São Paulo, 03/12/2003


Pesquisadores seqüenciam genoma do vírus que ataca lagarta da soja


Júlio Bernardes

Pesquisadores da USP, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as Universidades de Brasília (Unb), Mogi das Cruzes (UMC) e da Flórida, EUA, estão na fase de conclusão do seqüenciamento do genoma do Baculovirus anticarsia, vírus utilizado no controle biológico da lagarta da soja (Anitcarsia gemmatalis). Os resultados da pesquisa serão apresentados amanhã e sexta-feira (dias 4 e 5) em um workshop na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. A lagarta é a principal praga encontrada nas lavouras de soja no Brasil, e o vírus é usado em substituição aos pesticidas químicos, reduzindo os danos ao meio ambiente.

Segundo o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP Paolo Zanotto, que coordenou o projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Baculovirus anticarsia chega ao organismo das lagartas por intermédio de poliedros cristalinos produzidos nas células infectas que incluem e protegem os baculovírus no meio ambiente.

Os poliedros são pulverizados nas lavouras e são digeridos pelas larvas do inseto. Zanotto afirma que o seqüenciamento gênico do vírus servirá para detalhar os estudos sobre os fatores genômicos responsáveis pela patogenia e a virulência do Baculovirus anticarsia ao infectar a lagarta da soja. "O próximo passo será a investigação do transcriptoma viral, ou seja, dos processos que envolvem a expressão de cada gene encontrado no vírus", explica. A pesquisa, segundo o professor, deve levar à produção de proteínas que também possam ser usadas no controle da praga.

De acordo com o pesquisador, o vírus diminui a quantidade de folhas de soja consumidas pelas lagartas num prazo de quatro a cinco dias reduzindo as populações do inseto em até duas semanas. "Em colaboração com a UnB desenvolvemos e patenteamos uma tecnologia nacional de expressão do gene da poliedrina, proteína associada ao desenvolvimento do vírus, dispensando o pagamento de royalties para a produção de proteínas recombinantes de interesse biotecnológico, como antígenos para vacinas etc.", aponta.

Meio Ambiente
Paolo Zanoto afirma que o Baculovirus anticarsia não é agressivo como os pesticidas químicos para o meio ambiente. "A lagarta da soja é eliminada sem afetar seus inimigos naturais", observa. Segundo o pesquisador, o controle biológico é mais recomendado para áreas de cultivo de soja próximas aos parques nacionais, especialmente na região do Cerrado, por não contaminar as regiões de mananciais. "O vírus também não afeta os insetos polinizadores e a fauna do Cerrado, constituindo-se numa solução ecologicamente viável para controlar a lagarta", explica o professor.

O estudo do Baculovirus anticarsia, também conhecido como nucleopoliedrovírus de Anticarsia gemmatalis, foi realizado paralelamente ao desenvolvimento de bioinseticidas para uso no campo. Isolado no final dos anos 70 por Flávio Moscardi, pesquisador da Embrapa, o vírus passou a ser utilizado na década seguinte no controle biológico da praga, que hoje é realizado em dois milhões de hectares de soja por ano no Brasil.

O evento em Brasília terá a presença de pesquisadores que participaram do seqüenciamento, como Paolo Zanotto, Bergmann Ribeiro (UnB), José Luiz Wolff (UMC), James Maruniak (Universidade da Flórida), Flávio Moscardi (Embrapa Soja) e Marlinda Lobo Souza e Maria Elita Castro (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia). O workshop acontece no Auditório Central da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, localizado no Parque Estação Biológica, no final da Av. W5 Norte, em Brasília (DF). A entrada é gratuita e não será necessária a inscrição prévia. O programa completo do workshop encontra-se no endereço http://www.cenargen.embrapa.br.

Mais informações: (0XX11) 3091-7290, com Paolo Zanotto; sobre o evento, (0XX61) 448-4660, na Embrapa


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