São Paulo, 23/04/2004

Exclusão social reduz apoio à democracia na América Latina, dizem especialistas


Júlio Bernardes

Pesquisa feita em 18 países da América Latina pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) aponta que o Brasil tem um dos menores índices de apoio popular à democracia no continente, embora seja apontado como modelo de organização eleitoral. Para o professor Dalmo de Abreu Dallari, da Faculdade de Direito (FD) da USP, a descrença é causada pelos efeitos da crise econômica e da exclusão social na população, que induz a uma visão equivocada do autoritarismo como solução para o País.

O estudo Democracia na América Latina ouviu 18 mil pessoas em todo o continente e indica que o Brasil está em 15º lugar no ranking do Índice de Apoio à Democracia (IDA), à frente apenas de Colômbia, Paraguai e Equador. Segundo Dallari, o resultado da pesquisa foi influenciado pela situação econômica e social do País. "O apoio depende da conjuntura do momento", explica. "Acreditava-se que o regime democrático resolveria imediatamente os problemas econômicos do país, o que não aconteceu, causando decepção em alguns setores da população".

Dalmo Dallari, que coordena a Cátedra Unesco/USP de Direitos Humanos, ressalta os avanços na organização das eleições no Brasil, apontado pelo PNUD como um dos países de melhor Índice de Democracia Eleitoral (IDE) da América Latina. "Nos últimos dez anos, a população se habituou a votar e o processo eleitoral tem acontecido tranqüilamente, com poucos questionamentos, inclusive em relação à fraudes", relata o professor. "O País está exportando a tecnologia das urnas eletrônicas a países como a França, que utilizou o sistema nas eleições gerais de março".

Exclusão
Para Gunther Rudzit, pesquisador do Núcleo de Análise Interdisciplinar de Políticas e Estratégia (Naippe) da USP, a preferência por governos autoritários observada na pesquisa do PNUD já é apontada há alguns anos por especialistas. "As democracias da América Latina não conseguiram atender as demandas econômicas e sociais da maioria da população", afirma. "As pessoas não tem sentido melhoras na qualidade de vida e se os governos não adotarem políticas de inclusão social, eles terão cada vez menos apoio."

O pesquisador afirma que a confiabilidade das eleições aumentou com a presença maciça de observadores internacionais preocupados com a transparência do processo democrático, mas os resultados das ações dos governos ainda são pouco cobrados. "A democracia se consolidou, mas agora é preciso dar o passo seguinte, que é combater a exclusão social", conclui.

Mais informações: (0XX11) 3887-4186, com Dalmo Dallari, e (0XX11) 9744-5952, com Gunther Rudzit


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