Exclusão social reduz apoio à
democracia na América Latina, dizem especialistas
Júlio Bernardes
Pesquisa feita em 18 países da América Latina pelo Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) aponta que o
Brasil tem um dos menores índices de apoio popular à democracia
no continente, embora seja apontado como modelo de organização
eleitoral. Para o professor Dalmo de Abreu Dallari, da Faculdade de Direito
(FD) da USP, a descrença é causada pelos efeitos da crise
econômica e da exclusão social na população,
que induz a uma visão equivocada do autoritarismo como solução
para o País.
O estudo Democracia na América Latina ouviu 18 mil pessoas em todo
o continente e indica que o Brasil está em 15º lugar no ranking
do Índice de Apoio à Democracia (IDA), à frente apenas
de Colômbia, Paraguai e Equador. Segundo Dallari, o resultado da
pesquisa foi influenciado pela situação econômica
e social do País. "O apoio depende da conjuntura do momento",
explica. "Acreditava-se que o regime democrático resolveria
imediatamente os problemas econômicos do país, o que não
aconteceu, causando decepção em alguns setores da população".
Dalmo Dallari, que coordena a Cátedra Unesco/USP de Direitos Humanos,
ressalta os avanços na organização das eleições
no Brasil, apontado pelo PNUD como um dos países de melhor Índice
de Democracia Eleitoral (IDE) da América Latina. "Nos últimos
dez anos, a população se habituou a votar e o processo eleitoral
tem acontecido tranqüilamente, com poucos questionamentos, inclusive
em relação à fraudes", relata o professor. "O
País está exportando a tecnologia das urnas eletrônicas
a países como a França, que utilizou o sistema nas eleições
gerais de março".
Exclusão
Para Gunther Rudzit, pesquisador do Núcleo de Análise Interdisciplinar
de Políticas e Estratégia (Naippe) da USP, a preferência
por governos autoritários observada na pesquisa do PNUD já
é apontada há alguns anos por especialistas. "As democracias
da América Latina não conseguiram atender as demandas econômicas
e sociais da maioria da população", afirma. "As
pessoas não tem sentido melhoras na qualidade de vida e se os governos
não adotarem políticas de inclusão social, eles terão
cada vez menos apoio."
O pesquisador afirma que a confiabilidade das eleições aumentou
com a presença maciça de observadores internacionais preocupados
com a transparência do processo democrático, mas os resultados
das ações dos governos ainda são pouco cobrados.
"A democracia se consolidou, mas agora é preciso dar o passo
seguinte, que é combater a exclusão social", conclui.
Mais informações: (0XX11) 3887-4186, com Dalmo Dallari, e (0XX11)
9744-5952, com Gunther Rudzit
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