São Paulo, 23/07/2004


Língua portuguesa unificou e integrou as diversas partes do país, diz Bóris Fausto


Eduardo Piagge e Ligia Carriel / USP Online

As primeiras conferências do 14º Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) enfocaram a importância da língua como instrumento de afirmação das identidades nacionais. Boris Fausto, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, ressaltou a importância da língua portuguesa na formação do Estado brasileiro e na consolidação de uma identidade nacional. “De instrumento de dominação do invasor, o português passou à ferramenta de unificação e integração das diversas partes do país”, afirmou o historiador.

Para o professor, nem os fluxos migratórios entre 1870 e 1930 afetaram a hegemonia da língua portuguesa no país. “É preciso ressaltar que os imigrantes não introduziram o multilingüismo no Brasil. Vale lembrar que à época, a língua era uma ferramenta importante de ascensão e os imigrantes procuraram se integrar totalmente ao país”, explicou.

Carlos Lopes, membro do Projeto das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), reforçou a relação entre idioma e as relações diplomáticas. “As recentes posições diplomáticas arrojadas do Brasil, somadas ao crescente destaque da economia portuguesa na União Européia, abrem o caminho e criam novas perspectivas para os outros países de língua portuguesa”, disse.

Timor Leste
Professora de História da USP, Janice Theodoro defendeu essa mesma ousadia diplomática na disputa entre Austrália e Timor Leste na definição dos limites marítimos de cada país no Mar do Timor, rico em petróleo. “A comunidade de língua portuguesa deveria apoiar fortemente o Timor Leste nessa questão, usar sua força diplomática para equilibrar a disputa.”

Janice fez um breve relato sobre a sua experiência no Timor Leste e em Macau. Para a professora, há uma diferença temporal entre esses territórios e o Brasil. “Uma aluna de Macau me perguntou como eu me senti quando o Brasil se tornou independente. Percebi que eles estão passando por um processo histórico pelo qual nós já passamos há muito tempo”, contou Janice. “Lá, tal qual no Brasil, a língua também se tornou um instrumento de resistência e de identidade de seu povo.”

Para o professor Antonio M. de Almeida Serra, da Universidade Técnica de Lisboa, a diminuição do capital humano e dos recursos naturais comprometeu o desenvolvimento timorense. “Durante o período de gestão da ONU no Timor, muito foi feito para criar uma infra-estrutura para promover a sustentabilidade no país. Porém, o objetivo não pode ser alcançado a longo prazo”, afirmou.

O Timor está, atualmente, na 158ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, apresentando uma diminuição do PIB nos últimos três anos. O grande desafio seria reverter esse quadro investindo na qualificação da mão-de-obra por meio de uma diversificação dos cursos universitários e a criação de escolas técnicas.

Interesses econômicos
A presença dos países de língua portuguesa em diferentes blocos econômicos e organizações internacionais pode fortalecer os interesses lusófonos no cenário mundial. Essa é a opinião do diplomata Alberto Costa e Silva, palestrante no Encontro. “Acredito que esses países podem assumir posições de destaque para liderar ações que colaborem para o desenvolvimento econômico de toda a comunidade lusófona. Portugal na União Européia e o Brasil no Mercosul, ao invés de pontes entre si podem ser traços de união entre esses diferentes blocos comerciais”, defendeu Costa e Silva.

Cooperação acadêmica
No âmbito acadêmico, a integração entre universidades é essencial para a divulgação da produção científica. Para Carlos Lopes, que também desenvolveu o sistema africano de avaliação do ensino superior, as universidades africanas são ainda extremamente prejudicadas pelos governos fracos ou muitas vezes opressivos. “Percebemos o alinhamento da comunidade universitária com a luta democrática em diversos países da África Sub-saariana. Acho que as experiências das universidades brasileiras podem contribuir para as reformas que precisam acontecer na atual situação acadêmica africana”, afirmou.

Encontro
As palestras do XIV. Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) continuam até domingo (25) no prédio da Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da USP. A programação do evento pode ser encontrada em http://www.usp.br/ccint/aulp/



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