Infecção tuberculosa
em presos de delegacias de SP chega a 64,5%
Maurício Kanno
Uma pesquisa realizada com 1.017 detentos de nove delegacias da Zona Oeste
da capital paulista mostrou que 64,5% deles estavam infectados pelo bacilo
causador da tuberculose, sendo que 21 estavam doentes. A informação
foi obtida pela farmacêutica-bioquímica Regina Maura Cabral
de Melo Abrahão, que defendeu sua tese de doutorado abordando este
assunto, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Os
dados se referem aos anos de 2000 e 2001, época da coleta dos dados.
Os anos seguintes foram utilizados para análise das informações.
A pesquisadora constatou que a população carcerária
nas delegacias dessa região é cerca de 200 vezes mais atingida
pela tuberculose que a população em geral da cidade de São
Paulo. Outra informação conseguida foi que, quanto maior
o tempo de prisão, maior é a exposição à
doença e o risco de infecção pelo Bacilo de Köch,
que a causa.
"As principais razões pelas quais o preso é mais afetado
pela tuberculose são o próprio confinamento da prisão,
a aglomeração, o estresse dessa situação,
além da baixa qualidade da alimentação e do padrão
de higiene", explica Regina.
Outro dado preocupante foi o fato de se encontrar três detentos
multi-resistentes às drogas antituberculose usuais no tratamento.
"Isso é uma ameaça à saúde pública",
diz a pesquisadora. "O tratamento para esses pacientes torna-se muito
mais difícil e caro, e a doença pode se espalhar para outros
presos e outras pessoas que tenham contato com eles."
Contexto do estudo
Segundo Regina, estudos anteriores já apontavam o problema da tuberculose
nas prisões, mas eles foram feitos em penitenciárias e na
extinta casa de detenção de São Paulo. A situação
é muito pior nas carceragens das delegacias de polícia,
também chamadas distritos prisionais, onde em média 30 presos
ocupam celas que deveriam comportar no máximo 8 pessoas. Esses
locais, em teoria, seriam destinados para detenção provisória,
mas 30,9% dos presos já cumpriam pena neles.
A Zona Oeste foi escolhida por ter a situação aparentemente
mais grave, pois ocorreram dois óbitos na época em que a
farmacêutica começava sua coleta de dados.
Mais informações: (0XX11) 3066-7730 / 9627-3114 ou e-mail
remabra@usp.br, com a pesquisadora
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