São Paulo, 27 de dezembro de 2001 n.886/01.



 
Atendimento inicial da Febem
é inadequado
 
 

Chegada do adolescente à Febem é o melhor
momento para se investir
em sua recuperação. Após o período inicial,
há uma perda do referencial familiar e
uma adaptação ao ambiente prisional 
 

 
 

Jornada de Anestesiologia Pediátrica, na
Faculdade de Medicina da USP
 
 

Faculdade de Medicina oferece curso de
Especialização em Bioética
 
 

TV USP apresenta debate
sobre TV Universitária
 
 


Destaques

Estudo trata de alterações na psique de adolescentes da Febem

Antonio Carlos Quinto

Há muito que a Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem) de São Paulo não vem cumprindo seu papel ressocializador. A história recente comprova que a instituição não consegue recuperar os adolescentes que estão sob sua responsabilidade. As rebeliões são cada vez mais freqüentes e violentas contabilizando, inclusive, mortes de funcionários e internos. E foi justamente num destes períodos conturbados da instituição, entre outubro de 2000 e março deste ano, que a psicóloga Sirlei Fátima Tavares resolveu estudar as alterações na psique de adolescentes privados de liberdade internados na Febem. Os resultados estão na dissertação de mestrado intitulada Efeitos do tempo de internação sobre a psicodinâmica de adolescentes autores de ato infracional, defendida em agosto deste ano no Departamento de Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia (IP) da USP.

Sirlei acompanhou a trajetória de três adolescentes utilizando o diagnóstico psicológico do tipo compreensivo, verificando os aspectos afetivos-emocionais no início e após seis meses de internação na instituição. "Durante todo o tempo de pesquisa não encontrei nenhum estudo deste tipo na bibliografia pesquisada", conta a psicóloga. Os adolescentes eram todos do sexo masculino, primários na medida socioeducativa de internação, com idade entre 14 e 17 anos, sem déficit mental e sem comprometimento psiquiátrico. O estudo envolveu ainda as famílias destes jovens, entrevistas com os funcionários da Febem e a instituição como um todo.

"Estes adolescentes foram submetidos à medida de internação por terem cometido atos infracionais, como assaltos com arma de fogo. Não pertenciam a gangues, eram todos pobres e tinham cometido seu primeiro delito, sem nenhuma passagem anterior pela Fundação", conta Sirlei. Ela constatou que um dos principais problemas encontrados é que a instituição não realiza um psicodiagnóstico do internado quando de sua chegada, o que dificulta o trabalho do psicólogo. Este diagnóstico inicial seria, segundo a psicóloga, um importante subsídio até mesmo para a aplicação das medidas judiciais. "A chegada do adolescente na Febem é o melhor momento para que seja realizado um atendimento adequado. É o momento em que o jovem mais precisa e pede por ajuda. É quando ele está aberto a qualquer tipo de orientação", afirma. A partir deste momento, quando se perdeu o momento inicial do atendimento, Sirlei constatou que as coisas tornam-se cada vez mais difíceis. "Depois de seis meses de internação, o jovem já perdeu o referencial familiar e está adequado ao ambiente prisional. Ocorre, então, uma utilização de defesas do ego mais primitivas como a cisão, idealização e o uso de defesas maníacas para poder suportar o ambiente", descreve.

Ambiente ameaçador

Em todos os casos, os adolescentes descreveram o ambiente como ameaçador e, segundo Sirlei, eles relataram terem sido vítimas de violência física ao chegar na instituição e durante o período de internação. "Outra situação decorrente é que os internos acabam se identificando com seus agressores, tornando-se também violentos", aponta. Além disso, foi constatado ainda que todos os impulsos amorosos foram apagados, sendo este mais um fator que dificulta as futuras relações e o estabelecimento de laços sociais pautados na pulsão de vida. A internação não auxiliou esses adolescentes a resignificar seus delitos, ou seja, encontrar novos referenciais de vida, ao contrário, cristaliza para o adolescente sua fixação na posição de "ladrão". Durante a internação, um falso eu é construído pelo adolescente interno para responder às relações encontradas na Febem, um lugar que substituiu a família. São sentimentos de auto-aniquilação e vazio que acabam sendo preenchidos com a prática de novos delitos.

Devido ao período conturbado em que a pesquisa foi realizada, Sirlei teve de realizar uma verdadeira peregrinação por diversas unidades da Febem. Ela relata que aconteceram cerca de 49 rebeliões, o que ocasionava a transferência dos internos. "Alguns foram transferidos para cadeiões, o que dificultou ainda mais a aproximação com esses adolescentes e o restabelecimento dos vínculos anteriores, devido à perda de confiança na instituição e em seus funcionários ", conta. Após seis meses de internação, ela observou que a internação não auxiliou os adolescentes e agravou ainda mais o estado emocional dos mesmos, passando então a predominar na mente os impulsos derivados da pulsão de morte (destrutivos) e o apagamento dos impulsos da pulsão de vida (construtivos).

Sirlei acredita que a instituição deve repensar sobre seus procedimentos, principalmente quanto à atuação do seu corpo funcional. "Há a necessidade de mais investimentos na atualização profissional, incluindo terapias, melhor critério para seleção e trabalhos supervisionados em grupo", recomenda. "Hoje, o psicólogo realiza um trabalho que podemos considerar burocrático com relatórios psicológicos apenas rotineiros e que não elucidam a psicodinâmica do adolescente, seus afetos, seus conflitos e os motivos do seu envolvimento com delitos."

A psicóloga constata ainda que a Febem é uma instituição carente de diretrizes de trabalho. "Ainda acredito na descentralização como uma medida positiva e que a instituição deve abandonar sua posição punitiva. Deve-se pensar no adolescente como cidadão e não taxá-lo apenas como 'ladrão', como acontece atualmente", afirma. "Devemos levar ainda em consideração que a atitude punitiva traz como conseqüência a opção pela vida do crime, pois as relações encontradas por ele dentro da Febem reescrevem suas vivências anteriores de humilhações sociais, abandono afetivo, falta de verdadeira relação humana e exclusão."

Mais informações: (0XX11) 3276-5900 ou e-mail sfta@ig.com.br, com Sirlei Fátima Tavares.
 
 


Cursos, Seminários e Palestras

Faculdade de Medicina tem Jornada de Anestesiologia Pediátrica

Até o dia 15 de março de 2002 é possível se inscrever para a Jornada de Anestesiologia Pediátrica, promovida pela Faculdade de Medicina da USP. O objetivo é a atualização em anestesiologia pediátrica, abrangendo novas drogas alternativas para analgesia, equipamentos de ventilação, técnicas de monitorização e fluidoterapia em transplante hepático e anestesia para crianças cardiopatas. Até dia 8 de março, a taxa de inscrição é de R$ 150,00, para médicos; R$ 65,00, para residentes. Do dia 9 a 15, R$ 180,00, para médicos; R$ 80,00, para residentes. O evento será no Centro de Convenções Rebouças, Rua Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3069-6787 / 6335 / 6365 / 6653
 
 

Especialização em Bioética

O Curso de Especialização em Bioética, promovido pela Faculdade de Medicina (FM) da USP, têm inscrições de 2 de janeiro até 27 de março. O objetivo é situar o aluno na conexão entre Ética e Ciência, estruturando-o para a reflexão ética no tocante a assuntos da vida e levá-los a se posicionar face aos problemas cruciais da existência humana, assim como conscientizá-los do fato de que a reflexão ética precede qualquer norma, não podendo existir parâmetros seguros para nos guiar em todas as nossas ações. A taxa é de R$ 50,00. O curso será no Instituto Oscar Freire, Rua Teodoro Sampaio, 115, Pinheiros.

Mais informações: (0XX11) 3066-7454 e-mail webmaster@netsim.fm.usp.br

Especialização em Saúde Mental e Justiça

Até o dia 8 de março de 2002 é possível se inscrever no Curso de Especialização em Saúde Mental e Justiça, promovido pelo Faculdade de Medicina (FM) da USP. A finalidade do curso é apresentar e discutir as teorias ligadas à situação interdisciplinar dos profissionais da área de Saúde Mental e Justiça. Preparar especialistas para atuarem em estruturas criminais, civis, administrativas e na sociedade. A taxa é de R$ 50,00. O evento será no Instituto Oscar Freire, Rua Teodoro Sampaio, 115, Pinheiros.

Mais informações: (0XX11) 3066-7454 ou pelo e-mail webmaster@netsim.fm.usp.br
 
 


Agenda Cultural

Programação da TV USP

Confira a programação da TV USP na semana de 31 de dezembro a 6 de janeiro:

O Delta, Pi debate em torno do tema "TV Universitária". O programa aborda questões como o papel da TV Universitária, seu financiamento, suas diferenças em relação aos canais comerciais e sua relação com a Universidade, entre outras. Deste debate participam os alunos da USP Thomas Miguez e Rafael Gioielli, de Rádio e TV, e da PUC Thiago Benichio, aluno de Jornalismo. Além deles, estão presentes Marília Franco, coordenadora acadêmica da TV USP, e Dario Vizeu, consultor cultural da TV Cultura. O programa é mediado por Paulo Bilkstein, formado pela Escola Politécnica da USP. Segunda-feira (31), às 22h30. Outros horários: às 9, 13h30, 18 e 3 horas.

Especial reprisa o programa sobre "A TV e a indústria da música". Trabalho de conclusão de curso do aluno de Rádio e TV Dan Sister, que faz uma análise do papel exercido pela televisão no mercado fotográfico nacional. Este projeto conta com entrevistas com personalidades do mundo da TV e da música como Fernando Faro, Sérgio Groissman, Chico Buarque, Peninha e Wandi Doratiotto. Terça-feira (1º), às 22h30. Outros horários: às 9, 13h30, 18 e 3 horas. Sábado e domingo: às 13h30.

Pgm reprisa as matérias "Jardim Ângela"; "Jica y Turcão"; "Antropologia" e "Viagem: O'Walking Around¹" Eles estão trocando as ruas por cursos de grafite, computação, panificação, DJ. No projeto criado por uma entidade beneficente do Jardim Ângela, um dos bairros mais violentos de São Paulo, delinqüentes saídos da Febem e jovens da vizinhança aprendem juntos o valor de se ter uma ocupação ­ por mais difícil que seja a realidade a se enfrentar. Um despertador que vira instrumento musical?! A veterana dupla Jica y Turcão faz música com bom humor, buscando sempre novas maneiras de explorá-la. Utilizando objetos cotidianos, como uma caixa de botões ou um telefone celular, a dupla parodia estilos musicais "moderninhos" e composições conhecidas de todos nós. Integração ou preservação das comunidades indígenas? Os índios não são mais os mesmos de 500 anos atrás. Hoje, eles estão aprendendo a usar câmera e microfone para gravar a realidade das suas aldeias. Os índios mostram sem medo a cara no vídeo para lutar por seus direitos. Um homem carregando a vida pelo centro de São Paulo. Deve pesar, não? Quarta-feira (2), às 22h30. Outros horários: às 9, 13h30, 18 e 3 horas.

Olhar da USP reprise do programa sobre " Islamismo". No Olhar da USP dessa semana o Prof. Mamede Jarouche, do Depto. de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, (FFLCH/USP) e o jornalista José Arbex Jr., autor do livro "Islã - um enigma de nossa época", discutem sobre a relação entre Islamismo e fundamentalismo, terrorismo, e a iminente guerra que poderá se desencadear a partir de um ataque norte-americano ao Afeganistão. A apresentação é do prof. Flávio Aguiar, do departamento de Letras da FFLCH/USP.. Quinta-feira (3), às 22h30. Outros horários: às 9, 13h30, 18 e 3 horas. Sábado e Domingo, às 22h30 e 3 horas.

2 Apês reprisa o Episódio 02 - "Mauro Fica Famoso". O tema central, amor, é protagonizado pelo personagem principal, além de declarações inesperadas e beijos roubados. Mauro é confundido com Bráulio Pedroso, um famoso cineasta. Com Daniel Dottori, Erika Coracini, Henrique Pessoa, Hugo Napoli, Leonardo Cortez, Manoela Amaral, Otávio Filho e Roberta Estrela D¹alva. Sexta- feira (4) às 22h30. Outros horários: às 9, 13h30, 18 e 3 horas.

Sábado (5) e Domingo (6) a programação da semana será reprisada.

A TV USP fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, Trav. J, nº 374, 2º andar, sala 232, Cidade Universitária. A programação é exibida todos os dias pelo CNU (Canal Universitário de São Paulo), no canal 15 da TV a cabo, ou ao vivo pela internet em: http://www.cnu.org.br

Mais informações: (0XX11) 3091-4101, 3091-4487 ou no endereço http://www.usp.br/tv



Quadro de Avisos

Curso Preparatório para Estagiários na ESALQ

De 7 a 11 de janeiro de 2002, das 8 às 18 horas, acontece o Curso Preparatório para Estagiários, na Escola Superior de Agricultura (ESALQ) da USP. O objetivo do curso é aprimorar e melhorar a capacitação dos estagiários em fisiologia vegetal, cereais, criações, olericultura, floricultura e fruticultura. As inscrições acontecem no dia 7. O evento será no Departamento de Produção Vegetal da ESALQ, que fica na Av. Pádua Dias, 11, Piracicaba.

Mais informações: (0XX19) 3429-4354 / 4190 ou e-mail kminami@carpa.ciagri.usp.br ou site http://www.ciagri.usp.br/~svcex/cur2001.htm
 
 


Teses e Dissertações

Faculdade de Ciências Farmacêuticas

Mestrado

- Triagem de diuréticos por cromatografia líquida de alta eficiência com finalidade de controle da dopagem no esporte. Vanessa Moreira. Dia 18 às 14 horas.

Mais informações: (0XX11) 3091-3661
 
 
 
Agência USP de Notícias - Divisão de Informação, Documentação e Serviços Online
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244, São Paulo - SP.
Tel.(0xx11) 3091-4411/3091-4691 - Fax: (0xx11) 3091-4476/3091-4689
Home Page: http://www.usp.br/agenciausp
E-mail: agenusp@edu.usp.br
Diretora da Divisão: Marcia Furtado Avanza (Mtb 11.552) mfrsouza@usp.br
Diretor da Agência: Antonio Carlos Quinto (Mtb 15.949) acquinto@usp.br
Repórteres: André Chaves de Melo andrecms@usp.br, Roger Pascoal rpascoal@usp.br e Valéria Dias valdias@usp.br
Estagiários: Camila Lins Rossi, Cauê Muraro caueagen@usp.br, Júlio Bernardes, Marcelo Gutierres msg@usp.br e Tatiana Martins Peñuela tpenuela@usp.br