São Paulo, 23/03/2004

Especialista prevê "beco sem saída" para o Oriente Médio

Simone Harnik

Com o assassinato do xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas (um dos grupos extremistas palestinos), a paz no Oriente Médio fica cada vez mais distante. "Para Israel, o Hamas é responsável por muitas mortes. Já o grupo terrorista nega a possibilidade de coexistência do estado de Israel e de um estado islâmico. Há um beco sem saída", explica Peter Demant, pesquisador do Grupo de Conjuntura Internacional (Gacint) da USP.

"Eu faço uma previsão pessimista, pois o Hamas vai tentar se vingar da maneira mais dolorosa possível, e terá o apoio de mais palestinos. Muitos palestinos que não eram pró-Hamas consideravam Ahmed Yassin um líder legítimo. Vai haver o apoio de muita gente enraivecida", comenta Demant. Para ele, pode acontecer uma maior internacionalização dos atentados do Hamas com risco para comunidades judaicas.

Gunther Rudzit, professor do Núcleo de Análise Interdisciplinar de Políticas Estratégicas (Naippe) da USP, concorda: "Deve haver mais violência, mais morte, mais atentados terroristas". De acordo com Rudzit, o plano de paz para a região já foi ameaçado há algum tempo, pois as ações do governo de Ariel Sharon, primeiro ministro israelense, têm sido dúbias, ora apoiando-o, ora indo contra ele e, com isso, minando-o.

Conseqüências políticas
Demant atenta para a imprevisibilidade da situação no campo político palestino. "Não acho que Arafat vai se beneficiar com a morte de Ahmed Yassin. Pode haver uma fragmentação entre os grupos, o que, hipoteticamente, pode inviabilizar o cessar fogo. Yassin foi uma figura carismática e sua morte vai deixar um vazio que não deve ser preenchido rapidamente", afirma.

Em Israel, a opinião pública deve se posicionar de duas maneiras, segundo Rudzit. "Pode diminuir o apoio ao governo Sharon, pois ele não tem conseguido tornar Israel mais seguro. E, ao mesmo tempo, começa a se notar que os israelenses estão aprendendo a conviver com atentados terroristas."

No Ocidente
Os Estados Unidos foram acusados pelo Hamas de cúmplices do assassinato de Yassin devido à estreita cooperação entre Bush e Sharon. Gunther Rudzit acredita ser improvável uma oposição do governo norte-americano ao primeiro-ministro. "Israel é o único estado democrático da região e os EUA não vão ficar contra ele. Por outro lado, o Hamas já foi considerado um grupo terrorista pela União Européia, o que, por essa lógica, significa que Israel estaria lutando contra o terrorismo".

"Escolher minar uma liderança não foi uma escolha das mais sábias. Isso só tende a complicar o relacionamento e a agravar o sentimento anti-ocidental.", conclui Rudzit.


Mais informações: (0XX11) 3091-2249 e 3091-3528, no Gacint e (0XX11) 3091-3186, no Naippe



A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem.
 
visite nosso site: www.usp.br/agenciausp
sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br