São Paulo, 13/06/2003

indicadores sociais 2002

Especialistas da USP comentam relatório do IBGE sobre os Indicadores Sociais 2002

Lucas Telles e Olavo Soares

A Síntese dos Indicadores Sociais 2002, divulgada no último dia 12 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicou que, no Brasil, a renda média dos trabalhadores brancos é superior a dos negros e pardos, mesmo comparando grupos com o mesmo tempo de escolaridade.

Segundo dados da pesquisa, um trabalhador branco com quatro anos de estudos completos recebe em média R$2,30 por hora de trabalho. Com a mesma escolaridade, um trabalhador negro ou pardo ganha apenas R1,50. A média de renda aumenta gradativamente com os maiores níveis de escolaridade, mas a diferenciação entre as raças se mantém.

Trabalhadores brancos com 11 anos de estudos recebem em média R$4,40 por hora de trabalho e, com 12 ou mais anos de formação escolar, ganham em média R$11,80. Nas mesmas condições, trabalhadores negros e pardos recebem R$3,10 e R$8,30, respectivamente. "A pesquisa apresenta informações bem quantificadas e confirmam os estudos sociológicos feitos desde a década de 70", afirma o professor João Baptista Borges Pereira, do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

"Percebemos discriminações entre raças e entre gêneros, que vêm mudando muito lentamente. Os homens brancos têm mais possibilidade de ascender socialmente que os negros. Dentro da mesma raça, os homens são privilegiados em relação às mulheres", confirma. "Esse problema tem origens históricas, mas a atualidade também gera processos de discriminação, que são as deficiências quanto às necessidades materiais e na educação."

Segundo o professor, a escolaridade da população negra é em média menor que a dos brancos. A qualidade da educação e outros tipos de privações materiais também devem ser considerados. "Há uma predominância branca nas escolas melhores. Mas a menor escolarização da população negra acontece porque ela é mais pobre."

Elitização do Ensino Superior
A Síntese dos Indicadores Sociais 2002 também trouxe dados sobre a divisão por renda dos alunos do ensino superior. Segundo a pesquisa, 59,9% dos estudantes de universidades públicas estão incluídos no grupo dos 20% mais ricos da população. Este grupo concentra mais alunos do que a faixa dos 60% mais pobres, onde estão apenas 17,1% dos estudantes de universidades públicas. Não constam, neste estudo, análises sobre a distribuição por renda dos alunos de universidades particulares, mas pesquisas anteriores apontam que a elitização também ocorre nestas instituições.

Para o professor Roberto Costa, assessor da diretoria para assuntos de vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), responsável pelo ingresso na USP, a elitização acontece também na escolha do curso: "para cursos mais concorridos, como Medicina e Administração, há a predominância de candidatos de maior poder aquisitivo. Em carreiras de mais fácil acesso, como Letras e História, grande parte dos candidatos pertencem às camadas mais pobres da população".

Essa distribuição entre cursos é o principal fator para que, em sua maioria, o aluno da USP pertença à classe média: "apenas 5% dos candidatos à USP têm renda que possa classificá-los como 'ricos'", comenta o professor, apontando que não há muita diferença entre o perfil social dos inscritos na Fuvest e os alunos da USP.

A FUVEST fornece, há quatro anos, isenção em sua taxa de inscrição para alunos de baixa renda. Costa destaca que este sistema possibilitou o aumento de candidatos vindos de escola pública (19% para 23%), o que sugere uma maior participação de estudantes de baixo poder aquisitivo.



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