São Paulo, 16/07/2003

55ª SBPC
Documento traz novos subsídios para o ensino de ciências


André Chaves de Melo, enviado especial a Recife


Professores e estudantes universitários e docentes do ensino básico - a maioria da rede pública de Pernambuco - discutiram a natureza dos principais problemas que afetam o ensino de Ciências e decidiram publicar uma carta com suas posições como forma de fornecer subsídios para o governo formular novas políticas públicas que permitam a solução dos problemas e a obtenção de uma educação científica de melhor qualidade, passo fundamental para o desenvolvimento do País.

O grupo participava do encontro Ensino de Ciências, realizado dias 14 e 15 durante a 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e coordenado por Nélio Bizzo, vice-diretor da Faculdade de Educação (FE) da USP.

O documento será apresentado hoje (16), às 18 horas, na Assembléia Geral da SBPC. "Vamos pedir a publicação da carta para a SBPC, mas qualquer interessado poderá publicá-la", diz Nélio Bizzo. "Além disso, nossa meta é que o documento seja distribuído para todas as escolas do País, no sentido de que os professores nos mandem sugestões para o aprimoramento da proposta."

Leia a seguir, em primeira mão, a íntegra do documento que será apresentado hoje:


Carta Aberta

Em Recife, durante a 55a. Reunião Anual da SBPC, um grupo de cerca de 200 educadores, professores que atuam em sala de aula na educação básica, professores e pesquisadores universitários e estudantes de diversos cursos reuniram-se durante dois dias e se empenharam em debater os principais problemas que envolvem o ensino de ciências no Brasil. Como resultado, chegaram a um consenso sobre os principais problemas que devem ser alvo de ação imediata por parte dos diferentes níveis de governo, instituições formadoras e escolas da educação básica:


I - Questões de formação

a. Curso de Pedagogia - falta de espaço para tratamento dos conteúdos específicos durante a formação inicial, inclusive maior reflexão sobre a concepção da ciência que permeia o currículo;

b. Ciências - Falta uma identidade - assume-se que quem se prepara para alguns cursos acaba se preparando - automaticamente - para ensinar ciências para crianças, o que é falso. O curso deve ser assumido pela instituição em suas especificidades;

c. Como regra geral, os cursos de bacharelado são mais valorizados do que os de licenciatura, embora os estudantes acabem se licenciando e dando aulas;

d. Cursos de formação inicial, como regra, estão distanciados da realidade da educação básica;

e. Falta contanto mais próximo com tecnologias da comunicação no curso de formação inicial;

f. Universidades e centros de formação interagem pouco com os sistemas de ensino.


II - Questões de sala de aula

a. Pouco tempo e atribui-se pouca relevância ao ensino de ciências baseado na experimentação e na compreensão;

b. Pouca reflexão sobre a concepção de ciência que é trabalhada na sala de aula;

c. Metodologias de ensino ultrapassadas, centradas na memorização e na busca de informações prontas, em detrimento da compreensão, da originalidade e da criatividade;

d. Falta de recursos didáticos para implementar práticas diferenciadas, inclusive laboratórios. Falta formação de professores para utilizar esses recursos, quando existem;

e. Currículos da educação básica distantes dos interesses dos alunos;

f. Currículos muito extensos, que comprometem a qualidade na educação básica;

g. Falta articulação entre os gestores da educação e professores e alunos, que garanta compreensão maior do trabalho do professor, em especial nas ações inovadoras;

h. Sistema de ciclos pode desmotivar alunos que se empenham nos estudos.


III - Questões Estruturais

a. Salários baixos implicam jornada muito extensa, deixando pouco tempo para formação contínua;

b. Há carência de programas de formação contínua que atendam as necessidades dos professores;

c. Falta plano de carreira que garanta jornada adequada inclusive com dedicação exclusiva;

d. Falta informação para os professores sobre políticas específicas (por ex. recente portaria sobre exame nacional de certificação de professores) e falta maior participação dos professores na definição dessas políticas;

e. Falta um sistema nacional para incentivar o ensino da ciência, dado que as iniciativas existentes são pontuais, mesmo se meritórias, mas isoladas e é necessário articula-las;

f. Rever os critérios de atribuição de aulas que fazem professores de diferentes áreas assumam aulas de ciências, mesmo que não tenham tido formação na área, como por exemplo os professores de matemática que assumem aulas de física. Isso tem ocorrido inclusive com professores concursados.

O grupo propõe que a SBPC, a partir dos contatos dos presentes nesse Encontro, mantenha em rede esse grupo na perspectiva de amplia-lo, juntando mais e mais pessoas preocupadas com o ensino das ciências no Brasil. Propõem que a próxima SBPC tenha espaço reservado para outro encontro de Ensino de Ciências, bem como um espaço para exposição de experiências de ensino.

Recife, 16 de Julho de 2003.



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