Pesquisadores seqüenciam genoma do vírus que ataca lagarta da
soja
Júlio Bernardes
Pesquisadores da USP, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e as Universidades de Brasília (Unb),
Mogi das Cruzes (UMC) e da Flórida, EUA, estão na fase de
conclusão do seqüenciamento do genoma do Baculovirus anticarsia,
vírus utilizado no controle biológico da lagarta da soja
(Anitcarsia gemmatalis). Os resultados da pesquisa serão
apresentados amanhã e sexta-feira (dias 4 e 5) em um workshop na
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília.
A lagarta é a principal praga encontrada nas lavouras de soja no
Brasil, e o vírus é usado em substituição
aos pesticidas químicos, reduzindo os danos ao meio ambiente.
Segundo o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)
da USP Paolo Zanotto, que coordenou o projeto de pesquisa financiado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp), o Baculovirus anticarsia chega ao organismo das
lagartas por intermédio de poliedros cristalinos produzidos nas
células infectas que incluem e protegem os baculovírus no
meio ambiente.
Os poliedros são pulverizados nas lavouras e são digeridos
pelas larvas do inseto. Zanotto afirma que o seqüenciamento gênico
do vírus servirá para detalhar os estudos sobre os fatores
genômicos responsáveis pela patogenia e a virulência
do Baculovirus anticarsia ao infectar a lagarta da soja. "O
próximo passo será a investigação do transcriptoma
viral, ou seja, dos processos que envolvem a expressão de cada
gene encontrado no vírus", explica. A pesquisa, segundo o
professor, deve levar à produção de proteínas
que também possam ser usadas no controle da praga.
De acordo com o pesquisador, o vírus diminui a quantidade de folhas
de soja consumidas pelas lagartas num prazo de quatro a cinco dias reduzindo
as populações do inseto em até duas semanas. "Em
colaboração com a UnB desenvolvemos e patenteamos uma tecnologia
nacional de expressão do gene da poliedrina, proteína associada
ao desenvolvimento do vírus, dispensando o pagamento de royalties
para a produção de proteínas recombinantes de interesse
biotecnológico, como antígenos para vacinas etc.",
aponta.
Meio Ambiente
Paolo Zanoto afirma que o Baculovirus anticarsia não é
agressivo como os pesticidas químicos para o meio ambiente. "A
lagarta da soja é eliminada sem afetar seus inimigos naturais",
observa. Segundo o pesquisador, o controle biológico é mais
recomendado para áreas de cultivo de soja próximas aos parques
nacionais, especialmente na região do Cerrado, por não contaminar
as regiões de mananciais. "O vírus também não
afeta os insetos polinizadores e a fauna do Cerrado, constituindo-se numa
solução ecologicamente viável para controlar a lagarta",
explica o professor.
O estudo do Baculovirus anticarsia, também conhecido como
nucleopoliedrovírus de Anticarsia gemmatalis, foi realizado
paralelamente ao desenvolvimento de bioinseticidas para uso no campo.
Isolado no final dos anos 70 por Flávio Moscardi, pesquisador da
Embrapa, o vírus passou a ser utilizado na década seguinte
no controle biológico da praga, que hoje é realizado em
dois milhões de hectares de soja por ano no Brasil.
O evento em Brasília terá a presença de pesquisadores
que participaram do seqüenciamento, como Paolo Zanotto, Bergmann
Ribeiro (UnB), José Luiz Wolff (UMC), James Maruniak (Universidade
da Flórida), Flávio Moscardi (Embrapa Soja) e Marlinda Lobo
Souza e Maria Elita Castro (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia).
O workshop acontece no Auditório Central da Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia, localizado no Parque Estação Biológica,
no final da Av. W5 Norte, em Brasília (DF). A entrada é
gratuita e não será necessária a inscrição
prévia. O programa completo do workshop encontra-se no endereço
http://www.cenargen.embrapa.br.
Mais informações: (0XX11) 3091-7290, com Paolo Zanotto;
sobre o evento, (0XX61) 448-4660, na Embrapa
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