Experiência brasileira ajuda no contole da AIDS no mundo
Júlio Bernardes
A experiência do Brasil no controle da AIDS começa a ser
levada para o exterior, através de medidas para impedir a transmissão
do HIV e de um programa de tratamento baseado na produção
local de medicamentos e no desenvolvimento de remédios genéricos.
Os relatos da participação brasileira no combate à
AIDS foram feitos numa mesa-redonda realizada no final da manhã
de hoje (24) no XIV Encontro da Associação das Universidades
de Língua Portuguesa, realizado na Escola Politécnica
(Poli) da USP.
O professor David Emerson Uip, da Faculdade de Medicina (FM) da USP, relatou
que foi convidado pelo governo de Angola para cooperar com a implantação
de um programa de controle da AIDS em 2002. "No ano seguinte, após
estudar a situação da doença no país, implantamos
o Hospital Esperança, nos moldes da Casa de Aids mantida pela FM
em São Paulo", disse.
O próximo passo, explica o professor, foi o estabelecimento de
um consenso sobre a terapia anti-retroviral a ser usada em Angola, pois
foram identificados 24 programas de atendimento aos doentes de AIDS no
país. "Os centros médicos angolanos também adotaram
medidas para cortar a transmissão do vírus HIV, especialmente
das gestantes para os bebês, além da ampliação
do controle das transfusões de sangue."
De acordo com David Uip, a atuação da USP em Angola não
resume à presença de profissionais brasileiros. "Também
é realizada a capacitação de médicos e enfermeiros
locais para que possam lidar com a AIDS, inclusive trazendo-os para o
Brasil", afirmou. "O treinamento é adequado aos hábitos
e dificuldades dos profissionais angolanos, que vivem num país
que está em reconstrução, após muitos anos
de guerra".
Genéricos
A química Eloan Pinheiro abordou a Experiência brasileira
na fabricação dos medicamentos genéricos para AIDS
e seus impactos. Ex-diretora da Fundação Osvaldo Cruz,
Eloan apontou que o Brasil só conseguiu obter avanços no
controle da AIDS devido à sua capacidade tecnológica, o
compromisso do governo e o envolvimento da sociedade, através de
Organizações Não-Governamentais. "Houve uma
grande redução dos índices de mortalidade, a hospitalização
é quatro vezes menor e desde 1997 houve uma redução
de US$ 677 milhões nos gastos brasileiros com a produção
local de medicamentos."
A aquisição e distribuição dos medicamentos
antiretrovirais usados para tratar a AIDS pelo Ministério da Saúde
garantiu seu acesso pelas pessoas infectadas, apontou Eloan, ao mesmo
tempo em que era criada uma estrutura de diagnóstico e monitoramento
através do Sistema Único de Saúde (SUS). "A
demanda de remédios foi suprida pela produção local,
com a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos genéricos",
disse. "As quebras de patentes permitiram reduzir o preço
do tratamento, que era elevado devido aos interesses dos laboratórios
particulares".
Eloan Pinheiro foi convidada pela Organização Mundial de
Saúde para implantar um programa de tratamento de AIDS, direcionado
principalmente ao Sul da África e ao Leste Europeu, e que deve
atender 2 milhões de pessoas em 2005. "A intenção
é fazer com que estes países sejam capazes de produzir os
próprios medicamentos", afirmou. "Para criar essa capacidade
local, a participação das universidades é fundamental,
na pesquisa e na transferência de tecnologia para a indústria."
A mesa-redonda foi coordenada pelo professor Domingos Alves Meira, diretor
da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em
Botucatu, que falou sobre a implantação do hospital-dia
para atender portadores do HIV na cidade. "O sucesso do programa
de tratamento reduziu a necessidade de internações prolongadas,
o que obrigou o desenvolvimento de uma nova dinâmica de atendimento."
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