Aumento de CO2 pode estar modificando ambiente em áreas preservadas da Amazônia

Antonio Carlos Quinto

A emissão de gás carbônico no planeta está prejudicando a floresta amazônica, mesmo em áreas totalmente preservadas. O alerta é feito por cientistas que, durante 15 anos, estudaram diversas espécies de árvores na região central da Amazônia.

"Neste período pudemos observar uma ampla modificação na composição das árvores", conta o professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do Departamento de Ecologia Geral do Instituto de Biociências (IB) da USP. "Percebemos que algumas espécies de árvores de porte menor, que habitam o interior da floresta, têm suas populações diminuindo em detrimento das mais altas, que crescem mais rapidamente e tem suas copas a pleno sol. E isso pode estar relacionado ao aumento do gás carbônico na atmosfera."

Juntamente com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Smithsonian Tropical Research Institute, do Panamá, Oliveira analisou uma área de cerca de 300 quilômetros quadrados da Amazônia, ao norte de Manaus. Neste local, segundo o pesquisador, não existem indícios de distúrbios severos na floresta, tratando-se, portanto, de uma área de floresta bem preservada.

Nesses 15 anos, os pesquisadores realizaram várias expedições à floresta, onde marcaram, mapearam e identificaram mais de 14.500 árvores. As plantas eram visitadas e medidas periodicamente em intervalos de 2 a 5 anos. Segundo Oliveira, além da diminuição na quantidade, algumas espécies podem até desaparecer. "O problema é que estas modificações estão ocorrendo muito rapidamente, se levarmos em conta que o ciclo de vida de algumas espécies de árvores da Amazônia pode ser de mais de mil anos", diz.

Os pesquisadores observaram também que as taxas de nascimento e morte de árvores estão aumentando. "O aumento na mortalidade é compensado por novos indivíduos que são recrutados, entretanto percebemos que algumas espécies aumentam em número de indivíduos na floresta enquanto outras diminuem, como é caso da palmeira popularmente conhecida como 'bacaba', cuja população está diminuindo", conta.

As conseqüências dessas alterações, segundo Oliveira, ainda são pouco previsíveis, mas passam pela perda de biodiversidade, diminuição na capacidade de retenção de carbono na floresta e aumento do efeito estufa, entre outros. "Tudo indica que estas modificações estão ocorrendo em outras florestas do mundo e novas pesquisas devem ser conduzidas com urgência para verificar a amplitude do problema", alerta o pesquisador.

Iniciativa global
Na opinião do pesquisador, uma iniciativa que envolva todo o planeta será providencial na tentativa de conter o processo de modificação detectado na Floresta Amazônica. "Mesmo tendo aproximadamente 90 % de suas matas preservadas, a Amazônia está sendo prejudicada pela emissão de gás carbônico proveniente da queima de combustíveis fósseis e das derrubadas e queimadas de suas próprias matas, principalmente em sua região periférica", explica Oliveira.

Com relação ao Brasil, o cientista acredita que uma das principais iniciativas foi a assinatura do Protocolo de Quioto. No acordo, países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de seis gases contaminantes - entre eles o dióxido de carbono (CO₂), principal responsável pelo efeito estufa. "Porém, um dos maiores responsáveis por estas emissões, os EUA, ainda não assinou o Protocolo", lamenta o pesquisador.

Desde que foi assinado, em 1997, o Protocolo de Quioto foi ratificado por quase 120 países, que representam dois terços da população mundial e que respondem por 44% das emissões. Oliveira acrescenta ainda que "falta ao país uma política de desenvolvimento integrada que respeite a vocação florestal e biologicamente diversificada da região amazônica".

Mais informações: (0XX11) 3091-7602; e-mail: aaoliveira@ib.usp.br

Foto: Alexandre Adalardo de Oliveira


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