São Paulo, 05/05/2004


Fernando Henrique Cardoso defende presença mais ativa do Brasil na economia mundial

Júlio Bernardes

O ex-presidente da República e professor emérito da USP Fernando Henrique Cardoso disse na manhã desta quarta-feira (5), às 10 horas, que o Brasil irá aumentar as oportunidades de negócios no exterior se atuar de forma mais ativa nas negociações econômicas em todo o mundo. A afirmação foi feita durante conferência de Fernando Henrique sobre Desafios da Ordem Internacional, promovida pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) e realizada no auditório da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Durante duas horas, para um público estimado em 250 professores, estudantes e jornalistas, Fernando Henrique Cardoso fez um histórico da política externa do País e discutiu as ações do Brasil diante das mudanças na economia mundial nos últimos anos. "Acredito que o atual governo tenha um projeto para o País, mas o importante é que a sociedade participe da construção deste plano", afirmou. "O Brasil precisa manter e ampliar sua capacidade de fazer comércio, de ser um global trader, não se prendendo a um único bloco econômico, mas mantendo interesses diversificados em todo o mundo", afirmou.

Fernando Henrique apontou o crescimento das exportações brasileiras de produtos manufaturados para a América Latina e Estados Unidos e "commodities" (matérias-primas e produtos agrícolas) para a União Européia e a China, mas ressaltou que o País deve se firmar contra as posições unilaterais do governo norte-americano, inclusive nas negociações da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas. "O Brasil precisa atuar com mais força na Organização Mundial do Comércio e outros fóruns internacionais, defendendo normas para serem seguidas por todos os países", disse.

Integração
Segundo o sociólogo, a política externa dos governos militares nos anos 70 era "paradoxal" e buscava uma "autonomia pela distância". "O Brasil se afastou da bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética, mas buscava afirmação internacional pelo poderio militar, através do desenvolvimento de armas nucleares, e do intercâmbio com países da África e do Oriente Médio", disse. "A partir do governo Sarney, na década de 80, o País colocou a América Latina dentro de sua visão de política internacional, o que levaria depois à criação do Mercosul."

Fernando Henrique explicou que as mudanças na ordem internacional no início dos anos 90, com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, geraram a expectativa de um mundo multipolar e levaram o Brasil a ampliar suas relações com os vizinhos sul-americanos. "Os principais projetos econômicos, fundamentais para o crescimento do País, passaram a ser de integração regional, como o gasoduto Brasil-Bolívia", afirmou. "O Brasil começou a comprar petróleo da Argentina e da Venezuela e o Mercosul só não avançou mais devido à crise econômica dos países-membros e à resistência brasileira em aceitar uma identidade supranacional, limitando sua soberania."

Para o ex-presidente, a criação da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e da Secretaria de Contencioso do Ministério das Relações Exteriores em seu governo (1995-2002) ajudaram o Brasil a ter presença mais ativa nas negociações econômicas internacionais, mas Fernando Henrique defende que o País precisa adotar uma posição agressiva em defesa da reforma das instituições reguladoras da economia mundial. "O Fundo Monetário Internacional (FMI) está muito vinculado à política norte-americana", declarou. "O processo decisório precisa ser mais democrático, aumentando seus recursos para conter a especulação financeira", declarou.

Fernando Henrique comentou os resultados de pesquisa divulgada em abril pelo Programa de Desenvolvimento da América Latina (PNUD), que apontou queda da confiança nos regimes democráticos no continente. "Não há relação entre democracia e desenvolvimento econômico, mas sim com a forma que a economia cresce e suas conseqüências para a população", afirmou. "Em um regime democrático, mesmo que a situação econômica não seja brilhante, a pressão da sociedade faz com que o governo atenda as demandas na área social".



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