São Paulo, 17/07/2003


Pesquisa divulgada pelo Inep reflete desigualdade histórica do País


Antonio Carlos Quinto

A queda no desempenho dos alunos negros, de 1995 a 2001, apontada em pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), na opinião do professor João Baptista Borges Pereira, do Departamento de Antropologia da USP, reflete a distribuição desigual entre as populações, no Brasil, desde a época colonial. O estudo mostrou ainda que os alunos negros quando ingressam na escola param de estudar antes dos brancos.

Mas o que impede o professor de concordar plenamente com a pesquisa divulgada pela imprensa, na última terça-feira (15), é a ausência de variáveis regionais. "Temos situações diferentes no Brasil. Não sei como foi feito o estudo, mas a questão da regionalização é muito importante", disse. Segundo ele, há regiões do país em que a concentração da população negra é maior, citando como exemplo a cidade de Salvador, Bahia, além de outras localidades no Norte e Nordeste. "A partir do estado do Paraná, a população negra é 'rarefeita'. Até São Paulo e Minas Gerais o índice ainda é alto mas tende a cair nos estados meridionais", analisou.

Segundo declarações do diretor de avaliação básica do Inep, Carlos Henrique Araújo, o preconceito influencia no desempenho do aluno. Ele disse ainda que existe um racismo difuso que impacta a auto-estima do negro. Borges Pereira lembrou que o próprio ensino não valoriza o negro historicamente. Segundo ele, a história tanto revela quanto esconde fatos. "Ela omite a contribuição do negro na cultura brasileira", lamentou. Para ele, a escola tem de "se educar" para enfrentar essa situação de diferenciação.

Situação na USP
Mesmo sentindo falta dos aspectos regionais, Borges Pereira considerou a amostra do estudo significativa. "Não tenho conhecimento de nenhum trabalho desse tipo, que avalie o desempenho dos alunos, principalmente aqui na Universidade", disse. Devido ao critério seletivo da USP, o professor garante que os alunos negros que ingressam na universidade são excelentes.

Atualmente os alunos negros da Universidade de São Paulo somam entre 9% e 10% do total. De acordo com o professor, a maioria deles estuda na área de humanas devido a uma série de fatores. Entre eles, ele destaca o acesso aos cursos noturnos e maior tempo de escolarização. "Nos cursos de outras áreas, os alunos têm de se dedicar de maneira integral, o que impede o estudante de trabalhar, por exemplo", relatou.

João Baptista Borges Pereira preside a Comissão de Políticas Públicas para a População Negra na Universidade de São Paulo, ligada à Reitoria.



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