São Paulo, 24/07/2003


Experiência brasileira ajuda no contole da AIDS no mundo

Júlio Bernardes

A experiência do Brasil no controle da AIDS começa a ser levada para o exterior, através de medidas para impedir a transmissão do HIV e de um programa de tratamento baseado na produção local de medicamentos e no desenvolvimento de remédios genéricos. Os relatos da participação brasileira no combate à AIDS foram feitos numa mesa-redonda realizada no final da manhã de hoje (24) no XIV Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa, realizado na Escola Politécnica (Poli) da USP.

O professor David Emerson Uip, da Faculdade de Medicina (FM) da USP, relatou que foi convidado pelo governo de Angola para cooperar com a implantação de um programa de controle da AIDS em 2002. "No ano seguinte, após estudar a situação da doença no país, implantamos o Hospital Esperança, nos moldes da Casa de Aids mantida pela FM em São Paulo", disse.

O próximo passo, explica o professor, foi o estabelecimento de um consenso sobre a terapia anti-retroviral a ser usada em Angola, pois foram identificados 24 programas de atendimento aos doentes de AIDS no país. "Os centros médicos angolanos também adotaram medidas para cortar a transmissão do vírus HIV, especialmente das gestantes para os bebês, além da ampliação do controle das transfusões de sangue."

De acordo com David Uip, a atuação da USP em Angola não resume à presença de profissionais brasileiros. "Também é realizada a capacitação de médicos e enfermeiros locais para que possam lidar com a AIDS, inclusive trazendo-os para o Brasil", afirmou. "O treinamento é adequado aos hábitos e dificuldades dos profissionais angolanos, que vivem num país que está em reconstrução, após muitos anos de guerra".

Genéricos
A química Eloan Pinheiro abordou a Experiência brasileira na fabricação dos medicamentos genéricos para AIDS e seus impactos. Ex-diretora da Fundação Osvaldo Cruz, Eloan apontou que o Brasil só conseguiu obter avanços no controle da AIDS devido à sua capacidade tecnológica, o compromisso do governo e o envolvimento da sociedade, através de Organizações Não-Governamentais. "Houve uma grande redução dos índices de mortalidade, a hospitalização é quatro vezes menor e desde 1997 houve uma redução de US$ 677 milhões nos gastos brasileiros com a produção local de medicamentos."

A aquisição e distribuição dos medicamentos antiretrovirais usados para tratar a AIDS pelo Ministério da Saúde garantiu seu acesso pelas pessoas infectadas, apontou Eloan, ao mesmo tempo em que era criada uma estrutura de diagnóstico e monitoramento através do Sistema Único de Saúde (SUS). "A demanda de remédios foi suprida pela produção local, com a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos genéricos", disse. "As quebras de patentes permitiram reduzir o preço do tratamento, que era elevado devido aos interesses dos laboratórios particulares".

Eloan Pinheiro foi convidada pela Organização Mundial de Saúde para implantar um programa de tratamento de AIDS, direcionado principalmente ao Sul da África e ao Leste Europeu, e que deve atender 2 milhões de pessoas em 2005. "A intenção é fazer com que estes países sejam capazes de produzir os próprios medicamentos", afirmou. "Para criar essa capacidade local, a participação das universidades é fundamental, na pesquisa e na transferência de tecnologia para a indústria."

A mesa-redonda foi coordenada pelo professor Domingos Alves Meira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, que falou sobre a implantação do hospital-dia para atender portadores do HIV na cidade. "O sucesso do programa de tratamento reduziu a necessidade de internações prolongadas, o que obrigou o desenvolvimento de uma nova dinâmica de atendimento."




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