São Paulo, 11 de julho de 2001 n.774/01.

 
Redes de vizinhança legitimam linchamento
Estudo revela como as redes de vizinhança em comunidades estão ligadas a casos de linchamento. A pesquisa mostra que, com a distância entre instituições e cidadãos, o linchamento surge como alternativa contra a ineficiência do Estado.

 
 

HC divulga pesquisa sobre Febre reumática e transtorno obsessivo-compulsivo em crianças
 
 

IME abre inscrições para cursos de computação
 
 

Peça Verdades Canalhas é exibida no Teatro da ECA
 
 
 


Destaques

Descaso do Estado possibilita a formação de grupos de linchamento

Marcelo Gutierres

        Questões que envolvem a violência e a segurança pública podem ser melhor compreendidas graças à pesquisa Os justiçadores e sua justiça: linchamento, costume e conflito de autoria da socióloga Jacqueline Sinhoretto, apresentada como dissertação de mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A pesquisadora, que trabalhou entre 1992 a 1998 no Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, analisou em seu estudo quatro casos de linchamento com características comuns, ocorridos na década de 80, em bairros de periferia de grandes cidades do Estado de São Paulo.
        O linchamento se apresenta como resultado de um descontentamento e como um concorrente da Justiça Pública na canalização dos problemas vividos na comunidade. Daí, ser considerado uma expressão de um conflito entre a expectativa da população e o funcionamento das instituições de Justiça. A pesquisa mostrou que os membros das comunidades estudadas entendem que a polícia é distante, que o poder judiciário não é acessível e não intervém nos conflitos vividos por aquelas pessoas. "Os moradores da comunidade, quando têm a confiança quebrada pelas instituições, tendem a deslegitimar essas instituições", diz Jacqueline. "O senso comum também contribui para o desgaste da confiança entre moradores e instituições. Idéias como: polícia só prende pobre; a justiça não funciona, não se importa com os casos dos pobres, entre outras, estão muito presentes nestas comunidades".
        Dentre os vários entrevistados, ela destaca uma das respostas à pergunta "O que você acha do trabalho do juiz?". A resposta foi: "Eu não sei... eu nunca vi um juiz, então eu falo só pelo que eu vejo na novela". Para a estudiosa, essa declaração tem caráter simbólico. "Para o morador, o bairro possui uma existência concreta, ao passo que as instituições, não".
        Nos casos estudados, antes de cometerem uma violência, os moradores utilizaram vários recursos de acesso a instituições. Foram, por exemplo, à delegacia para registrar boletim de ocorrência, prestar depoimentos. "Em um caso recorreram a vereadores e até mesmo a um radialista", frisa Jacqueline.
        O estudo analisou as relações entre as comunidades e as instituições do Estado, e a questão da violênciacomo forma de efetivar a justiça. Também buscou compreender o significado na legitimação de práticas extra-judiciais, em especial na forma coletiva. Além disso, demonstra como os linchamentos expressam um conflito entre a expectativa de grupos sociais e o funcionamento das instituições de Justiça. De acordo com a pesquisa, a prática surge como uma alternativa contra a ineficiência do Estado. "Trata-se de uma manifestação contra as forças que colocam as comunidades na faixa dos excluídos", afirma Jacqueline.
        Entretanto, o estudo também revela que esses linchamentos não se constituem como um sistema paralelo ao oficial, tampouco como um desejo de destruição das instituições. Ao contrário, o que as comunidades desejam é a expansão do Judiciário e da Polícia.
        A socióloga diz que a coesão e a solidariedade entre os moradores fomentam a formação de um grupo para realizar o linchamento, pois "cada morador se sente pessoalmente vitimado quando ocorre uma tragédia pessoal muito grande com um de seus vizinhos. Isso estende a toda comunidade", justifica.
        Para Jacqueline, o êxito das campanhas de segurança pública passa pela valorização destas redes de vizinhança, com o engajamento dos próprios moradores do bairro, juntamente com uma aproximação efetiva das instituições com a comunidade. Como também, trabalhar em âmbito local com juizes, com delegados e, sobretudo, com equipes "multiprofissionais" — compostas por assistentes sociais, psicólogos, advogados, por exemplo, que seriam alguns dos profissionais capacitados para mediação de conflitos. E por fim, descentralizar as instituições de Justiça para atender a periferia. "É preciso passar pelas dinâmicas locais e atender as demandas concretas das pessoas. Sem isso, não haverá mudança alguma".
        Mais informações: ( (0XX11) 3105-4607.

Febre reumática e transtorno obsessivo-compulsivo em crianças

        O Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (Protoc) do Instituto de Psiquiatria da USP desenvolveu um estudo com crianças do Hospital das Clínicas (HC) portadoras de febre reumática, para rastrear incidência de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) nesse grupo. Foram 62 crianças selecionadas, entre 5 e 16 anos, sendo 22 portadores de febre reumática (caracterizado por movimentos involuntários, chamados de Coréia de Sydenham), 20 portadoras de febre reumática sem Coréia de Sydenham e 20 crianças sadias. O estudo evidenciou a presença de TOC em 30% dos casos de portadores de febre reumática, com e sem Coréia de Sydenham. Segundo coordenador do Protoc, Eurípedes Miguel Filho existem indícios de que pessoas que tiveram infecção pela bactéria streptococcus têm maior propensão genética a desenvolver também o TOC. Nos Estados Unidos, a febre reumática foi praticamente erradicada, em decorrência do uso intenso de antibióticos, o que abre espaço para outra discussão que é o uso de antibióticos no Brasil.
        O TOC é uma doença que atinge cerca de 3% da população mundial, sendo caracterizado por obsessões - pensamentos, idéias, impulsos ou representações mentais intrusivos - e sem significado particular para o indivíduo. Os pensamentos são acompanhados por incômodo, desconforto, ansiedade, levando a pessoa a realizar determinadas compulsões. As compulsões podem ocorrer também sem a presença de obsessões, especialmente em crianças. A doença evolui em 40% dos casos de forma crônica e tem como sintomas obsessão de contaminação, agressão, sexual, ritual de limpeza e de verificação.
        O HC iniciou programa de tratamento de crianças com TOC e os interessados devem ligar para a Associação dos Portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (ASTOC), com Sra. Maura, de segunda a sexta-feira das 8h00 às 17 horas.
        Mais informações: ( (0XX11) 3088-9198 com Sra. Maura ou 3083-0473 na Assessoria de Imprensa do IPQ.
 
 


Cursos, Seminários e Palestras

Cursos de computação
        O Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP abre inscrições para os seguintes cursos que realiza em julho:
        Curso de Java - Parte 1, que será realizado de 16 a 27 de julho, com taxa de R$ 250,00 (R$ 120,00 para comunidade USP). Há 25 vagas e os alunos devem ter conhecimento de alguma linguagem estruturada, noções de estrutura de dados e Windows 95;
        Excel Básico, que ocorre entre os dias 16 e 27, para maiores de 15 anos que tenham domínio de Word. A taxa é de R$ 120,00 (R$ 60,00 para a comunidade USP).
        Mais informações: ( (0XX11) 3091-6169/3091-6212.

Anfíbios
        Estão abertas até dia 20 as inscrições para o curso Anfíbios: Biologia, Taxonomia e Venenos, que o Instituto Butantan promove entre 20 e 24 de agosto. O programa aborda temas como adaptações de defesa e à dessecação, morfologia da pele, ecofisiologia, venenos e cultura popular. A taxa é de R$ 20,00.
        Mais informações: ( (0XX11) 3726-7222, ramal 2117 ou e-mail cultbut@bol.com.br.
 
 


Agenda Cultural

"Verdades Canalhas" na ECA
        A peça Verdades Canalhas está em cartaz no Teatro Laboratório da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Em Verdades Canalhas, um repórter sem escrúpulos tenta dar veracidade a histórias fantásticas, adaptadas de cinco contos contemporâneos, que apesar de serem de autores de estilos e épocas diferentes, têm em comum a crueldade humana, um sentimento que as pessoas às vezes tentam esconder e resistem em assumir. Dirigida por Hugo Possolo, interpretada por estudantes do curso de Artes Cênicas da ECA, com adaptação de Mário Viana, fica em cartaz até 29 de julho. A temporada vai de quinta-feira a sábado às 19 horas e domingo às 18 horas. A entrada é franca.
        Mais informações:((0XX11) 3091-4068.
 
 


Teses e Dissertações

Escola Politécnica
Mestrado
        - Estudo experimental comparativo entre resfriamento evaporativo e radiativo em ambientes cobertos com telhas de fibrocimento em região de clima quente e úmido. José Roberto de Souza Cavalcanti. Dia 11, às 9 horas.
        - Estudo experimental da permeabilidade à água e ao ar de um solo utilizado na camada de cobertura de um aterro de resíduos urbanos Recife–PE. Maria Conceição Justino de Andrade. Dia 12, às 9 horas.
        Mais informações:((0XX11) 3091-5443
 
 
Agência USP de Notícias - Divisão de Informação, Documentação e Serviços Online
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Estagiários: Bruna Fontes, Cauê Muraro caueagen@usp.br, Júlio Bernardes, Marcelo Gutierres msg@usp.br e Tatiana Martins Peñuela