São Paulo, 17 de julho de 2002 n.1006/02.

Vivendo à margem das culturas O conflito intercultural de indígenas foi alvo de pesquisa na FFLCH. O estudo traz o caso de um índio brasileiro que, além de padre, é o único oficial militar de origem indígena do País

O conflito de pessoas que vivem à margem das culturas branca e indígena e que não conseguem se integrar em nenhuma delas foi o tema de uma pesquisa realizada no Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A antropóloga Roberta Mélega analisou a história do índio Henrique Ehkithó, que além de padre é o único oficial militar (tenente) de origem indígena do Brasil. "No alto rio Negro, na Amazônia, 40% do efetivo militar é indígena, mas eles só ocupam os postos de soldado e cabo por causa da baixa escolaridade", explica Roberta.

O estudo À margem das culturas: um estudo sobre casos de índios brasileiros marginais traz uma análise sobre o conceito de homens à margem de culturas e apresenta três personagens indígenas que sofreram conflitos interculturais: Tiago Marques, índio Bororo estudado por Baldus e Florestan Fernandes; Tibakou, índio Suruí analisado por Renato da Silva Queiroz (orientador da pesquisa); e Biboi, índio Munduruku pesquisado por Robert Murphy. O estudo aprofunda o caso de Henrique e, para a pesquisadora, a trajetória de vida dele serve de fio condutor para entender a história do alto rio Negro.

De acordo com a antropóloga, os casos analisados são exemplos extremos de conflitos interculturais individuais. Todos eles foram alvo de muitos preconceitos. Além disso apresentaram problemas de identidade étnica e de conflito de interesses com as famílias, o trabalho e o homem branco. "Mas entre todos esses casos, Henrique é o que consegue lidar melhor com esses conflitos, pois é carismático e sabe conquistar as pessoas", conta. Para esses casos individuais, Roberta diz que existem três saídas: a integração com a cultura dominante; a integração com a cultura mais fraca; ou viver entre as duas culturas – característica observada pela antropóloga nos quatro personagens casos de sua pesquisa.

Roberta conta que conheceu Henrique na primeira das duas viagens que fez no segundo semestre de 2000 para o alto rio Negro. Lá, realizou estudo de campo com a ajuda de Henrique, em aldeias das tribos Kuripako e Yanomami. Inicialmente, o mestrado abordaria a relação Yanomami/missões católicas e Kuripako/missões evangélicas. Mas a pesquisadora optou por estudar a história de Henrique por tratar-se de um caso típico de vida à margem de culturas. "Ele é um homem muito culto, estudou Teologia e fala com tranqüilidade sobre Santo Agostinho e Kant, ao mesmo tempo em que na selva sabe reconhecer uma fruta diferente de uma árvore pouco conhecida", explica Roberta.

Henrique morou até os seis anos em sua aldeia natal. O ensino fundamental foi concluído em um colégio interno católico na selva amazônica, perto de seus pais. Depois, mudou-se para São Gabriel da Cachoeira — distante 900 quilômetros de Manaus e com 90% de seus 15 mil habitantes indígenas — onde formou-se no ensino médio. Após concluir seus estudos, foi para Manaus estudar Teologia. Atualmente, Henrique trabalha como capelão do Exército.

A grande questão de estudo de Roberta é quanto aos conflitos interculturais coletivos. "Nossa cultura chega como um rolo compressor agindo diretamente na cultura indígena e os índios absorvem muita coisa", diz a antropóloga. Ela afirma que muitos deles disseram que foram para o exército porque a farda é bonita e, dentro da aldeia, torna-se um símbolo de status. "O mesmo acontece com o uso de telhados de zinco — que podem ser encontrados em algumas habitações nas aldeias — pois são vistos pelos índios como um símbolo de poder da cultura branca".

Os conflitos interculturais coletivos vão mais além. Roberta conta que teve a oportunidade de ver uma prova de Geografia aplicada em índios Yanomami. "Uma das questões era: cite cinco cidades do Canadá. Na prova de História, a pergunta era: em que ano o Brasil foi descoberto?", comenta. Roberta afirma que existem vários movimentos de valorização indígena. Porém muitos índios, principalmente os mais jovens, ainda se envergonham de sua condição. "Desde criança eles aprenderam que é feio ser índio e há casos de crianças que apanhavam dos padres quando falavam na língua indígena", conta Roberta. "Hoje eles ouvem que é bom ser índio", diz a pesquisadora.

Para a antropóloga, muitas tribos poderão ser extintas fisicamente, porém o "pensar" indígena continuará existindo. "Muitos índios não vão entender nunca porque existem ao mesmo tempo shoppings e favelas nas grandes cidades", afirma Roberta. Segundo ela, isso acontece porque na aldeia, apesar das diferenças sociais e de poder, a desigualdade não é tão grande. "Esse processo de mudança cultural trouxe alguns benefícios, mas trouxe também tragédias individuais", afirma. "O Henrique é um ícone desse processo".

Mais informações: (0XX11) 3735-8293 ou e-mail pmelega@uol.com.br

O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) inicia um novo projeto para diagnosticar e tratar pessoas acima de 65 anos: visitas a bairros para identificar idosos com prováveis distúrbios de memória, focando a busca nos portadores da doença de Alzheimer.

O trabalho, coordenado pelo Projeto Terceira Idade (Proter) do IPq, abrange visita à residências em bairros como Vila Brasilândia, Vila Sônia, Rio Pequeno e Jardim Paulista, que são áreas de referência de atendimento no complexo HC.

Serão duas fases; na primeira, estudantes de enfermagem da USP farão as visitas às casas onde residam idosos, submetendo-os a testes de memória e medição da pressão arterial, além de entrevistarem seus familiares.

Na segunda, as pessoas com provável distúrbio de memória serão encaminhadas ao IPq para exames médicos especializados e tratamento, gratuitamente.

Segundo o psiquiatra Sérgio Ricardo Hototian, responsável pelo projeto, uma das motivações do trabalho é o aumento da população idosa no país, além da oportunidade de mapear a prevalência de demências nessas regiões de São Paulo.

Serão visitadas cerca de duas mil famílias e, segundo Hototian, estima-se que 200 pacientes poderão ser encaminhados ao IPq para avaliação mais detalhada.

Os interessados no curso Acústica em Ambientes Musicais e Noções Básicas de Captação Sonora em Campo, da Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, poderão se inscrever entre os dias 5 e 8 de agosto. O curso é destinado aos alunos de graduação e de pós graduação em Ciências Sociais e áreas afins, profissionais que lidam com tratamento, isolamento e medições acústicas, além de técnicos e engenheiros de som. Está aberto também para estudantes de música, produtores culturais, pesquisadores de campo e documentaristas, além do público em geral. O valor é de R$ 450,00. As inscrições devem ser feitas na Rua do Lago, 717, sala 126, Prédio da Administração da FFLCH, Cidade Universitária, São Paulo.

A Estação Ciência promove entre os dias 26 e 29 de setembro a 7ª Mostra de Material de Divulgação e Ensino da Ciência. Com o tema "Conhecimento Científico", o evento terá uma área destinada a expositores e outra para realização de palestras, conferências, oficinas pedagógicas aulas-espetáculos e apresentações artísticas com temáticas científicas. O objetivo é reunir em um mesmo espaço professores, estudantes, empresários e entidades para que possam interagir, trocando experiências, mostrando e promovendo as ações, trabalhos e materiais desenvolvidos por cada um.

Os expositores interessados em reservar seu estande para a 7ª Mostra devem entrar em contato com Eneida ou Cauê, através do telefone (0XX11) 3675-8828 ou pelo e-mail eventos@eciencia.usp.br. A Estação Ciência, que fica na rua Guaicurus, 1274, Lapa, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3675.8828 ou no endereço http://www.eciencia.usp.br

No próximo dia 24, às 19 horas, no auditório da Fundação Japão (Avenida Paulista, 37, 1^o andar, São Paulo), acontece a conferência A importância da América do Sul no Política Externa Japonesa, proferida pelo jornalista Takeshi Shibata, correspondente do Jornal Yomiuri, dos Estados Unidos. No evento, promovido pelo Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (Nupri) da USP e pelo Consulado Greal do Japão, serão discutidos temas de relevância para acadêmicos, empresários ou mesmo aqueles que utilizam a informação como instrumento de trabalho. A entrada é franca, havendo somente necessidade de inscrição prévia até o dia 22 de julho.

Mais informações: (0XX11) 3091-3061, fax 3032-4154 ou e-mail nupri@edu.usp.br

Confira a programação da TV USP para a semana de 15 a 21 de julho:

Olhar da USP Especial, reprise, José Aderaldo Castelo I e II. No programa, o professor José Aderaldo Castelo fala sobre a sua experiência acadêmica e sobre as pesquisas e contribuições de sua atuação na universidade à literatura brasileira. Um dos grandes pesquisadores do País na área de Literatura Brasileira, o professor Castelo foi estudante da USP, formou-se na década de 40 e logo ingressou no corpo docente da Universidade. Foi diretor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) por quase quatorze anos. Seu livro "A unidade da Literatura Brasileira" é fruto de muitos anos de estudo das contradições entre o sentimento de unidade e a afirmação das diferenças presentes na história da Literatura Brasileira.

Especial I: terça-feira (16), às 1h30, 12h00, 16h30 e 21 horas. Especial II: terça-feira, 12h30 17h00 21h30 1H30. Com reprise no sábado (20), às 12 horas.

PGM, reprise, Museu Itinerante, Educom.rádio, Fitotério. A Estação Ciência mostra esta semana o Museu Itinerante, que explica os fatos históricos através do teatro. É uma maneira muito divertida de aprender e complementar o que se estuda em sala de aula. Conheça a educomunicação, a fusão de comunicação e educação. O PGM vai mostrar o que é e como funciona na teoria e na prática o projeto educom.rádio, que está treinando alunos e professores de escolas muncipais de São Paulo para utilizarem o rádio na escola, entendendo a comunicação como forma de aprendizagem e montando uma emissora no estabelecimento de ensino. A matéria Fitototério fala do jardim da USP, 10.000 metros quadrados de plantas vivas, que são uma viagem a todas as partes do mundo. Juntas, elas servem como material de pesquisa a alunos e pós-graduandos do curso de Ciências Biológicas e outros departamentos.

Quarta-feira (17), às 12 horas, 16h30, 21h e 1h30. Com reprise no sábado (20), às 1h30 e domingo (21), às 16h30.

Pilotis é uma série de produções da PUC-RJ que a TV USP exibe durante o primeiro semestre de 2002. No Estado de São Paulo, é apresentado pela TV USP, no Canal Universitário de São Paulo. Até o fechamento desta programação, não havíamos recebido que episódio irá ao ar no dia 18 de julho.

Quinta-feira (18), às 11h30, 16h00, 20h30 e 1 hora. Reprisado no domingo (21), às 1h30.

Olhar da USP, inédito, fala sobre o Terceiro Setor. O Instituto Ayrton Senna (IAS) desenvolve programas sociais que atingem 400 mil crianças e jovens de todo o País, como o Educação pelo Esporte, coordenado por Walderez Nosé Hassenpflug. A CECAE é a Coordenadoria de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais, ligada à reitoria da USP, que atua no sentido de potencializar a interação entre a USP e a sociedade, por meio de parcerias internas à Universidade e com entidades da sociedade. No Olhar da USP desta semana, Walderez Nosé Hassenpflug, do IAS e Cristina Guarnieri, do CECAE, discutem sobre seus trabalhos no chamado Terceiro Setor.

Quinta-feira (19), às 12h, 16h30, 21h e 1h30. Com reprise no sábado (20), às 21 horas.

4X4, reprise, Realidade Virtual. O que podemos esperar da realidade virtual? Quais os benefícios? Ela pode contribuir para o individualismo, a alienação e a desumanização? Com a realidade virtual, as coisas acontecem sem necessariamente acontecer. Para tratar do tema, foram convidados Ismar Frango Silveira, professor de informática da Unicsul, mestre em ciências pelo ITA e doutorando da Escola Politécnica da USP, Ricardo Fabbrini, professor de Filosofia da PUC-SP, mestre e doutor em Filosofia pela USP, José Cassio do Nascimento Pitta, professor Assistente do departamento de psiquiatria da Unifesp e Marcelo Zuffo, coordenador do Núcleo de Realidade Virtual do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI ) da Escola Politécnica da USP e integrante do Grupo de Computação Visual e Mídias Interativas.

Sábado (20) às 16h30 e domingo (21) às 21 horas. Reprise no sábado (20), 16h30 e no domingo (21), às 21 horas.

A programação da TV USP pode ser acompanhada pelo CNU (Canal Universitário de São Paulo), no canal 15 da TV a cabo ou ao vivo pela internet em http://www.cnu.org.br.

A TV USP fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa J, nº 374, 2º andar, sala 232, Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3091-4101 / 4487 com Adriano ou Carol ou e-mail tvusp@edu.com.br ou no endereço http://www.usp.br/tv.

- A lei Kaldor-Verdoorn na economia brasileira. Patrick Wöhrle Guimarães. Dia 5 de agosto, às 14 horas.

Doutorado

- Características qualitativas do músculo Longissimus dorsi deanimais Bos indicus tratados com vitamina D3. Aparecida Carla de Moura Silveira Pedreira. Dia 8 de agosto, às 8 horas.

- Relações econômicas do Ceará e a importância da água e da energia elétrica no desenvolvimento do estado. Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima. Dia 9 de agosto, às 8 horas.

Agência USP de Notícias - Divisão de Informação, Documentação e Serviços Online Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244, São Paulo - SP. Tel.(0xx11) 3091-4411/3091-4691 - Fax: (0xx11) 3091-4476/3091-4689 Home Page: http://www.usp.br/agenciausp E-mail: agenusp@edu.usp.br Diretora da Divisão: Leandra Rajczuk (Mtb 26.915) lerajmar@usp.br Diretor da Agência: Antonio Carlos Quinto (Mtb 15.949) acquinto@usp.br Repórteres: Ivanir Ferreira ivanir@usp.br, Júlio Bernardes jubern@usp.br e Valéria Dias valdias@usp.br Estagiários: Juliana Kiyomura Moreno, Marcelo Gutierres msg@usp.br, Olavo Soares e Pedro Biava