São Paulo, 11 de junho de 2002 n.980/02.


As relações da Igreja com o
regime militar de 64

Pesquisa revela detalhes da colaboração entre agentes
religiosos da Igreja Católica e a Ditadura. O estudo aponta
que, apesar do distanciamento, sempre houve uma interação
entre as Instituições



Na Esalq, curso de recuperação de matas


Produsp premia cartazes sobre drogas


Projeto do Cepeusp abre vagas para estagiários




Destaques


A colaboração de alguns agentes religiosos com o Regime Militar

Marcelo Gutierres

Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) mostra como alguns agentes religiosos, clérigos ou não, colaboraram com a repressão da Ditadura Militar entre os anos de 1964 a 1985. Na dissertação de mestrado Igreja e Estado no Brasil: colaboração de agentes religiosos com a repressão política do regime de 1964, o jornalista Dermi Azevedo conclui que, embora tenha havido períodos de "distanciamento" entre as duas Instituições, "sempre houve uma interação estreita entre a Igreja Católica e o Estado no Brasil, inclusive quando ela atuou como oposição direta e indireta na fase da democracia."

Defendido no final de 2001, o estudo reúne depoimentos de vítimas, de colaboradores e repressores, bem como documentos de época. "Conversei com pessoas do clero, com agentes repressores e vítimas. Graças a vários amigos, consegui entrar em contato com muitos que, a princípio, se negavam a falar."

Para realizar a análise sociológica da questão, Azevedo baseou-se em três modelos de relacionamento utilizados pela Igreja Católica com o Estado, de acordo com o momento histórico da sociedade: o paradigma de Igreja como cristandade, o da Igreja como sociedade perfeita e o da Igreja como povo de Deus.

O primeiro refere-se ao fato de a Igreja desejar concentrar em si o poder e, com isso, subordinar o Estado a ela. "A idéia é que a religião católica é hegemônica e que todas as questões da sociedade passam pela relação com o cristianismo." O pesquisador diz que esse modelo prevaleceu durante a maior parte da história do Brasil.

No modelo de "Igreja e sociedade perfeita", a Instituição não quer substituir o Estado, e sim associar-se a ele. "Ela atua em parceria com o Estado, mas sempre numa relação de hegemonia sobre a sociedade, ou seja, sendo uma associada preferencial dele, em todas as questões sociais, econômicas, etc. Enfim, quer ser reconhecida como sua aliada preferencial."

Em a "Igreja e o povo de Deus", há uma diferença essencial com relação aos outros dois. Embora seja um paradigma muito antigo nas tradições da Igreja, só se tornou uma realidade sociológica a partir dos anos trinta do século XX. Este modelo parte da maioria da sociedade, sobretudo, da camada empobrecida. "Desta forma, a Instituição busca atuar frente a temas como os da consolidação da democracia e direitos humanos, entres outros."

Os três momentos

O estudo demarca a atuação de agentes religiosos em três momentos: "uma forte colaboração nos primeiros anos após o Golpe; um abrandamento durante a década de 70; e um ‘distanciamento’ no começo dos anos 80". A Igreja aplicou respectivamente os três modelos de relacionamento. No entanto, Azevedo frisa que o canal de comunicação entre os dois lados "nunca se desfez".

Ele cita uma entrevista com um ex-agente da repressão, que revela o verdadeiro paradeiro do bispo Dom Luiz de Máscolo, da Igreja Católica Brasileira, uma dissidência da Igreja Católica Romana. "Denunciado por um colega e seqüestrado por agentes da repressão, Dom Luiz foi jogado na Floresta Amazônica." Para o pesquisador, este episódio, do primeiro momento, ilustra bem em que nível chegou a colaboração.

O jornalista conta que, inicialmente, a Igreja reagiu de forma favorável ao Golpe de 64 por considerá-lo um freio ao comunismo no Brasil. "Essa relação se baseou no paradigma da ‘Igreja da cristandade’, com os setores mais à direita, em torno de alguns bispos como Dom Antônio de Castro Maier e Dom Geraldo Sigô, os clérigos mais conservadores da história do Brasil, ligados à Tradição, Família e Propriedade (TFP), sociedade cívica anticomunista."

O estudioso chama de "epicentro dos colaboradores" o gabinete do delegado Alcides Cintra Bueno, no prédio da Delegacia Especializada em Ordem Política e Social (DEOPS) em São Paulo. "Especialista em assuntos da Igreja, Alcides Cintra recebia e reunia informações trazidas pelos agentes religiosos. Sua função no DEOPS era fazer desaparecer os cadáveres dos presos políticos mortos sob tortura." Azevedo esclarece que esse dado está no documento "Brasil: Nunca Mais", que é um projeto de reconstituição histórica do período ditatorial, desenvolvido pela Arquidiocese de São Paulo, com o apoio do Conselho Mundial de Igrejas, organização ecumênica, com centro em Genebra, Suíça.

Mas, a partir do momento em que os militantes religiosos passaram a ser perseguidos pela Ditadura, a Igreja começou a se afastar. "A perseguição ocorreu porque uma boa parte de seus membros se empenhou em favor das chamadas Reformas de Base, anteriores ao Golpe. Com isso, a Instituição aproximou-se dos setores populares da sociedade brasileira. Eram os primórdios da Teologia da Libertação, que ganhou mais força a partir dos anos 70."

À medida que a Igreja se tornava o laboratório da Teologia da Libertação, foi se distanciando do Regime Militar. Com isso seus militantes foram se aproximando cada vez mais de outros segmentos da sociedade civil que lutavam pela volta da democracia. "A Igreja Católica passou a ser mais uma protagonista da sociedade civil do que do Estado. É a aplicação do terceiro paradigma."

Segundo Azevedo, no período pós-autoritário as preocupações da Igreja se baseiam essencialmente em dois pontos: consolidação do regime democrático e a preocupação com a vigência do neoliberalismo no Brasil. "Ela o considera excludente, elitista e concentrador de rendas. Paralelamente, enfrenta os desafios de uma sociedade cada vez mais urbanizada, que considera a religião como assunto privado, um assunto que não tem implicações sociais, e que responde mais às angústias e caráter existencial."

Mais informações: (0XX11) 3105- 3798 ou pelo dermiazevedo@ig.com.br


Cursos, seminários e palestras


Esalq promove curso de recuperação de matas

De 20 a 22 de junho, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, estará oferecendo o Curso de Recuperação de Matas Ciliares. Os participantes poderão ter contato com a metodologia da recuperação de áreas degradas já implantada pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF) da Esalq. O curso é voltado a técnicos e pesquisadores de empresas florestais e/ou agrícolas, responsáveis pela área ambiental. O número de vagas varia de 15 a 40 profissionais e a taxa de inscrição é de R$ 800,00 devendo ser feita por depósito bancário. O curso será ministrado no prédio do LERF em Piracicaba.

Mais informações (0XX19) 3417-2300

Produsp premia cartazes sobre drogas

No próximo dia 18 de junho, será realizada a cerimônia de premiação do I Prêmio Produsp para Comunicação Responsável desenvolvido por uma parceria entre GREA-Produsp e a Agência ECA Jr.. Alunos graduandos da FAU e ECA participantes do concurso de cartazes de discussão sobre drogas estarão presentes para receber os prêmios e certificados de participação.

Durante a cerimônia de premiação, o professor Arthur Guerra de Andrade, Presidente do Conselho Técnico Administrativo do GREA, estará proferindo uma palestra sobre drogas e mídia. A premiação será realizada no Anfiteatro do Prédio Eng. Mario Covas Jr, Escola Politécnica da USP, que fica na rua Luciano Gualberto no 380 Cidade Universitária, São Paulo. A entrada é livre.

Mais informações : (0XX11) 3091 4405


Agenda Cultural


Instalação Sérgio Régis na FAU

De 18 de junho a 8 de julho, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP estará expondo em seu Salão Caramelo e no Espaço do Museu o projeto Instalação, do professor Sérgio Régis Martins. Após anos de pesquisas, o artista propõe em seu projeto uma reflexão não apenas sobre a história, a memória, a realidade visual e espacial do conhecido projeto de Vilanova Artigas, mas também sobre seu espírito e lugar.

A exposição é gratuita e aberta a todos. A FAU fica na Rua do Lago, 876, na Cidade Universitária, São Paulo

Mais informações: (0XX11) 3091-4801 ou 3813-2511; E-mail: eventfau@usp.br, na Secretaria de Eventos da FAU


Quadro de Avisos


Projeto social abre 16 vagas para estagiários

O Projeto Esporte Talento (PET) do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), resultante da parceria entre a USP e o Instituto Ayrton Senna, abriu 16 vagas de estágios para alunos do quinto semestre dos cursos de Pedagogia, Psicologia, Esporte e Educação Física. O estagiário trabalhará com iniciação em modalidades esportivas com crianças e adolescentes de 8 a 16 anos. O projeto, sediado no Cepeusp, atende 600 crianças e jovens de escolas públicas, levando novas perspectivas em relação à escola, família e comunidade. Desde 1995 o PET vem atendendo as comunidades carentes que circundam a USP, principalmente a São Remo que já tem 20 escolas beneficiadas.

Os estágios serão de 4 horas podendo ser de manhã ou à tarde, e a bolsa oferecida é de R$ 200,00. Os estagiários serão divididos em dois grupos. O primeiro fará um trabalho interdisciplinar entre Educação Física e Psicologia enquanto o segundo entre Psicologia e Pedagogia. Os interessados deverão entregar pessoalmente seu Curriculum Vitae e uma carta justificando o interesse pelo estágio. O Cepeusp fica na praça 02, Prof. Rubião Meira, 61, na Cidade Universitária, São Paulo.

Mais informações (0XX11) 30913592 ou pelo e-mail talento@usp.br


Teses e Dissertações


Faculdade de Odontologia de Bauru

Mestrado

- Avaliação dos aspectos ansiogênicos de mães de crianças deficientes auditivas, antes e após o diagnóstico audiológico. Maria Estela G. Palmin. Dia 20 de junho, às 14h50.

Mais informações: (0XX14) 223-7720

Instituto de Ciências Biomédicas

Doutorado

- Análise morfofuncional das artérias torácica interna, radial, gastromental direita e da veia safena magna. Richard Halti Cabral. Dia 20 de junho, às 9 horas.

Mais informações: (0XX11) 3091-7438

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Mestrado

- O processo decisório de investimento estratégico em tecnologia da informação: um estudo na agroindústria do estado de São Paulo. Walter Bataglia. Dia 19, às 13h30.

Mais informações: (0XX11) 3091-5811

Faculdade de Direito

Mestrado

- A União Postal Universal: um Modelo de Organização Internacional. Neil Montgomery. Dia 21, às 9 horas.

Mais informações: (0XX11) 3111-4004


Agência USP de Notícias - Divisão de Informação, Documentação e Serviços Online
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244, São Paulo - SP.
Tel.(0xx11) 3091-4411/3091-4691 - Fax: (0xx11) 3091-4476/3091-4689
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