Pesquisadores do IAG estudam origem e estrutura de jatos estelares
Júlio Bernardes
Uma pesquisa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP está analisando os jatos estelares,
grandes volumes de gases ejetados de estrelas que estão se formando
ou se extinguindo na Via Láctea (galáxia onde se localiza
o Sistema Solar), atingindo velocidades supersônicas. O estudo dos
jatos, coordenado pela professora Elisabete de Gouveia Dal Pino, fornecerá
novos elementos para o estudo da evolução e composição
química das estrelas e do meio interestelar da galáxia.
Elisabete explica que o fenômeno dos jatos supersônicos é
bastante frequente no Universo, ocorrendo não apenas na Via Láctea,
mas também em núcleos de galáxias distantes, chamadas
de galáxias ativas, que contém um buraco negro com massa
equivalente a de centenas de milhões de vezes a do Sol. Segundo
a pesquisadora, os jatos de estrelas jovens, por exemplo, surgem com a
ejeção de parte do gás que está se agregando
para formar a estrela. "Quando uma nuvem de gases no espaço
começa a colapsar, sob efeito de sua própria gravidade,
forma-se um caroço no centro da nuvem (proto-estrela) que dará
origem à estrela", relata.
De acordo com a pesquisadora do IAG, em torno da proto-estrela, o restante
dos gases da nuvem original formam um disco de gás que gira em
torno dela, agregando matéria. "Conforme os gases se acumulam,
a estrela em formação gira cada vez mais rápido",
explica. "Em certa altura, para livrar-se do excesso de velocidade
de rotação acumulada, a estrela e o disco ejetam parte do
gás sob forma de jatos supersônicos colimados."
Cálculos
Elisabete aponta que o tamanho e a forma dos jatos está relacionado
à quantidade de matéria e à potência de sua
fonte de origem. "Os jatos expelidos pelas proto-estrelas possuem
alguns poucos anos-luz de extensão, o que equivale a milhões
de bilhões de quilômetros", relata. "As galáxias
ativas, que hospedam buracos negros supermassivos em seu centro e agregam
um volume de gases muito maior, geram jatos milhões de vezes maiores
que os emitidos pelas estrelas em formação."
A pesquisadora e sua equipe, com base em dados obtidos nas observações
de telescópios espaciais, como o Hubble, ou em aparelhos de grande
porte na Terra, como o ESO (europeu) no Chile, recriam a estrutura e a
evolução dos jatos em computador, a partir de fórmulas
de hidrodinâmica. Desse modo, é possível estimar o
volume de gás ejetado, as dimensões, a velocidade e o tempo
de duração dos jatos estelares. "No caso de jatos emitidos
por proto-estrelas, calcula-se que durem cerca de 10 mil anos", diz
Elisabete. A composição dos jatos também está
relacionada à sua origem. "As estrelas se formam em ambientes
com grande acúmulo de gases e poeira - os chamados "berçários
de estrelas" - levando os jatos de proto-estelas a apresentarem mais
de 90% de hidrogênio, além de hélio e elementos mais
pesados, como nitrogênio, oxigênio e enxofre", completa.
Elisabete acrescenta que a velocidade dos jatos proto-estelares pode arrastar
o gás do meio interestelar e colidir com outras nuvens, desencadeando
a formação de novas estrelas.
O projeto temático Investigação de Fenômenos
Astrofísicos de Altas Energias, coordenado pela professora
Elisabete e pelo professor Jorge Horvath, é financiado pela Fapesp
e conta com a colaboração de especialistas da Universidade
Estadual da Bahia, da Universidade Autônoma do México, do
Max-Planck Institute, de Heidelberg, Alemanha, e da Universidade de Madison
em Wiscosin, nos Estados Unidos.
Mais informações: (0XX11) 3091-2826, com Elisabete de
Gouveia Dal Pino
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