São Paulo, 26 de abril de 1999 n.397/99
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Fim do trabalho infantil pode acentuar empobrecimento do País 
Pesquisa mostra que o trabalho infantil, do qual muitas famílias dependem, não atrapalha significativamente o rendimento escolar e que o seu fim poderia aumentar o empobrecimento do Brasil.
 
Especial: Diretor da Faculdade de Medicina fala sobre o trote
 
Distúrbios do desenvolvimento infantil é assunto de curso na Psicologia
 
Saúde Pública promove curso sobre trabalho infantil e adolescente
 

Destaques 
Renda infantil representa mais da metade de orçamento familiar
        Eliminar o trabalho infantil poderá aumentar a pobreza no País e a participação da criança no trabalho não interfere significativamente no aproveitamento escolar. São informações de uma pesquisa feita por Ana Lúcia Kassouf, professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ da USP, na London School of Economics, Inglaterra, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1995.
        No ano em que foi feita a pesquisa, havia cerca de 4 milhões de crianças, entre 5 e 14 anos trabalhando no Brasil, o que representa mais de 11% da população nesta faixa etária. Entre 5 e 9 anos o número era de 500 mil. Os dados excluem o setor rural da região norte, exceto Tocantins, o que elevaria mais a estimativa. As funções ocupadas pela maioria dos meninos eram de vendedores de rua e balconistas e as meninas trabalhavam principalmente de empregada doméstica, babá e balconista. Na área rural, as atividades se concentravam no setor agrícola, seguido por serviços, comércio, manufaturados e construção.
        A pesquisa mostra que nas escolas, as crianças que trabalhavam tinham boa freqüência nas aulas, em torno de 80% e o nível de aproveitamento delas era muito parecido com as que não trabalhavam. E essas diferenças podiam ser atribuídas a renda familiar, ao nível educacional dos pais, ao tamanho da família e ao local de habitação, conclui a pesquisadora.
        Embora o valor pago ao trabalho infantil seja baixo, menos que 50 centavos por hora, a contribuição do dinheiro da criança para a renda familiar era de extrema importância, chegando a representar, em muitos casos, 40% a 50% da renda total.
        A pesquisa traçou o perfil das famílias que dependem da renda infantil. Cerca de 65% dos membros adultos eram mulheres, acima de quinze anos. Quase 30% dos adultos estavam desempregados, e aproximadamente 55% das mães das crianças não viviam com o marido.
        Segundo Ana, a pesquisa que elaborou não tem objetivo de defender o trabalho infantil, mas verificar características peculiares do setor, além de compilar dados e contribuir para a mensuração do trabalho infantil no Brasil. Haja visto que, também, foram levantados dados negativos, na pesquisa, como a redução do rendimento e do estado de saúde do adulto que começou a trabalhar cedo. E como especialista recomenda que jamais o trabalho infantil deva ser exercido em atividades perigosas, em virtude das diferenças físicas, biológicas e anatômicas. Alerta, ainda, que locais e utensílios não adaptados para crianças podem levar a problemas ergonômicos e fadiga, além de acidentes.
        Mais informações com a pesquisadora Ana Lúcia Kassouf pelo telefone (019) 422-7194 ou pelo e-mail alkassou@carpa.ciagri.usp.br.
Diretor da Medicina reafirma que calouros que participaram do trote serão punidos
        O trote sempre foi uma preocupação da direção da Faculdade de Medicina (FM) da USP. Para tanto, a instituição já vinha estudando formas de acabar com o procedimento. Segundo o professor Irineu Tadeu Velasco, diretor da Faculdade, "o fim do trote não pode ser determinado apenas com um decreto. Trata-se de um problema de educação. Quando se proíbe dentro da Faculdade, eles podem fazê-lo fora. Não adianta pôr a polícia aqui e dizer não vai haver trote. Nós temos que começar um processo agora, envolvendo os pais e representantes da sociedade. A imprensa também poderá colaborar muito", diz. Ele conta que, quando presidente do Centro Acadêmico da Santa Casa acabou com o trote por iniciativa dos alunos. "Só que acabou voltando, porque não existe uma continuidade desses programas".
        Aproveitando o movimento da reitoria da USP, a Semana do Trote Cívico, a programação de recepção aos calouros deste ano já previa atividades como doação de sangue, visitas à Cidade Universitária e palestras sobre o currículo da Medicina. A primeira palestra, feita pelo próprio Velasco, abordou o humanismo na Medicina. Havia a preocupação de colocar para os novos alunos a mudança do currículo meramente médico para um voltado também para a parte humanística da medicina.
        O trote, segundo o diretor, não fazia parte da programação. A confraternização dos alunos aconteceu na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, que não tem relação nenhuma com a Faculdade. É um terreno da prefeitura, cedido em comodato para o Centro Acadêmico, onde funciona o clube que também vende títulos para moradores da redondeza.

Sindicância
        Velasco diz que, apesar disso, existiu o fato da morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh. A congregação da FM se reuniu logo no dia seguinte e decidiu acabar com o trote. Além disso, montou uma Comissão de Sindicância com a participação da reitoria da USP. "Nós não afastamos a hipótese de homicídio. Mas, como diretor, não posso aceitar que digam que todos os alunos da FM são assassinos!".
        Todas as informações apuradas pela FM sobre o caso foram entregues à polícia. "As cartas dos alunos foram solicitadas por nós e enviadas. Sobre as fitas de vídeo, nós avisamos a promotora que elas existiam e pedimos que as requisitasse. Não contestamos o laudo em nenhum momento. Apenas explicamos, segundo o que foi confirmado pelo legista, o que estava escrito", explica
        O laudo mostrou que não houve espancamento. Com relação ao horário da morte, o laudo diz que "a determinação do tempo de morte é sempre difícil (...) e, segundo alguns autores, impossível de ser determinada nos casos de submersão". O legista explicou que a hora provável seria entre 12 e 16 horas porque encontraram bactérias e elas só se desenvolvem depois de um certo tempo. Mas o corpo ficou exposto ao sol, chegando a atingir uma temperatura de 60 graus. E o calor faz as bactérias se proliferarem.

Pré-julgamento
        O diretor acredita que a morte tenha ocorrido depois da festa, "porque é pouco provável ver alguém, empurrado ou caindo numa piscina, se afogando, deixar de se atirar e tirar a pessoa. É instintivo, você pula. Haviam quase 200 calouros, além de veteranos. Se você pensar em alguém ou em um grupo de desmiolados — que pode existir e que nós vamos achar —, o mais lógico é que fosse lá pelas 18 horas", analisa.
        De acordo com Velasco, a Comissão de Sindicância, que tinha um prazo até o dia 23, concluiu que aconteceram excessos no trote e solicitou um prazo de mais 60 dias para entregar os resultados finais. "A comissão continua investigando a morte do Edison como uma fonte de informação para a polícia. Mas investiga também o trote. Eu tenho dito que se houver alguém envolvido, ou com a morte ou com alguma violência, nós vamos punir mesmo, independentemente da punição legal. Dependendo da gravidade, haverá suspensão ou expulsão", garante.
        "Eu não posso antecipar nada porque estaria desautorizando a Comissão e atrapalhando o trabalho da polícia. O que faço é solicitar que um professor acompanhe um aluno quando este tiver que prestar depoimento. Primeiro, porque ninguém foi condenado ainda e, segundo, porque eles tem que se sentir tranqüilos e amparados. Se eu falo em humanismo na medicina, devo falar em humanismo para tratar as pessoas", explica Velasco. Ele também afirma que é irresponsabilidade chamar 1.072 alunos de assassinos. "Encontrar no meio deles alguns desequilibrados capazes de aplicar trotes violentos é possível, porque refletem a mesma estatística de desequilíbrio presente da sociedade."
        Irineu Velasco foi diretor clínico do Hospital das Clínicas por quatro anos e é, atualmente, diretor do Pronto-Socorro do HC e da Faculdade de Medicina da USP.

  
Cursos, Seminários e Palestras 

Curso aborda distúrbios do desenvolvimento infantil
        Medicina e Psicanálise na Clínica dos Distúrbios do Desenvolvimento Infantil é tema do curso de atualização que a Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida, entidade ligado ao Instituto de Psicologia da USP (IPUSP), oferece entre 6 de maio e 1o de julho.
        O curso é dirigido a profissionais da Saúde e Educação, e será ministrado às quintas-feiras, das 18 às 20 horas. O Instituto fica na Cidade Universitária, Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, Trav. 4, Bloco 17.
        Mais informações: ( (011) 818-4386 ou 818-4475.

Trabalho infantil e adolescente
        A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP promoverá, de 3 de maio a 28 de junho, das 18 às 22 horas, o curso O trabalho infantil e do adolescente. O evento é destinado a profissionais com formação universitária, interessados ou com responsabilidade em programas de eliminação do trabalho infantil e controle do trabalho do adolescente.
        As inscrições devem ser feitas até 30 de abril, das 9 às 15 horas.
        Mais informações: ( (011) 3066-7787 ou pelo e-mail svalunos@fsp.usp.br .
 
 

Agenda Cultural 

Maria Antonia inaugura exposição
        O Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP abre, às 20 horas do próximo dia 29, a exposição Domingos Seno, que poderá ser visitada diariamente, das 9 às 23 horas, até dia 23 de maio.
        A mostra está em cartaz no 2o andar do Ceuma, que fica na Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo.
        Mais informações: ( (011) 255-5538, ou pelo e-mail mariantonia@edu.usp.br

Programação da TV USP
        Confira a programação da TV USP para a semana de 26 de abril a 2 de maio.
        Panorama USP. "Mundo", o programa abordará a condição da América Latina no mundo a partir da conturbada cena política no Paraguai. "Panorama", traz duas reportagens, uma sobre a exposição Por que Duchamp?, que acontece no Paço das Artes e outra sobre a prevenção de acidentes do trabalho. "Sinapse – SIBI", sobre o Sistema Integrado de Bibliotecas. Essa programação será exibida na segunda (26), quarta (28) e sexta-feira (30), às 6h30, 11 horas, 15h30, 20 horas e 00h30 e no domingo (02), às 6h30, 15h30 e 00h30.
        Ñande Reku Arandu parte 2 (Memória Viva Guarani). Tratará da gravação do CD com canções tradicionais infantis dos índios guaranis do Estado de São Paulo e dos eventos de lançamento realizados em Ubatuba e no SESC Pompéia, em São Paulo.Será exibido na terça (27), quinta (29) e sábado (01), às 6h30, 11 horas, 15h30, 20 horas e 00h30 e domingo (02), às 11 e 20 horas.
        A TV USP pode ser sintonizada pela TV a cabo nos canais 15 ou 73.
        Mais informações: ( (011) 818-4101.
 
 


Livros, Revistas e Publicações 

Autógrafos no Salão Internacional do Livro
        Confira alguns professores da USP que estarão presentes ao Salão Internacional do Livro, no Expo Center Norte, autografando suas respectivas obras:
        Dia 27 de abril, às 16 horas, o professor João Azenha Júnior autografa a Revista Trad Team 5.2, Revista do Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia;
        Dia 28 de abril, às 15 horas, a professora Elina O. Santos assina A Industrialização de Sorocaba;
        Dia 29 de abril, às 15 horas, a professora Lilian Lopondo rubrica Saramago Segundo Terceiros, e, às 19 horas, o professor Eduardo Yázigi autografa sua mais recente obra, Turismo – uma esperança condicional;
        Os autógrafos têm promoção da Humanitas Livraria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O Expo Center Norte fica na Rua José Bernardo Pinto, 333, Vila Guilherme. O endereço do estande é Pavilhão vermelho, Rua L.
        Mais informações: ( (011) 8184612, ou 818-4938
        Internet: http://www.usp.br/fflch/fflch.html;e-mail di@edu.usp.br
 
 


Quadro de Avisos 

Escola de Aplicação abre vaga para coordenador pedagógico
        A Escola de Aplicação da Faculdade de Educação (FE) da USP abriu inscrições para processo seletivo de contratação de Coordenador Pedagógico. Os candidatos devem ter Licenciatura Plena em Pedagogia ou habilitação em Coordenação Pedagógica.
        As inscrições vão até 07 de maio, das 9 horas às 11h30 e das 13h30 às 17 horas, no Departamento Pessoal da FE, que fica na Av. da Universidade, 308, sala3, Bloco A, Cidade Universitária.
 
 


Defesa de Teses 

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Mestrado
        Fatores promotores da participação da comunidade em escolas públicas – um estudo dos procedimentos de gestão em escolas da rede municipal de ensino de São Paulo. Christina Windsor Andrews. Dia 27/4, 14 horas.
        Impaciência endógena: efeitos sobre o crescimento e a desigualdade. Marcos Hiroyuki Tsuchida. Dia 30/4, 10 horas.
        Mais informações: ( (011).818-5811.

Escola de Enfermagem
Mestrado
        Sonda gástrica em recém-nascido pré-termo: estudo das alterações de flexibilidade do polímero constituinte e da caracterização do crescimento bacteriano na cavidade gástrica em 24, 48 e 72 horas de seu uso ininterrupto. Josefa Gardenas Borrel. Dia 29/4, 14 horas.
        Mais informações: ( (011) 3066-7533.

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Doutorado
        Desenhando a bacia ambiental: subsídios para o planejamento das águas doces metropolitanizadas. Emilia Rutkowski. Dia 30/4, 9h30.
        Mais informações: ( (011) 257-7688.
 
 
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244, São Paulo - SP.  
Tel. 818-4411/818-4691 - Fax: 818-4476/ 818-4426/818-4689 E-mail: agenusp@edu.usp.br; 
Home Page: http://www.usp.br/agen/agweb.html 
Jornalista Responsável: Marcia Furtado Avanza (Mtb 11552) mfrsouza@usp.br  
Repórteres: Antonio Carlos Quinto acquinto@usp.br , Ivanir Ferreira ivanir@usp.br  
Estagiários: Renata Bessi, Henry Koibuchi Sakane, Carolina Cavalcanti e Alvaro Magalhães

 
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