta dos poderes constituídos às exigências da opinião mais esclarecida
                 do País e realmente preocupada com a deterioração dos costumes e o
                 desrespeito humano veiculados pelas emissoras de tevê. Mas isso não basta.
                 É preciso que todas as concessões a renovar levem em conta, com rigor, os
                 preceitos constitucionais. O que não é uma forma de censura, mas um basta
                 ao desregramento e ao desrespeito à lei maior do País. Vamos descambando
                 perigosamente para um autêntico estado de anomia, marcado pela violência
                 desenfreada, pela permissividade e pela impunidade, como se uma nação
                 pudesse sobreviver sem o mínimo de dignidade e de respeito a padrões
                 morais formados a partir da noção de sacralidade da pessoa, como um fim
                 em si mesma, e não como instrumento de organizações ou indivíduos que só
                 têm olhos para o lucro a qualquer custo, substituindo os legítimos valores do
                 capitalismo liberal pelos espúrios procedimentos dos fora-da-lei.

                 Roque S. M. Barros é professor de Filosofia da Educação e autor de
                 “Introdução à Filosofia Liberal”

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Veja

Tupi or not tupi

             Professor tenta salvar o ensino da língua
             falada no Brasil dos séculos XVI e XVII

             Bruno Paes Manso
 

                                               Eduardo Navarro e
                                               a gramática tupi do
                                               padre José de Anchieta:
                                               a escrita é a única
                                               maneira de conhecer
                                               o passado nacional
               Foto: Egberto Nogueira
 
 

                           Se Fernando Henrique Cardoso
                           proferisse em Portugal a frase "Chega
                           desse nhenhenhém neoliberal", como
                           fez ao responder aos que criticavam
                           seu governo, provavelmente não seria
                           entendido. Nhenhenhém vem do tupi
             e quer dizer conversa jogada fora. Um turista brasileiro
             que contasse a um moçambicano que "chorou as
             pitangas" também correria o risco de encontrar no rosto
             de seu interlocutor um grande ponto de interrogação. "Estar jururu",
             cabelo "pixaim" e ficar na maior "pindaíba" são outros exemplos de
             expressões ininteligíveis para lusófonos não-brasileiros. Os brasileiros
             quase não percebem, mas o português que falam é em grande medida
             tributário do idioma tupi, falado pelos aborígines que Pedro Álvares
             Cabral encontrou na Terra de Santa Cruz há 500 anos. Nada menos que
             20.000 dos vocábulos dicionarizados no Brasil têm origem tupi. No
             entanto, os estudiosos da língua são uma espécie em extinção. Único
             especialista que se dedica ao ensino do tupi antigo, o professor da
             Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo Eduardo Navarro
             resolveu tomar uma providência que funcionou muito bem para salvar
             bichos como a ararinha azul ou o mico-leão-dourado. Fundou uma ONG,
             a Tupi Aqui, com a qual pretende formar 100 professores do idioma até o
             ano 2004. Não é por diletantismo que Navarro se dedica à causa. "Não
             será possível entender os 250 primeiros anos da História do Brasil se essa
             língua se perder", diz.

             Ele tem razão. O tupi antigo era a língua comum às populações nativas do
             Maranhão até o Paraná, formando uma grande unidade cultural. O verbo
             îepotar, por exemplo, era empregado quando alguém estava chegando
             por mar, tanto a Porto Seguro quanto a São Vicente. Apesar do
             entra-e-sai constante de caravelas estrangeiras, o tupi resistiu nesse vasto
             território por séculos. Era a língua brasílica por excelência. Essa é uma
             peculiaridade da colonização portuguesa, porque em vez de massacrar
             qualquer manifestação cultural nativa, como fizeram os espanhóis no
             restante da América Latina, o que aconteceu no Brasil foi uma espécie de
             colonização do colonizador. A explicação para isso é que o modelo
             português de ocupação do território se baseava em casamentos mestiços,
             as mulheres sendo tomadas nas tribos indígenas. Como eram elas que
             educavam os filhos, naturalmente o tupi tornou-se a língua de adoção dos
             primeiros descendentes dos europeus em terras brasileiras. O processo de
             aculturação dos lusitanos foi tão forte que o padre Antônio Vieira já o
             notou em pleno século XVII. "É certo que as famílias dos portugueses e
             índios de São Paulo estão ligadas umas às outras e que a língua que nas
             ditas famílias se fala é a dos índios. E a portuguesa, a vão os meninos
             aprender à escola."

                           O indício mais generoso dessa assimilação cultural
                           aconteceu quando os portugueses sistematizaram uma
                           gramática e uma linguagem escrita para o tupi. Sem
                           esses dois elementos, alguns dos mais importantes
                           traços culturais dos índios da época do Descobrimento
                           teriam desaparecido, já que os nativos quase não
                           deixaram construções, registros ou objetos resistentes à
                           ação do tempo. Graças ao padre José de Anchieta e a
                           seus companheiros da Companhia de Jesus, muitas
             cartas e relatos de época foram escritos na língua original. Uma Bíblia foi
             vertida para o tupi por um missionário holandês e calvinista. Os momentos
             que precederam a Batalha dos Guararapes, em que se enfrentaram índios,
             portugueses e holandeses, também foram analisados em cartas escritas na
             língua. Foi em tupi que os bandeirantes desbravadores se comunicaram. É
             por isso que tantos Estados, municípios e rios têm nomes de origem
             indígena. Pernambuco é "mar com fendas", uma referência aos arrecifes.
             Paraná é "mar". Pará é "rio". Piauí é "rio de piaus", um tipo de peixe.
             Sergipe é "no rio do siri". Paraíba é "rio ruim". Tocantins é "bico de
             tucano".

             O terrível Domingos Jorge Velho, um dos responsáveis pelo aniquilamento
             do Quilombo dos Palmares, não sabia falar português, segundo o relato de
             um bispo da época. O ano era 1697 e as tropas paulistas que haviam
             massacrado Zumbi só falavam em tupi. Mesmo escritores que se
             notabilizaram por sua literatura em português conheciam — e bem — o
             idioma indígena. Foi o caso do padre Antônio Vieira e de Gregório de
             Matos. A língua tupi foi aquela em que se comunicaram, até meados do
             século XVII, as melhores famílias quatrocentonas brasileiras. Versos do
             poeta Gregório de Matos chegavam a ironizar o vernáculo da elite de
             Salvador: "A coisa como ser um paiaiá, mui prezado de ser caramuru,
             descendente de sangue de tatu, cujo torpe idioma é o cobepá", brincou
             Matos no século XVII. O escritor Sérgio Buarque de Holanda relatou no
             clássico Raízes do Brasil que, em um inventário feito numa repartição
             pública paulista em pleno século XVII, foi necessária a participação de um
             intérprete porque a herdeira não sabia uma palavra de português.

             Com tal força cultural, o tupi comportava-se como qualquer língua viva.
             Incorporava novos vocábulos, gírias, expressões idiomáticas,
             particularmente as originárias do próprio português e do idioma
             quimbundo que era falado pelos escravos africanos. Foi assim que o tupi,
             na origem uma língua desprovida de tempos verbais, desenvolveu também
             desinências indicativas de presente, passado e futuro. A falta dessas
             desinências não significa que se tratasse de um idioma menos sofisticado.
             Basta lembrar que o mandarim, a principal língua falada na China, velha
             em mais de 5.000 anos, também não tem tempos verbais. Como eles
             sabem então quando se passa a ação? Pela adição à frase de um advérbio
             de tempo. Era assim também com o tupi.

             Outra modificação importante pela qual passou a língua nativa foi a
             inclusão de numerais acima de quatro. Os índios só identificavam os
             números 1, 2, 3, 4 e "muitos". Para dizer que dez jacarés estavam no rio,
             diziam "minhas mãos". Vinte, "minhas mãos e meus pés". Os pronomes
             demonstrativos também mudaram. Para os índios, que viviam entre animais
             selvagens, era importante ter um termo que indicasse quando algo estava
             próximo e podia ser visto. Outro para quando estava próximo mas não
             visível. Na língua modificada, aquela que se tornou a forma de expressão
             do mameluco, o mestiço brasileiro, o pronome caiu em desuso.

             Foi pela força de um decreto que o tupi
             perdeu terreno para o português. Em 1758,
             o marquês de Pombal, interessado em
             solapar o poder da Companhia de Jesus no
             Brasil e em aumentar o domínio da
             metrópole portuguesa sobre a colônia de
             ultramar, proibiu o ensino e o uso do tupi.
             Iniciou-se um longo declínio. Até meados
             do século XIX, redutos no interior de São
             Paulo ainda se expressavam em tupi, e o
             idioma transformou-se em bandeira
             nacionalista. Foi assim com o romantismo
             da literatura de José de Alencar e
             Gonçalves Dias, que faziam apologia dos heróis selvagens. Nos anos 20, o
             movimento modernista ironizava a mistura da cultura européia com a
             brasileira por intermédio do dístico "tupi or not tupi".

             Os últimos suspiros da língua dos antepassados aconteceram nos anos 30
             e 40, durante a era Vargas, sob o influxo do nacionalismo em voga na
             época. Não por acaso, a saudação integralista "Anauê" era tomada do
             tupi. Significa "você é meu parente". Nesse período, o idioma indígena
             ganhou cadeiras nas universidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.
             Era ensinado segundo a gramática de José de Anchieta. Em 1955, o
             presidente Café Filho obrigou todas as faculdades de letras a incluir um
             curso de tupi. Durante a década de 70 inteira e até os dias atuais, com a
             cultura indígena massacrada pelos projetos de desenvolvimento, a idéia de
             ensinar o tupi passou a ser mais desvalorizada do que a de ministrar cursos
             de sânscrito ou grego arcaico. É essa noção que o professor Navarro
             pretende corrigir. Não para conhecer melhor os índios que moravam no
             Brasil. Mas para conhecer melhor os brasileiros.

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Época

Nossa língua renasce

                    Os brasileiros estão tratando melhor o idioma que neste ano
                    deu o Nobel ao escritor português José Saramago

 

                    10 erros poluem o texto principal desta reportagem, além dos
                    termos entre aspas. Localize-os para avaliar seu português e
                    confira as respostas no final.

                       Nos bares e nas lanchonetes de São Paulo e do Rio de Janeiro,
                       torna-se cada vez mais difícil encontrar um bom "mixto-quente", com o
                    "x" no lugar do "s", ou um saboroso "baurú", com o dispensável acento
                    agudo no "u" final, tradicionais erros ortográficos dos cardápios brasileiros.
                    É bem verdade que, caso a pessoa se afaste dos grandes centros, sempre
                    poderá encontrar aquele modesto paradouro de beira de estrada que
                    anuncia: "Os prato p/viajem, é cobrado à embalajem". Mas, apesar dos
                    pesares, a situação vai melhorando aos poucos.

                    O primeiro Nobel literário para a sexta língua mais falada no mundo - o
                    português -, entregue na quinta-feira 10 ao mais festejado entre seus cerca
                    de 200 milhões de usuários vivos, o escritor José Saramago, coincide no
                    Brasil com um fenômeno de revalorização da palavra em diversos setores
                    da sociedade. A tese corrente de que as gerações mais jovens não querem
                    mais saber de ler e escrever é contestada por Maria Thereza Fraga Rocco,
                    professora titular da Faculdade de Educação da USP. Ela realiza pesquizas
                    periódicas com textos de vestibulandos desde 1977, ano em que o tema
                    "Nenhum homem é uma ilha", retirado de um poema do inglês John Donne
                    (1572-1631), marcou a volta da redação ao vestibular da USP e anunciou o
                    crepúsculo da famigerada "era da cruzinha", apelido depreciativo para os
                    testes de múltipla escolha. Concluiu-se que, dessa época até 1994, os
                    mais alarmantes problemas de escrita foram sanados: a fuga ao tema caiu
                    de 98% para 5%; o uso de clichês e frases feitas, de 70% para 15%; e a
                    quebra de coesão e a falta de coerência reduziram-se drasticamente.

                    "A falsa impressão de que as novas gerações
                    falam e escrevem pior deve-se ao fato de que a
                    democratização do ensino abriu as portas das
                    escolas para a linguagem das classes
                    populares", sustenta o professor paulista
                    Francisco Moura, que ensina redação a
                    vestibulandos e é autor de uma das mais
                    difundidas coleções didáticas de Língua e
                    Literatura para o curso medio. "A partir dos
                    anos 70, as escolas deixaram de falar apenas
                    a norma culta da elite, que padroniza o idioma, mas não é a única válida." E
                    Cilene da Cunha Pereira, professora de Língua Portuguesa da Universidade
                    Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem posição semelhante: "Não que as
                    pessoas estejam escrevendo pior, o que existe é maior consciência da
                    necessidade de se expressar adequadamente".

                    Maria Thereza Rocco detecta sinais de avanço no ensino médio, em que se
                    firma a tendência contemporânea de o professor não ser mais o único leitor
                    das redações de seus alunos. "Os adolescentes da sétima e oitava séries
                    têm grande satisfação em ter seus textos lidos pelos colegas, que
                    escolhem os melhores para mostrar a outras classes", diz ela.

                    Recém formados no ensino médio pelo Colégio Palmares, de São Paulo,
                    Gabriel D'Ambrosio Franca, Nadja Woczikosky Marin e Fabiano Tiba, todos
                    de 17 anos, fazem parte dos cerca de 25% de estudantes que se atrevem a
                    gostar de ler e escrever tanto quanto de namorar ou tomar chope.
                    Produzem textos brilhantes, por iniciativa própria, e mesmo nas férias
                    prezam a companhia de alguns senhores respeitáveis como Machado de
                    Assis, Guimarães Rosa, Kafka ou Saramago. "Os livros são aquilo que
                    sobrou", diz Nadja. "As pessoas andam muito individualistas e a leitura as
                    faz buscar um elo comum em torno daquilo que nunca é falado."

                    Mesmo fora do âmbito escolar, pêlos muitos caminhos da vida profissional
                    e cotidiana, encontram-se indícios de que a estima pela língua portuguesa
                    nem sempre tem ranço passadista. "As pessoas estão descobrindo que o
                    bem falar faz parte do perfil do profissional de hoje", afirma Sérgio Nogueira
                    Duarte, que atua no Rio como consultor de empresas (inclusive de
                    comunicações) sobre questões vernáculas e critérios de escrita. Dá
                    palestras pelo Brasil todo. O florescimento desse mercado ocorreu de seis
                    anos para cá. Foi quando as empresas brasileiras começaram a adotar as
                    normas internacionais para gestão de qualidade preconizadas na norma
                    ISO 9000. "Antes elas só investiam em cursos de informática e inglês",
                    recorda Duarte. "Mas hoje, se têm verba para treinamento, lá vem
                    português." Por conta disso, técnicos mais afeitos a números viram-se na
                    continjência de produzir material escrito de sua própria lavra como tarefa
                    cotidiana. É uma curiosa repetição do Brasil de um século atrás. No tempo
                    de Machado, mesmo os mais simples praticavam a escrita como quem
                    toma cafezinho, apesar da ortografia caótica. Como não havia telefone, todo
                    mundo se comunicava por bilhetinhos.

Hoje, em plena era do correio eletrônico, o superstar da mídia em questões
                    vernáculas é o professor Pasquale Cipro Neto. Seus programas na rádio e
                    na TV Cultura de São Paulo atraíram o interesse de Dorian Taterka,
                    presidente e diretor de criação da agência que cuida das campanhas da
                    rede de lanchonetes McDonald's. O publicitário resolveu convidá-lo para
                    apresentar uma série de comerciais do Big Mac apresentados em 20
                    estados brasileiros. Foram sete filmes só em 1998. O tema principal é
                    sempre a língua portuguesa.

                    O público, tem demonstrado crescente interesse por manuais de redação
                    que uma década atrás eram destinados apenas ao uso interno dos
                    principais jornais e revistas brasileiros. O do jornal O Estado de S. Paulo,
                    por exemplo, de autoria de Eduardo Martins, já vendeu cerca de 300 mil
                    exemplares desde sua distribuição às livrarias, em agosto de 1990, época
                    em que permaneceu um ano na lista de best-sellers. O CD-ROM Nossa
                                              Língua Portuguesa, lançado em
                                              novembro de 1997 pela Publifolha e
                                              apresentado por Pasquale Cipro Neto,
                                              em um ano chegou a marca de 45 mil
                                              unidades vendidas.

                                              A proliferação de publicações,
                                              programas e colunas de jornal voltados
                                              para o aprimoramento da língua
                                              portuguesa encontra correspondência
                                              em duas iniciativas semelhantes na
                                              área legislativa das maiores cidades do
                    país. O vereador Vicente Viscome, de São Paulo, e a deputada estadual
                    Alice Tamborindeguy, do Rio, propõem multas por erros ortográficos
                    expostos em cartazes, faixas, letreiros e placas em locais públicos e
                    também a criação de postos de apoio para as pessoas que precisam sanar
                    dúvidas ortográficas.

                    A verdade é que ninguém está livre de derrapar na curva. Apesar das
                    melhoras, o olhar atento acha êrros por todos os lugares. Implacável
                    caçador de aberrações, o artista gráfico carioca Cássio Loredano chegou ao
                    extremo de trocar o pediatra da filha ao ler na receita que determinado
                    remédio devia ser tomado "há" (sic) cada 4 horas. E não esquece que um
                    grande jornal noticiou que um zagueiro do Botafogo, após fazer um golaço,
                    fora cercado por torcedores "estéricos", em vez de "histéricos".

                    Pode-se maltratar a língua até mesmo quando se pensa em dar uma
                    enfeitada. Bom exemplo é o de professores da PUC paulista que há alguns
                    anos espalharam locuções verbais do tipo "vamos estar chamando", em vez
                    de "chamaremos". Derivado do inglês ("we'll be calling"), esse esdrúxulo
                    "futuro do gerúndio" virou praga nos meios cultos como se fosse um toque
                    de classe. É o equivalente dos comentaristas de futebol que adotaram
                    "essa bola", em vez de simplesmente "a bola", como se houvesse mais de
                    uma em jogo. Já as telefonistas cariocas consagraram expressões como "o
                    diretor está reunido" querendo dizer que ele "está em reunião".

                    Convenhamos, não é certeza que o quadro deva melhorar como
                    consequência direta das iniciativas de valorização do português. "Esses
                    programas que existem no rádio e na TV são positivos porque fazem as
                    pessoas se preocupar com a língua", admite Francisco Moura. "Mas não
                    ensinam ninguém a escrever, porque não é a gramática que conta." A idéia
                    é endossada pelo filósofo Luiz Paulo Labriola, assistente de direção do
                    ensino médio em uma grande escola de São Paulo e crítico implacável dos
                    cursinhos e até da prova de Português do vestibular da Unicamp, referência
                    para o país inteiro. "Os pré-vestibulares fazem a simples formatação
                    intelectual do estudante dando a ele uma série de dicas práticas do domínio
                    discursivo para tornar seu texto mais legível: tamanho do parágrafo, número
                    de exemplos, tipo de metáfora mais atraente e assim por diante", diz
                    Labriola. "Lidam com a burocracia, não com o espírito da escrita. Não se
                    trata apenas de colocar no papel aquilo que o autor pensa mas também de
                    estimulá-lo a pensar, de criar um canal para a reflexão. Escrever é atividade
                    de mão dupla."

                    Licenciado em Letras e famoso professor em Porto Alegre antes de entrar
                    na política, o hoje senador José Fogaça recorda: "Na década de 60, quando
                    eu ainda dava aulas de Português, já se falava na perda do domínio da
                    língua culta". E reflete: "É verdade que agora já não surgem escritores e
                    pensadores com a mesma abundância do passado, mas a comunicação
                    escrita permanece como fonte de prazer e refúgio para a angústia humana,
                    como algo necessário a nossas opções emocionais".

                    Por mais que se promova e incentive a boa prática da língua portuguesa
                    entre as novas gerações, isso não basta para avalizar a idéia, defendida por
                    alguns, de que ela (como o chinês) estaria fadada a conquistar no próximo
                    século uma importância compatível com o número de seus usuários.
                    "Precisamos de uma estratégia para sobreviver, pois corremos o risco de
                    ser varridos por um vendaval, como aconteceu com o francês", adverte José
                    Saramago, traduzido para 30 línguas. "Mas essa estratégia não implica um
                    padrão ortográfico único. Ainda que o Brasil tenha papel excepcional, todos
                    os países de língua portuguesa devem ser levados em conta." Saramago
                    não é uma voz isolada nas críticas à reforma ortográfica na Comunidade
                    dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), aprovada em julho mas ainda
                    sem data para entrar em vigor. Muitos intelectuais consideram coisa de
                    gabinete a tentativa de fazer sete navios lusos navegar sob a mesma
                    bandeira.

                    O único concenso é que o futuro do português entre as demais línguas está
                    atrelado ao desempenho econômico do Brasil, país que concentra 79% da
                    comunidade lusófona. Por enquanto, essa expansão é restrita, porém
                    significativa. Desde o início da década, o número de estudantes de
                    Português vem aumentando nos Centros de Estudos Brasileiros que
                    funcionam nos demais países do Mercosul. No Paraguai, por exemplo, eles
                    quintuplicaram. Já na Europa nada mudou. Mas a marginalidade da língua
                    não impede que, correndo quase pelo acostamento da estrada aberta por
                    Saramago depois do prêmio, Clarice Lispector comece a seduzir os
                    franceses e Machado de Assis esteja sendo traduzido para o catalão. "A
                    literatura brasileira vem influenciando não só escritores de Portugal como
                    também de suas ex-colônias africanas", ressalta o tradutor e escritor
                    carioca Marco Lucchesi. E completa: "Ela é forte porque tem a altitude dos
                    edifícios de São Paulo e a profundidade abissal dos sertões".

                                                                Renato Modernell
 
 

Entrevista
                     O incansável Antônio Houaiss

                     O patriarca da língua promete um superdicionário

                     Época: Nossa língua perde espaço no cenário mundial?
                     Antônio Houaiss: Ela não está conseguindo criar os elementos
                     necessários para competir com as grandes línguas de cultura. Mas sou
                     otimista por saber que a hegemonia desta ou daquela língua tem sido
                     sempre um fato transitório.

                     Época: A atual predominância do inglês é uma ameaça às outras
                     línguas?
                     Houaiss: Hoje 1,2 bilhão de pessoas fala inglês, que faz a função de
                     segunda língua tanto no Ocidente quanto no Oriente. Nunca houve algo
                     assim na História da humanidade. Por uma questão de biodiversidade,
                     isso não é bom. Porém, o fenômeno lingüístico, por sua própria
                     natureza, é diversificante. No Brasil, o tupi já foi a língua geral num
                     dado momento, mas também era altamente diversificado.

                     Época: Já que a diversificação é natural e desejável, por que o senhor
                     apóia a unificação ortográfica da língua portuguesa?
                     Houaiss: Porque ela tende a colocar certo freio nessa tendência
                     caótica da diversificação, mas nunca é completa. Preserva sempre a
                     diversidade cultural. Cabe lembrar que uma língua não é apenas sua
                     norma culta, mas também suas formas populares.

                     Época: Quem são as pessoas que melhor tratam a língua portuguesa?
                     Houaiss: Os escritores artísticos, inerentes às modernas línguas de
                     cultura. Por que preciso de um Guimarães Rosa? Por que Saramago
                     desperta tanto entusiasmo? Eles não são escritores canônicos. É
                     preciso violar o cânone para criar uma obra original, o que representa
                     uma obsessão da humanidade.

                     Época: Fora dos livros, o português falado e escrito se degradou muito
                     no Brasil?
                     Houaiss: Minha impressão é de que, apesar de tudo, as condições
                     gerais melhoraram. Não devemos esquecer que no século 19, em São
                     Paulo, nem na família se falava a língua geral. De lá para cá a
                     unificação do português tem sido notável no Brasil.

                     Época: Por que se cometem tantos erros de português na vida
                     cotidiana?
                     Houaiss: É impossível pensar num povo culto que não esteja a par dos
                     fenômenos universais. Uma língua de cultura supõe um povo culto.
                     Temos um ensino superior muito medíocre. Mas temos de pacientar
                     nesse ponto. Devemos transformar tais deficiências num objetivo a ser
                     superado no Brasil. Tenho a impressão de que é possível. Esse
                     otimismo se deve à imprevisibilidade da História, que sintetiza minha
                     posição perante o mundo de hoje.

                     Época: Como se sente na posição de patriarca da
                     língua no Brasil?
                     Houaiss: Sinto-me um devedor. Meu compromisso
                     é dar um passo à frente na lexicografia. Quero ver
                     se até o ano 2000 edito um grande dicionário da
                     língua portuguesa, ainda que na forma de
                     CD-ROM. Por isso, sejam quais forem minhas
                     condições de saúde, preciso ficar vivo até lá.
 
 

                    ANTÔNIO HOUAISS
                    Um homem do mundo das letras

                    Traduziu Ulisses, de James Joyce, para o português.
                    Trabalha num dicionário de 300 mil verbetes.
                    Foi ministro da Cultura no governo Itamar Franco.
                    Tem 83 anos, é carioca e vive no Rio de Janeiro.
 

                    Rubro-negros na terra de Machado

                    Mas será que o mestre os entenderia?

                    Os irmãos Marcos Aurélio Justino Ribeiro, 24 anos, e Leonardo Justino
                    Ribeiro, 23, demonstram a linguagem popular num jogo do Flamengo:

                    Leonardo: E aí, irmão? Vamos ao Maraca? Vai ser um sacode do
                    Mengão.
                    Marcos: Demorou. Mas vamos ligar pra alguém da galera pra não voltar de
                    buzum.
                    Leonardo: Mas, se não pintar carona, vale o perrengue assim mesmo. Vai
                    ser um chocolate do Mengão. (...) O Romário meteu um, mas o time tá
                    arroizando ele.
                    Marcos: O jogo tá sinistro.
                    Leonardo: Ih, maluco, olha lá na galera. Tá comendo a porrada. Pararam
                    de vender gelol para estancar, mas não teve jeito.
                    Marcos: Se vier pra cá, a gente vaza voado.

                    Glossário

                    Um sacode = Um espetáculo.
                    Demorou = Significa ao mesmo tempo concordância e satisfação.
                    Buzum = Ônibus.
                    Perrengue = Sufoco, sacrifício.
                    Chocolate = O termo indica que um time foi muito superior ao outro, venceu
                    com folga e justiça.
                    Arroizando = Os demais jogadores do Flamengo estavam apenas "na aba"
                    de Romário, escondendo-se do jogo.
                    Tá sinistro = A situação não é boa.
                    Maluco = Tratamento carinhoso entre amigos.
                    Comendo a porrada = Briga generalizada, fora de controle.
                    Gelol = Cerveja.
                    Vaza voado = Sai correndo, foge.

                                                    Colaborou: Alexandre Medeiros, do Rio
 
 

                    10 correções

                    "Pesquizas", na verdade, é "pesquisas"
                    "Medio" deve ter acento agudo no e: "médio"
                    "Recém-formados" é assim, com hífen
                    "Pêlos" neste caso é preposição: "pelos"
                    "Continjência" é com g: "contingência"
                    "O público...": sem vírgula entre sujeito e predicado
                    "Chegou à marca": o certo é com crase
                    "Êrros" com acento é outro erro
                    "Consequência": faltou o trema, que ainda vale
                    "Concenso" deve ter "s" no meio:"consenso"

                         Fotos: Ana Branco/Ag. O Globo, Denise Adams/Época, Divulgação, André Durão/AE
 
 
 
 
 
 
 
 

 
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