São Paulo, 26 de setembro de 2002 n.1057/02.


Novo método impulsiona arqueologia na Amazônia
Escavações prolongadas e
mapeamentos detalhados revelam
vestígios de ocupações que poderiam
chegar a três mil pessoas, ajudando a
mudar paradigmas



Palestras sobre software livre em Ribeirão Preto


Semana de arte e cultura em Bauru


Luta antimanicomial no IP




Destaques


Estudo sobre povo desconhecido da Amazônia consolida nova metodologia arqueológica

Fabio de Castro, especial para a Agência USP

Depois de contribuir para a mudança de paradigmas da pesquisa arqueológica na Amazônia, a partir de 1995, as investigações feitas por um grupo internacional de arqueólogos em torno da existência de grandes concentrações populacionais pré-colombianas na região estão rendendo importantes discussões científicas e consolidando uma nova metodologia de trabalho na área.

Ao contrário dos primeiros arqueólogos que estudaram a Amazônia, fazendo levantamentos relativamente rápidos e pontuais nos sítios, o grupo coordenado pelos professores Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, James Petersen, da Universidade de Vermont (EUA) e Michael Heckenberger, da Universidade Gainesville, na Flórida (EUA), realiza na região escavações prolongadas e mapeamentos detalhados ao longo de vários anos.

No início deste mês, os pesquisadores retornaram de um trabalho de dois meses na região de Iranduba, no entroncamento dos rios Negro e Solimões, no Amazonas. Ali, no sítio de Hatahara, de aproximadamente 16 hectares, a quantidade de vestígios de presença humana encontrados só poderia ser justificada, segundo Neves, por uma ocupação de duas a três mil pessoas. "A interpretação preliminar é de que havia ali mobilização social do trabalho, grande presença de mão-de-obra e adensamento populacional, mas o sítio foi abandonado há cerca de um milênio, depois de 150 anos de ocupação", diz Neves.

O local abriga grande quantidade de fragmentos de cerâmicas elaboradas, dispostas de forma deliberada, valas artificiais (com possíveis funções defensivas), sepultamentos humanos e terra preta, cuja origem é atribuída por cientistas à matéria orgânica proveniente de ocupações indígenas prolongadas.

As análises químicas de sedimentos revelam uma economia diversificada, com presença de sementes de palmeiras, açaí, pupunha, tucumã, milho e plantas alucinógenas. "Eram recursos manejados, coisa que os arqueólogos antigos não podiam imaginar", explica Neves.

Os primeiros estudos feitos na Amazônia pela arqueóloga norte-americana Betty Meggers excluíam a possibilidade da existência de sociedades avançadas na região, baseando-se principalmente na pobreza do solo amazônico constatada por seus estudos na Ilha de Marajó nos anos 50. Fortalecendo o determinismo ecológico, a corrente de Meggers sugeria que a falta de condições do ambiente impossibilitava os assentamentos permanentes - o que desestimulou os estudos na região até os anos 80, embora a confluência dos rios Negro e Solimões fosse vista como uma provável área nuclear de desenvolvimento de culturas, em virtude de sua posição estratégica na bacia amazônica.

Os trabalhos de outra norte-americana, Anna Roosevelt, na década de 80, abriram o campo para as atuais investigações ao refutar o determinismo ecológico, supondo que ocupações grandes e duráveis ocorreram na região.

Meio termo

"A contribuição que estamos trazendo a esse debate é a idéia de que há um meio termo entre os dois modelos. Havia muito mais gente do que pensava Meggers, mas as ocupações não eram permanentes. Os estudos indicam que houve ocupações sucessivas de cerca de 150 anos com grandes intervalos entre elas", revela Neves.

O enigma do paradeiro destas populações ainda persiste, mas os arqueólogos acreditam que eles não tenham desaparecido por limitação ambiental. "Foram possivelmente dizimados por doenças, ou se deslocaram para áreas mais remotas com a chegada dos europeus", diz Neves.

O principal instrumento para a confirmação destas hipóteses são as datações. "O essencial é montar uma cronologia. Existem uns 50 sítios identificados na área de pesquisa e indicações da presença de três culturas diversas, com tendência de crescimento demográfico e intensificação nos usos de recursos, entre o ano 1 d.C. e o século XVI. Só a continuação dos trabalhos começados em 1995 e a formação de uma cronologia pode nos levar entender aquelas ocupações e suas dimensões sociais".

As datações são caras, custando de 600 a 700 dólares cada, assim como o método utilizado, que demanda grande mão-de-obra qualificada por longos períodos. Mas Neves afirma que a Fapesp tem apostado na pesquisa, trazendo o aporte de recursos suficiente para viabilizá-la. "Até agora já foram feitas 67 datações, e chegaremos a 100 no final do ano. Pretendemos voltar a campo em 2003".

Um dos objetivos das pesquisas é entender melhor o que gerou a terra preta, um solo rico conhecido por sua grande produtividade, que garante a fertilidade das plantações por anos com uso mínimo de fertilizantes. Os depósitos geralmente ficam a 50 centímetros de profundidade, podendo chegar a dois metros e geralmente estão cheios de cacos de cerâmica.

"Ainda não sabemos muito sobre ela, mas para provocar uma mudança tão grande nas propriedades químicas do solo, muita matéria orgânica estava sendo jogada. Para isso era preciso que houvesse grandes agregados populacionais".

O que se pode afirmar com certeza, segundo o arqueólogo é que a terra preta foi formada pela ação humana no passado e que, se houve mudança ecológica, ela foi provocada também pela ação do homem. "Ao contrário do que diz a tese do determinismo ecológico, as populações humanas podem mudar o contexto natural", declara Neves.

Outra novidade descoberta pelo grupo é que a terra preta se forma muito mais rápido do que o imaginado. "Há depósitos que foram em curtos períodos de tempo, o que leva a crer que os índios tinham domínio da produção de terra preta".

Mais informações: (0XX11) 3091-4977 ou pelo e-mail edgneves@usp.br




Cursos, Seminários e Palestras


Palestras sobre software livre em Ribeirão Preto

O Centro de Informática de Ribeirão Preto (CIRP) da USP dá prosseguimento, nos dias 26 e 27, ao II Ciclo de palestras sobre software livre.

Na quinta-feira (26), as palestras são as seguintes:

Software livre em aplicações científicas, com o prof. Paulo Mazzoncini, às 9 horas.

Clusters linux, com Marcelo Mecchi, às 10h20.

S.O. FreeBSD, OpenBSD e NetBSD, com Carlos Fernando Assis, às 14 horas.

Utilizando VPN (Vital Private Network) com Linux, com Raplh Braga, às 15h20.

Os encontros da sexta-feira (27) tratarão dos seguintes temas:

Projeto Genoma e o software livre, com o prof. Rubens Vellosa, às 9 horas.

Segurança em redes, com Mauro Bernardes, às 10h20.

Sistemas embutidos com linux, com Seido Nakanishi, às 14 horas.

Desenvolvimento de software em linux, com Eduardo Marcel Maçan, às 15h20.

Todos os encontros acontecerão no anfiteatro da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) de Ribeirão Preto. As inscrições, gratuitas, devem ser feitas pelo site www.cirp.usp.br .

Mais informações: (0XX16) 602-3583



Eventos no Instituto de Física

Nesta sexta-feira (27), às 16 horas, ocorre o colóquio Ciência e tecnologia no século XV: o paradigma de Aviz, dirigido pela professora Marília Junqueira Caldas. O encontro será no Auditório Abrahão de Moraes do Instituto de Física (IF) da USP.

Às 17 horas, será proferida a palestra Como as crenças e mitos usualmente presentes na área educacional podem dificultar e mesmo impedir a inovação educativa, particularmente em situações de sala de aula, pelo professor Claudio Zaki Dib. O local será o auditório Sul.

No dia 27, às 11 horas, o Seminário do Grupo de Fluidos Complexos realiza um encontro com o título Ferromagnetic Resonance In Nanoparticles, com o palestrante professor Derek Walton, da McMaster University de Hamilton, Canadá. No auditório Adma Jafet do IF.

Todos os eventos têm entrada franca, sem necessidade de inscrição prévia. O IF fica na rua do Matão, travessa "R", 187, Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3091-7114 / 6901 / 7190



Luta antimanicomial

Sexta-feira (27), das 11h45 às 13h30, acontece a palestra A reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial: o que tem a ver com professores e estudantes de psicologia, ministrada pelo professor Pedro Carlos Carneiro, membro do colegiado-diretor da luta antimanicomial. O encontro terá entrada livre e acontecerá na sala Aurora Furtado, no Instituto de Psicologia (IP) da USP. O IP fica avenida Professor Mello Moraes, 1721, bloco "B", Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3818-4172



Sistema Caipira de Criação de Galinhas

Dia 7 de outubro, acontecerá o Curso de Sistema Caipira de Criação de Galinhas na Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq). O objetivo é levar conhecimentos práticos com embasamento técnico-científico aos produtores rurais. O número de vagas é limitado e a taxa de inscrição é de R$ 60,00. O curso será realizado no Departamento de Produção Animal da Esalq, no Setor Não Ruminantes, Av. Pádua Dias, 11, Piracicaba, São Paulo. Os interessados podem se inscrever até dia 4 de outubro, na FEALQ, Av. Carlos Botelho, 1025.

Mais informações: (0XX19) 3417-6604 ou e-mail fealq@esalq.usp.br



Introdução à Astronomia e à Astrofísica

Dia 31 de outubro encerram-se as inscrições para o curso Introdução à Astronomia e à Astrofísica, promovido Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. A taxa para participar fica em R$ 35,00. O objetivo é fornecer uma visão geral dessas áreas a professores do ensino médio e profissionais da área de exatas. O conteúdo abrange desde conceitos introdutórios às últimas descobertas e polêmicas, numa linguagem técnica porém adequada ao público alvo. As aulas começam dia 27 de janeiro e se estendem até dia 2 de fevereiro. O IAG fica na rua do Matão, 1226, Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações: (0XX11) 3091-2710, pelo e-mail ana@astro.iag.usp.br ou pelo site http://www.astro.iag.usp.br/~ceu




Agenda Cultural


Semana de Arte e Cultura em Bauru

No dia 27 de setembro, às 19h30, no Salão Nobre da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) haverá um recital com o pianista Lucas Bojikian e com o Coral Unimed, sob a regência da maestrina Regina Damiati. A apresentação encerra a programação da Sétima Semana de Arte e Cultura da USP, no campus de Bauru. A entrada para o evento é gratuita. O campus da USP fica na alameda Dr. Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75, Bauru, São Paulo.

Mais informações: (0XX14) 235-8394




Teses e Dissertações


Escola de Engenharia de São Carlos

Mestrado

- Uma arquitetura para ambientes de ensino-aprendizagem utilizando o modelo dos sistemas tutores inteligentes e agentes. Neli Regina da Silveira Almeida Prado. Dia 3, às 9 horas.

Mais informações: (0XX16) 273-9235 / 9250



Escola Politécnica

Mestrado

- Proposta de recuperador dinâmico para correção de afundamentos de tensão. Francisco da Costa Saraiva Filho. Dia 27, às 9 horas.

Mais informações: (0XX11) 3091-5443



Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Doutorado

- As paisagens crepusculares da ficção-científica. A elegia das utopias urbanas do modernismo. Jorge Luiz Barbosa. Dia 4, às 9 horas.

Mais informações: (0XX11) 3091-4626



Faculdade de Saúde Pública

Mestrado

- Análise sensorial e teor de ácido ascórbico de hortaliças. Rosana de Morais Borges Marques. Dia 1, às 14 horas.

Doutorado

- Promoção da saúde: Desafio para os profissionais envolvidos no treinamento de manipuladores de alimentos. Maria Izabel Simões Germano. Dia 3, às 14 horas.

Mais informações: (0XX11) 3081-5091




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