São Paulo, 2/04/2003

Guerra no Iraque
Pesquisadores mostram opiniões divergentes sobre a guerra


Miguel Glugoski, do Jornal da USP

Debate realizado nesta quarta-feira (2) no Itaú Cultural, em São Paulo, sobre as consequências da guerra no Iraque ficou polarizado em duas tendências. De um lado, argumentos do professor Braz José Araújo, sociólogo integrante do Núcleo de Estudos de Política Internacional da USP, que tem posição favorável aos Estados Unidos, e, de outro, a historiadora Maria Aparecido Aquino, o físico Mahir Saleh Hussein, ambos professores da USP, e a psicanalista Maria Rita Kehl, que condenaram a guerra e os motivos apresentados pelo presidente George W. Bush para iniciar o conflito, apesar da oposição do Conselho de Segurança da ONU.

Braz Araújo está convencido de que "o que ocorre agora é apenas uma etapa da luta do governo norte-americano contra o terrorismo", uma reação natural aos atentados de 11 de setembro em Nova York. Para Maria Aparecida, a guerra no Oriente Médio dá continuidade a uma estratégia de dominação, nova na aparência, mas que obedece à orientação que, historicamente, vem desde o século 19, traçada agora pelos "falcões da Casa Branca", uma guerra preventiva que certamente representará "um desastre para o mundo".

Maria Rita entende que os ataques terroristas prestaram um desserviço à paz mundial, aparentemente conferindo certa legitimidade às ações do presidente Bush, mas considera que bombardear cidades e tirar do poder um chefe de Estado (Saddam Hussein) é uma péssima forma de combater o terrorismo e ainda revela "uma visão infantil do mundo".

O professor Mahir discorda de que se trata de guerra ao terrorismo: "O plano foi escrito pelo atual Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, e apresentado ao ex-presidente Bill Clinton que o rejeitou. Foi depois reapresentado ao presidente George W. Bush, que o aceitou e pôs em prática." Portanto, segundo o professor do Instituto de Física da USP, o plano de ataque ao Iraque é anterior aos acontecimentos de setembro de 2001.

O debate, produzido pela STV - Rede SescSenac, foi dividido em três blocos e teve platéia numerosa, especialmente de estudantes, e a participação do jornalista Américo Martins, chefe do Serviço Brasileiro da BBC de Londres, que falou da sede da emissora. Sobre a posição dos ingleses em relação à guerra, inicialmente contrária depois favorável, Martins disse que se explica pelo fato de as famílias terem filhos soldados e, iniciado o conflito, passaram a apoiá-los, embora ainda haja grande contingente de pessoas que continuam contra. Os ingleses, disse, têm tradicionalmente forte ligação com as suas forças armadas. O professor Mahir, que nasceu em Bagdá mas é naturalizado brasileiro, interveio para dizer que "os soldados ingleses foram arrastados para a guerra, mas, em princípio, os ingleses são contrários a ela".

Em outro momento do debate, a psicanalista Maria Rita considerou um precedente perigoso que, em nome da soberania nacional, os Estados Unidos tenham passado por cima da democracia, representada no caso pelos países integrantes da ONU. O equilíbrio imposto pela força, segundo ela, é sempre precário e a partir da guerra do Iraque todos os países podem temer ações do mesmo tipo. "O ato de desmoralizar a ONU é pior do que o de matar milhares de pessoas em campo de batalha."

Braz Araújo disse que não se pode ter visão tão catastrófica do futuro, pois as guerras, embora todos as condenem, fazem parte da história, e que as opiniões costumam mudar quando a guerra acaba. Assim será, segundo ele, no Iraque depois da queda de Saddam Hussein, quando a população terá consciência de que foi libertada do jugo de um ditador. O professor defendeu ainda, para estranheza do público, que a democracia pode ser imposta à força, e citou os casos da Alemanha nazista e do Japão, derrotados na Segunda Guerra Mundial, mas agora com formas de governo democráticas.


A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitido mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem.
 
visite nosso site: www.usp.br/agenciausp
sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br