Fernando Henrique Cardoso defende presença mais ativa do Brasil na economia
mundial
Júlio Bernardes
O ex-presidente da República e professor emérito da USP
Fernando Henrique Cardoso disse na manhã desta quarta-feira (5),
às 10 horas, que o Brasil irá aumentar as oportunidades
de negócios no exterior se atuar de forma mais ativa nas negociações
econômicas em todo o mundo. A afirmação foi feita
durante conferência de Fernando Henrique sobre Desafios da Ordem
Internacional, promovida pelo Instituto de Estudos Avançados
(IEA) e realizada no auditório da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA) da USP.
Durante duas horas, para um público estimado em 250 professores,
estudantes e jornalistas, Fernando Henrique Cardoso fez um histórico
da política externa do País e discutiu as ações
do Brasil diante das mudanças na economia mundial nos últimos
anos. "Acredito que o atual governo tenha um projeto para o País,
mas o importante é que a sociedade participe da construção
deste plano", afirmou. "O Brasil precisa manter e ampliar sua
capacidade de fazer comércio, de ser um global trader, não
se prendendo a um único bloco econômico, mas mantendo interesses
diversificados em todo o mundo", afirmou.
Fernando Henrique apontou o crescimento das exportações
brasileiras de produtos manufaturados para a América Latina e Estados
Unidos e "commodities" (matérias-primas e produtos agrícolas)
para a União Européia e a China, mas ressaltou que o País
deve se firmar contra as posições unilaterais do governo
norte-americano, inclusive nas negociações da ALCA, a Área
de Livre Comércio das Américas. "O Brasil precisa atuar
com mais força na Organização Mundial do Comércio
e outros fóruns internacionais, defendendo normas para serem seguidas
por todos os países", disse.
Integração
Segundo o sociólogo, a política externa dos governos militares
nos anos 70 era "paradoxal" e buscava uma "autonomia pela
distância". "O Brasil se afastou da bipolaridade entre
Estados Unidos e União Soviética, mas buscava afirmação
internacional pelo poderio militar, através do desenvolvimento
de armas nucleares, e do intercâmbio com países da África
e do Oriente Médio", disse. "A partir do governo Sarney,
na década de 80, o País colocou a América Latina
dentro de sua visão de política internacional, o que levaria
depois à criação do Mercosul."
Fernando Henrique explicou que as mudanças na ordem internacional
no início dos anos 90, com a queda do Muro de Berlim e o fim da
União Soviética, geraram a expectativa de um mundo multipolar
e levaram o Brasil a ampliar suas relações com os vizinhos
sul-americanos. "Os principais projetos econômicos, fundamentais
para o crescimento do País, passaram a ser de integração
regional, como o gasoduto Brasil-Bolívia", afirmou. "O
Brasil começou a comprar petróleo da Argentina e da Venezuela
e o Mercosul só não avançou mais devido à
crise econômica dos países-membros e à resistência
brasileira em aceitar uma identidade supranacional, limitando sua soberania."
Para o ex-presidente, a criação da Câmara de Comércio
Exterior (Camex) e da Secretaria de Contencioso do Ministério das
Relações Exteriores em seu governo (1995-2002) ajudaram
o Brasil a ter presença mais ativa nas negociações
econômicas internacionais, mas Fernando Henrique defende que o País
precisa adotar uma posição agressiva em defesa da reforma
das instituições reguladoras da economia mundial. "O
Fundo Monetário Internacional (FMI) está muito vinculado
à política norte-americana", declarou. "O processo
decisório precisa ser mais democrático, aumentando seus
recursos para conter a especulação financeira", declarou.
Fernando Henrique comentou os resultados de pesquisa divulgada em abril
pelo Programa de Desenvolvimento da América Latina (PNUD), que
apontou queda da confiança nos regimes democráticos no continente.
"Não há relação entre democracia e desenvolvimento
econômico, mas sim com a forma que a economia cresce e suas conseqüências
para a população", afirmou. "Em um regime democrático,
mesmo que a situação econômica não seja brilhante,
a pressão da sociedade faz com que o governo atenda as demandas
na área social".
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