São Paulo, 22/06/2004

Nacionalismo e carisma pessoal marcaram trajetória de Brizola

Júlio Bernardes


Leonel Brizola, que morreu na noite de segunda-feira (21) aos 82 anos, era uma liderança política carismática voltada para as classes populares, mas seu personalismo impediu o crescimento eleitoral do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que ele fundou em 1980. A afirmação é dos professores Carlos Guilherme Mota e Eduardo Kugelmas, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que destacam a atuação nacionalista e reformista de Brizola antes do golpe de 1964.

Carlos Guilherme Mota aponta que Brizola era a principal expressão do trabalhismo no Brasil depois de Getúlio Vargas, no antigo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), entre as décadas de 50 e 60. "O trabalhismo não era voltado para as elites tradicionais mas para o mundo do trabalho, adotando uma linha sindicalista preocupada com as reformas estruturais e a questão agrária", diz o professor.

O professor Mota lembra que Brizola reuniu uma grande mobilização popular em torno do movimento pelas Reformas de Base, no governo de João Goulart (1961-1964). "Ele foi a principal liderança do movimento que garantiu a posse de Goulart em 1961, frustrando uma tentativa de golpe", diz. Para Eduardo Kugelmas, "Brizola tornou-se referência para os grupos de esquerda que exigiam as reformas, o que atraiu a antipatia do militares e causou sua cassação e exílio em 1964".

Declínio
Segundo Carlos Guilherme Mota, o surgimento do "novo sindicalismo" no ABC paulista e a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) diminuíram a força política de Brizola após a redemocratização do País, nos anos 80. "Enquanto o PT apresentava uma base intelectual maior e lideranças alternativas a Lula, o PDT de Leonel Brizola era muito dependente de sua liderança e carisma pessoais".

Eduardo Kugelmas observa que Brizola tinha uma postura personalista que dificultava as alianças com outros partidos de esquerda e a própria expansão do PDT, partido que fundou em 1980, ao voltar para o Brasil. "O personalismo também fez com que ele entrasse em atrito com as novas lideranças que surgiram no próprio partido, como César Maia e Anthony Garotinho, que saíram do PDT, enfraquecendo-o".

De acordo com Kugelmas, Leonel Brizola não conseguiu firmar-se como uma liderança política nacional, e sua base de sustentação restringia-se ao Rio Grande do Sul, que governou entre 1959 e 1962 e o Rio de Janeiro, onde foi governador duas vezes (1983-1987 e 1991-1994). Para Carlos Guilherme Mota, "a falta de quadros impediu que Brizola superasse o atraso e a deficiência das políticas públicas no Rio."

Após a morte de Brizola, o futuro do PDT dependerá das lideranças que surgirem no partido, aponta Eduardo Kugelmas. "Leonel Brizola adotou uma postura de oposição ao governo Lula, mas é possível que o partido se divida em torno do apoio ao PT, até com a saída de alguns membros", diz o professor.

Carlos Guilherme Mota acredita que a morte de Brizola afetará a candidatura do sindicalista Paulo Pereira da Silva (Paulinho) à prefeitura de São Paulo pelo PDT. "A cidade e o estado de São Paulo sempre foram bastiões do anti-trabalhismo, seja com o antigo PTB ou com o PDT", observa. "A militância hoje é reduzida e as lideranças regionais tem pouca consistência ideológica."

Mais informações: (0XX11) 3063-3591, com Carlos Guilherme Mota e (0XX11) 3257-6773, com Eduardo Kugelmas


A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem.
 
visite nosso site: www.usp.br/agenciausp
sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br