Redução de mortalidade infantil depende de investimento em populações pobres
Júlio Bernardes
Para reduzir a mortalidade infantil e materna nos países de língua
portuguesa, especialmente no Brasil e na África, é necessária
a adoção de medidas simples e de baixo custo, mas os governos
precisam priorizar o atendimento das populações pobres.
A solução foi defendida por especialistas em saúde
pública durante mesa redonda sobre Indicadores de Qualidade
de Saúde nos países da CPLP. O tema foi discutido na
manhã de hoje (24), durante o XIV Encontro da Associação
das Universidades de Língua Potuguesa (AULP), que está
sendo realizado na Escola Politécnica (Poli) da USP
O professor César Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel),
lembrou que existe um compromisso mundial para reduzir em dois terços
a mortalidade de crianças com até cinco anos de vida e diminuir
em três quartos a mortalidade materna até 2015, as chamadas
Metas do Milênio. "Houve redução, mas
ela foi muito menor que o previsto, especialmente no Sul da Ásia
e na África", afirmou. "Anualmente, morrem 10,7 milhões
de crianças por ano, número equivalente a população
do Estado do Rio Grande do Sul".
César apontou que a mortalidade infantil e materna pode ser reduzida
com medidas simples, como o aleitamento materno exclusivo, o uso de sais
de reidratação oral e o fornecimento de antibióticos
básicos. "Com um gasto de US$ 7 bilhões por ano, seria
possível evitar a morte de 6 milhões de crianças
em todo o mundo", disse. "Os governos devem reformular as políticas
de investimento em saúde, para que as pessoas mais pobres tenham
acesso a intervenções médico-sanitárias."
Mortalidade Materna
Em exposição sobre Mortalidade materna: um desafio para
os países em desenvolvimento, o professor Ruy Laurenti, da
Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, afirmou que as
estatísticas sobre a mortalidade de mães causada pelo parto
são pouco confiáveis, mesmo nos países desenvolvidos.
"O sistema de registro ainda é falho, pois os médicos
não preenchem os atestados de óbito corretamente",
disse. "Entretanto, ao invés de utilizar estimativas, os estudos
sobre o tema deveriam incluir também as mulheres que tem complicações
no parto, mas não morrem, para aperfeiçoar a base de cálculo."
Ruy Laurenti apontou que a desigualdade social e o alto índice
de cesarianas também influenciam a mortalidade materna no Brasil.
"Deve ser dada mais ênfase ao pré-natal, inclusive no
aspecto qualitativo", afirmou. "Em muitas cidades, os comitês
para prevenção da mortalidade materna existem apenas para
atender uma exigência legal."
Cidades Saudáveis
A professora da FSP Márcia Westphal falou sobre Cidades Saudáveis:
uma estratégia para a melhoria da qualidade de vida, apontando
que o crescimento das cidades no Brasil acentuou as diferenças
sociais. "Além da distribuição desigual da riqueza
e da infra-estrutura urbana, a migração do campo para a
cidade fez com que as populações mais pobres perdessem sua
identidade, não se esforçando para melhorar suas condições
de vida."
De acordo com Márcia Westphal, o programa das cidades saudáveis
envolve a atuação de todos os setores do governo. "É
preciso haver o compromisso dos gestores de que todo o projeto terá
sustentabilidade", afirmou. "A população deve
ter participação ativa nas decisões e nas ações
destinadas a melhorar a saúde e o desenvolvimento humano."
Segundo a professora, apenas 50 cidades no Brasil adotam projetos de cidade
saudável. "Não há intercâmbio de experiências",
apontou. "O programa poderia ser expandido se fosse adotado por municípios
que já implantam agendas sociais, tais como planos diretores, Agenda
21, desenvolvimento social sustentado e comunidades solidárias".
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