São Paulo, 24/07/2003


Redução de mortalidade infantil depende de investimento em populações pobres

Júlio Bernardes
Para reduzir a mortalidade infantil e materna nos países de língua portuguesa, especialmente no Brasil e na África, é necessária a adoção de medidas simples e de baixo custo, mas os governos precisam priorizar o atendimento das populações pobres. A solução foi defendida por especialistas em saúde pública durante mesa redonda sobre Indicadores de Qualidade de Saúde nos países da CPLP. O tema foi discutido na manhã de hoje (24), durante o XIV Encontro da Associação das Universidades de Língua Potuguesa (AULP), que está sendo realizado na Escola Politécnica (Poli) da USP

O professor César Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), lembrou que existe um compromisso mundial para reduzir em dois terços a mortalidade de crianças com até cinco anos de vida e diminuir em três quartos a mortalidade materna até 2015, as chamadas Metas do Milênio. "Houve redução, mas ela foi muito menor que o previsto, especialmente no Sul da Ásia e na África", afirmou. "Anualmente, morrem 10,7 milhões de crianças por ano, número equivalente a população do Estado do Rio Grande do Sul".

César apontou que a mortalidade infantil e materna pode ser reduzida com medidas simples, como o aleitamento materno exclusivo, o uso de sais de reidratação oral e o fornecimento de antibióticos básicos. "Com um gasto de US$ 7 bilhões por ano, seria possível evitar a morte de 6 milhões de crianças em todo o mundo", disse. "Os governos devem reformular as políticas de investimento em saúde, para que as pessoas mais pobres tenham acesso a intervenções médico-sanitárias."

Mortalidade Materna
Em exposição sobre Mortalidade materna: um desafio para os países em desenvolvimento, o professor Ruy Laurenti, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, afirmou que as estatísticas sobre a mortalidade de mães causada pelo parto são pouco confiáveis, mesmo nos países desenvolvidos. "O sistema de registro ainda é falho, pois os médicos não preenchem os atestados de óbito corretamente", disse. "Entretanto, ao invés de utilizar estimativas, os estudos sobre o tema deveriam incluir também as mulheres que tem complicações no parto, mas não morrem, para aperfeiçoar a base de cálculo."

Ruy Laurenti apontou que a desigualdade social e o alto índice de cesarianas também influenciam a mortalidade materna no Brasil. "Deve ser dada mais ênfase ao pré-natal, inclusive no aspecto qualitativo", afirmou. "Em muitas cidades, os comitês para prevenção da mortalidade materna existem apenas para atender uma exigência legal."

Cidades Saudáveis
A professora da FSP Márcia Westphal falou sobre Cidades Saudáveis: uma estratégia para a melhoria da qualidade de vida, apontando que o crescimento das cidades no Brasil acentuou as diferenças sociais. "Além da distribuição desigual da riqueza e da infra-estrutura urbana, a migração do campo para a cidade fez com que as populações mais pobres perdessem sua identidade, não se esforçando para melhorar suas condições de vida."

De acordo com Márcia Westphal, o programa das cidades saudáveis envolve a atuação de todos os setores do governo. "É preciso haver o compromisso dos gestores de que todo o projeto terá sustentabilidade", afirmou. "A população deve ter participação ativa nas decisões e nas ações destinadas a melhorar a saúde e o desenvolvimento humano."

Segundo a professora, apenas 50 cidades no Brasil adotam projetos de cidade saudável. "Não há intercâmbio de experiências", apontou. "O programa poderia ser expandido se fosse adotado por municípios que já implantam agendas sociais, tais como planos diretores, Agenda 21, desenvolvimento social sustentado e comunidades solidárias".



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