São Paulo, 07/08/2003


Professores da USP comentam a trajetória de Roberto Marinho


Da redação, Agência USP

Para os professores Emanoel Soares da Veiga Garcia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e Maria de Lourdes Motter, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), a principal marca do jornalista Roberto Marinho foi a relação direta que o jornalista sempre manteve com os agentes do poder no Brasil durante seus mais de 70 anos à frente das Organizações Globo. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1993, Roberto Marinho morreu nesta quarta-feira (5), vítima de um edema pulmonar, aos 98 anos.

O professor Garcia considera Roberto Marinho uma referência para a sociedade brasileira. "Ele viveu quase um século e, nesse período, criou um império na área da comunicação", afirma. "Marinho se relacionou com Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, com os presidentes do regime militar, e continuou com o bom relacionamento depois da abertura política do país. E isso continuou nos dias atuais, no governo Lula."

De acordo com o professor, nos últimos anos Roberto Marinho já não desempenhava um comando efetivo nas Organizações Globo, deixando a administração de suas empresas nas mãos de seus filhos, Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto. Por esse motivo, sua morte não representará alterações significativas no comando da instituição.

Além do jornalismo e de sua atuação empresarial, Roberto Marinho também se dedicou à literatura e acabou sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras. Segundo Garcia, Marinho sempre escrevia em linguagem clara, acessível e jornalística, produzindo artigos de grande valor para a cultura nacional. O professor Emanoel Soares da Veiga Garcia foi o orientador da tese O capital estrangeiro e as empresas de teledifusão brasileiras - o caso Rede Globo e o PGQ - Padrão Globo de Qualidade, defendida em abril deste ano na FFLCH.

Atuação decisiva
A coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Telenovela (NPTN) da ECA, Maria de Lourdes Motter, afirma que a atuação de Roberto Marinho foi decisiva para a teledramaturgia da Rede Globo alcançar o prestígio que tem hoje. "Roberto Marinho se cercou do que havia de melhor nas áreas artística e técnica", explica. "Ele possuía uma visão empreendedora e assumiu os riscos de apostar numa linha de programação que não tinha tanta importância na década de 60, quando a TV Globo foi criada".

Maria de Lourdes reconhece que Roberto Marinho tirou proveito das boas relações com os governos militares para expandir a Rede Globo, mas aponta que o jornalista trouxe para a emissora profissionais que sofreram perseguições políticas após o golpe de 1964. "A censura foi retirando os espaços que eles ocupavam no teatro, na literatura e no cinema", relata a professora. "Incorporados pela Globo, autores e diretores como Dias Gomes, Lauro César Muniz e Walter George Durst, além de inúmeros atores, cenógrafos, iluminadores, entre outros profissionais, acabaram sendo responsáveis pela construção de uma linguagem televisiva genuinamente nacional", diz.

Mais informações: (0XX11) 3091-4081, com a professora Maria de Lourdes Motter, ou 3091-3760, com o professor Emanoel Soares da Veiga Garcia


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