São Paulo, 15/08/2003


Pesquisadores do IAG estudam origem e estrutura de jatos estelares


Júlio Bernardes

Uma pesquisa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP está analisando os jatos estelares, grandes volumes de gases ejetados de estrelas que estão se formando ou se extinguindo na Via Láctea (galáxia onde se localiza o Sistema Solar), atingindo velocidades supersônicas. O estudo dos jatos, coordenado pela professora Elisabete de Gouveia Dal Pino, fornecerá novos elementos para o estudo da evolução e composição química das estrelas e do meio interestelar da galáxia.

Elisabete explica que o fenômeno dos jatos supersônicos é bastante frequente no Universo, ocorrendo não apenas na Via Láctea, mas também em núcleos de galáxias distantes, chamadas de galáxias ativas, que contém um buraco negro com massa equivalente a de centenas de milhões de vezes a do Sol. Segundo a pesquisadora, os jatos de estrelas jovens, por exemplo, surgem com a ejeção de parte do gás que está se agregando para formar a estrela. "Quando uma nuvem de gases no espaço começa a colapsar, sob efeito de sua própria gravidade, forma-se um caroço no centro da nuvem (proto-estrela) que dará origem à estrela", relata.

De acordo com a pesquisadora do IAG, em torno da proto-estrela, o restante dos gases da nuvem original formam um disco de gás que gira em torno dela, agregando matéria. "Conforme os gases se acumulam, a estrela em formação gira cada vez mais rápido", explica. "Em certa altura, para livrar-se do excesso de velocidade de rotação acumulada, a estrela e o disco ejetam parte do gás sob forma de jatos supersônicos colimados."

Cálculos
Elisabete aponta que o tamanho e a forma dos jatos está relacionado à quantidade de matéria e à potência de sua fonte de origem. "Os jatos expelidos pelas proto-estrelas possuem alguns poucos anos-luz de extensão, o que equivale a milhões de bilhões de quilômetros", relata. "As galáxias ativas, que hospedam buracos negros supermassivos em seu centro e agregam um volume de gases muito maior, geram jatos milhões de vezes maiores que os emitidos pelas estrelas em formação."

A pesquisadora e sua equipe, com base em dados obtidos nas observações de telescópios espaciais, como o Hubble, ou em aparelhos de grande porte na Terra, como o ESO (europeu) no Chile, recriam a estrutura e a evolução dos jatos em computador, a partir de fórmulas de hidrodinâmica. Desse modo, é possível estimar o volume de gás ejetado, as dimensões, a velocidade e o tempo de duração dos jatos estelares. "No caso de jatos emitidos por proto-estrelas, calcula-se que durem cerca de 10 mil anos", diz Elisabete. A composição dos jatos também está relacionada à sua origem. "As estrelas se formam em ambientes com grande acúmulo de gases e poeira - os chamados "berçários de estrelas" - levando os jatos de proto-estelas a apresentarem mais de 90% de hidrogênio, além de hélio e elementos mais pesados, como nitrogênio, oxigênio e enxofre", completa.

Elisabete acrescenta que a velocidade dos jatos proto-estelares pode arrastar o gás do meio interestelar e colidir com outras nuvens, desencadeando a formação de novas estrelas.

O projeto temático Investigação de Fenômenos Astrofísicos de Altas Energias, coordenado pela professora Elisabete e pelo professor Jorge Horvath, é financiado pela Fapesp e conta com a colaboração de especialistas da Universidade Estadual da Bahia, da Universidade Autônoma do México, do Max-Planck Institute, de Heidelberg, Alemanha, e da Universidade de Madison em Wiscosin, nos Estados Unidos.

Mais informações: (0XX11) 3091-2826, com Elisabete de Gouveia Dal Pino


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