| São Paulo, 14/05/2004 |
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Especialistas divergem sobre cassação do repórter do New York Times
Eduardo Piagge, do USP Online
Para o jurista e professor emérito da USP Dalmo de Abreu Dallari, a atitude do governo Lula, ao cassar o visto de permanência no Brasil do repórter Larry Rohter, do New York Times (NYT), foi correta. O repórter, responsável por artigo em que sugeria uma "preocupação nacional com o hábito de 'bebericar' do presidente", teve seu visto cassado e sua presença considerada "inconveniente no território nacional", de acordo com nota divulgada ontem pelo ministro interino da Justiça, Luiz Teles Ferreira.
"Eu acho que [a cassação] foi absolutamente correta tanto do ponto de vista jurídico quanto político", declarou o jurista. "O governo está defendendo a honra do povo brasileiro e a ordem jurídica da nação", completou. Para Dallari, não houve uma restrição à liberdade de imprensa. "A Lei protege a opinião e a informação, e essa matéria é apenas uma seqüência de insinuações grosseiras, sem valor jornalístico", explicou. "Se fosse a situação inversa, o governo dos EUA não demoraria 48 horas para expulsar um jornalista estrangeiro", afirmou Dallari. A repercussão negativa entre os jornalistas dessa atitude do governo brasileiro foi, para o professor, uma "reação coorporativa de uma classe que sempre quer estar acima das restrições".
O jurista considerou essa matéria uma represália à atitude mais ofensiva do governo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC). "O governo Lula vem contrariando grupos poderosos com suas posições na OMC", disse Dallari. "Essa matéria deixa entrever interesses políticos e econômicos ao tentar desmoralizar, em âmbito internacional, a imagem do presidente", explicou.
Liberdade de imprensa
A visão do jurista Dalmo Dallari é contestada por profissionais da imprensa e por professores de jornalismo.Três grandes associações de jornalistas brasileiros lançaram notas de repúdio à atitude do governo contra o repórter do NYT, Larry Rohter.
Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) "a publicação de uma reportagem, seja ela qual for, não justifica uma atitude violenta como a adotada pelo governo brasileiro". A nota também afirma que a cassação do visto de permanência do jornalista foi "grave atentado à liberdade de imprensa e de expressão", e revela "autoritarismo e incapacidade de resolver a questão nos foros adequados" por parte do governo Lula.
A Associação Nacional dos Jornalistas (ANJ) considerou que a reportagem do correspondente norte-americano deve merecer "crítica e reação pelo cunho sensacionalista e pela irresponsabilidade que contiver, mas não causa mais dano ao país do que um ato de notória ameaça à liberdade de imprensa como esse". A nota publicada pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), após longa ressalva quanto ao conteúdo da reportagem do correspondente, afirma que não pode "concordar de forma alguma com a cassação do visto do jornalista Larry Rohter e com sua explusão do país".
Em entrevista à Rádio USP na manhã desta quinta (13), o professor Manuel Carlos Chaparro, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, afirmou que a atitude do jornalista do NYT foi irresponsável. Para ele, "o repórter agiu como um moleque"; porém, a reação do Governo, foi uma "burrice, uma coisa inepta". Chaparro disse ainda que do ponto de vista das técnicas jornalísticas e da deontologia, a reportagem é claramente de nível inferior.
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