São Paulo, 02/04/2004


Especialistas acreditam que Daiane pode ganhar ouro em Atenas


André Benevides

Mesmo os que pouco entendem de ginástica olímpica, como a maioria do público brasileiro, acreditam que a ginasta Daiane dos Santos tem boas chances de estar no pódio em Atenas. Na opinião dos que conhecem a modalidade, o Brasil poderá conquistar sua primeira medalha de ouro na ginástica olímpica. "Se ela cumprir a rotina sem falhas tem grandes chances de ganhar a medalha no solo", acredita Myrian Nunomura, doutora em Educação Física e professora de ginástica olímpica da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP.

Segundo ela, o técnico de Daiane, o ucraniano Oleg Ostapenko, afirmou que "no momento, não há ginasta que tenha uma série com o mesmo grau de dificuldade". Myrian explica ainda que a série que Daiane realiza atualmente, e que deverá apresentar na etapa da Copa do Mundo que começa nesta sexta-feira (2), no Rio de Janeiro, tem nota de partida 10. Na prática, isso significa que "com esta série, Daiane tem chances de obter a nota máxima e, mesmo que apresente algumas pequenas falhas de execução, ainda assim poderá ser a campeã", diz.

Daiane dos Santos realmente pode ser considerada um fenômeno. "Ela é uma feliz união dos aspectos mecânicos, biológicos e psicológicos que compõe um atleta de alto nível", analisa o físico Marcos Duarte, coordenador do Laboratório de Biofísica da EEFE.

Segundo Duarte, a razão do sucesso da ginasta reside justamente na união destes atributos. "Quando você tem um destes aspectos que aparece, você tem um bom atleta. Quando você tem todos eles juntos, este é o gênio do esporte", afirma.

Ele explica que Daiane possui uma imensa força explosiva aliada a uma baixa estatura e a uma capacidade coordenativa espetacular. "O salto que a Daiane executa demora menos tempo do que falar 'duplo twist carpado'. Em pouco mais de um segundo ela precisa realizar meio giro em um eixo, mudar, realizar dois giros no outro eixo e ainda coordenar a aterrissagem".

Myrian ressalta também a maturidade e a coragem que a atleta demonstra. "Por estar no limite e envolver muita força em seus saltos, ela está muito mais propensa a lesões que as outras atletas". Além disso, ela afirma que "o fato de termos um técnico reconhecido internacionalmente mudou a maneira de como os árbitros vêem a ginástica brasileira", colocando o país de igual para igual com outros mais tradicionais como Romênia, USA, China, Ucrânia e Rússia.

Duarte explica ainda que, quanto à disposição dos segmentos do corpo durante o movimento, o duplo mortal que a Daiane executa pode ser realizado grupado (com todos os segmentos flexionados e próximos ao quadril), carpado (com joelho e tronco estendido mas com o quadril flexionado em 90 graus) e estendido (com todo o corpo estendido). "Dada a dificuldade de realizar o movimento duplo twist, entre todas as ginastas, somente a Daiane consegue realizar o movimento carpado", afirma. "Não bastasse essa proeza, agora ela realiza o mesmo movimento mas de forma estendida. Ela está dois degraus à frente das outras".

E mesmo que o Brasil não conquiste o tão almejado ouro, já temos motivos para comemorar. Esta é a primeira vez que o país conseguiu obter, com a seleção feminina, a classificação de uma equipe completa de ginástica olímpica para os Jogos Olímpicos. Uma meta para a 2008 será a classificação de uma equipe completa também no masculino, já que para Atenas apenas Mosiah Brentano Rodrigues conquistou vaga.


Mais informações: com Miryan Nunomura pelo e-mail mnunomur@usp.br; e Marcos Duarte, pelo mduarte@usp.br


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