São Paulo, 07/04/2004

Professor da USP acredita que impasse na questão do urânio deve-se a fatores políticos, não tecnológicos


Maurício Kanno

O professor do Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física (IF) da USP, Alejandro Sanszanto de Toledo, acredita que Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deve saber que o Brasil não desenvolve tecnologia nuclear bélica. "Tenho convicção de que há interferências políticas ocultas nessa questão, não tecnológicas", diz ele.

A polêmica começou depois que o jornal Washington Post publicou neste sábado (3 de abril), uma reportagem afirmando que o Brasil estaria proibindo inspeção da AIEA à fábrica de combustível nuclear de Resende (RJ). Haveria suspeita de que o Brasil poderia estar direcionando sua tecnologia de enriquecimento de urânio para fins bélicos.

De acordo com o professor, se o que se busca é verificar se o Brasil tem fins bélicos em suas pesquisas, basta olhar o produto final, a que os inspetores sempre tiveram acesso. "Para fazer uma bomba, é necessário um grau de enriquecimento do urânio muito maior do que no uso energético", diz ele. "É como um carro: você pode saber se ele usa álcool ou gasolina olhando o que sai pelo escapamento."

"É claro que se pode pensar que uma usina brasileira esteja com uma certa produção, adequada, 28 dias por mês, por exemplo, e uma outra produção, oculta, dois dias por mês. Mas isso é uma hipótese remotíssima", diz Toledo. "Se for pensar assim, aí, claro, teria que dissecar todo o projeto brasileiro."

Para o professor e diretor do IF, Gil da Costa Marques, é necessário saber se o Brasil tem alguma tecnologia a resguardar. "A questão é conciliar o desenvolvimento tecnológico do País com o Tratado de Não Proliferação de Armas em que o Brasil está envolvido", diz ele. "O fato de se inspecionar a usina vai comprometer o desenvolvimento nuclear brasileiro?"

"Não se sabe o quanto o projeto brasileiro está diferente de outros países. E podem até ser segredos simples", diz o diretor. "Mas se você tem essas conquistas, por que você vai entregar de mão beijada? Foram investimentos que o Brasil fez."

Mais informações: (0XX11) 3091-6955 / 6939, com o professor Alejandro de Toledo e 3091-6900, com o diretor Gil Marques


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