Acadêmicos debatem sistemas de avaliação do ensino superior
Do USPOnline
Os critérios de avaliação da qualidade do ensino
superior brasileiro e europeu foram discutidos por acadêmicos de
países lusófonos na tarde deste sábado (24) durante
o XIV Encontro da Associação das Universidades de Língua
Portuguesa (AULP), que se realiza na USP até este domingo.
Participaram da mesa de discussão Hélio Nogueira da Cruz,
vice-reitor da USP, Antônio José Avelãs Nunes, professor
da Universidade de Coimbra, Pedro Lourtie, docente da universidade Técnica
de Lisboa, além de Edson Luiz Riccio, da Faculdade de Economia
e Administração (FEA) da USP.
Na platéia, encontravam-se representantes de universidades brasileiras
(USP, Unesp, UFPel, Fatec, FURB, UFS) e portuguesas (Universidade Técnica
de Lisboa, do Porto, de Coimbra, além dos institutos politécnicos
de Leiria, Potalegre e Bragança). Duas instituições
angolanas Universidade Agostinho Neto e Universidade Católica
de Angola -- também estiveram representadas.
Auto-avaliação uspiana
A auto-avaliação da USP evoluiu da fase departamental
à institucional, afirmou Hélio durante a sua palestra
no evento da AULP. Houve um primeiro ciclo de avaliação
interna na universidade, ocorrido na década de 90, focado principalmente
na avaliação dos departamentos da universidade; e é
consenso atualmente que tratava-se de um processo com falhas, sobretudo
se pensarmos em seu longo prazo de aplicação. Atualmente,
estamos num segundo ciclo que, entre outros avanços, conta com
uma maior participação de unidades de ensino e pesquisa
e, ainda, prega uma associação mais forte entre avaliação
e planejamento institucionais.
O primeiro ciclo de auto-avaliação uspiana a que o vice-reitor
se refere ocorreu entre os anos de 92 e 98. No ano de 92, a universidade
criou a Comissão Permanente de Avaliação (CPA). Em
2003, após solicitação do Conselho Estadual de Educação
(CEE), a USP entrou no chamado segundo ciclo de avaliação
interna. Esta segunda fase está programada para durar até
2005, quando a USP deverá entregar um relatório final ao
CCE.
O contínuo processo de avaliação, em ciclos
que se sucedem, gera resultados positivos, comentou o Hélio
Nogueira da Cruz. Chegamos num nível de auto-avaliação
descentralizado, participativo e que respeita as especificidades dos departamentos
e das unidades de ensino e pesquisa.
Para o vice-reitor, também presidente da CPA, o principal objetivo
da auto-avaliação deve ser analisar a instituição,
periodicamente, no que se refere à eficiência do ensino,
à importância da pesquisa, à revelância da produção
cultural e científica, à eficácia da formação
profissional e à qualidade geral da gestão. Estamos
preocupados com a avaliação interna para que possamos fortalecer
a identidade institucional reforçou.
Preocupações
Durante sua esplanação sobre a experiência de avaliação
interna da USP, Hélio Nogueira da Cruz ainda apresentou os primeiros
retornos que a CPA obteve dos departamentos e das unidades de ensino e
pesquisa da USP. A grande surpresa, segundo o vice-reitor, ficou por conta
da reformulação dos currículos da graduação.
Mais da metade das unidades de ensino (61%) manifestaram interesse em
reformular seu projeto pedagógico. Em segundo e terceiros lugares
no ranking das preocupações dos diversos setores da universidade,
apareceram, respectivamente, aumentar o número de vagas
(57%) e reduzir a evasão (46%).
No âmbito da pós-graduação, a auto-avaliação
apontou uma forte necessidade de internalização dos programas
(79%), seguida da preocupação de se aumentar a produção
e publicação científica (54%). O quesito internacionalização
também apareceu em destaque (74%) na área de pesquisa. Com
relação à cultura e extensão, o retorno apontou
a necessidade de ampliação dos cursos (71%) e da divulgação
científica (61%).
Até o próximo ano de 2005, a USP tem como metas, com base
neste atual segundo ciclo de auto-avaliação, ampliar o número
de vagas e diminuir a evasão na graduação, além
de instaurar um sistema de avaliação interna continuada
na área de pós-graduação. Encontram-se no
rol de metas intensificar a internacionalização dos cursos
e ampliar o ensino à distância, entre outros.
Avaliação interna não basta
A USP, como outras instituições de ensino superior, é
submetida à avaliação interna e externa. Mas
não podemos contar apenas com o olhar externo. Saber avaliar nossos
pontos fortes e fracos é fundamental, afirmou Hélio.
Pedro Lourtie, docente da universidade Técnica de Lisboa, nesta
linha, reforçou, em sua palestra, que os diversos sistemas de avaliação
podem caminhar juntos. A auto-avaliação é um
processo de auto-conhecimento, por isso, fundamental. Sem a avaliação
externa, entretanto, pode ficar manco. Daí ser fundamental a complementariedade.
Avaliação externa no Brasil
O Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), que substitui o
Provão, o extinto Exame Nacional de Cursos, será
aplicado no próximo dia 7 de novembro. Nesta primeira edição,
serão avaliados estudantes do primeiro e do último ano de
treze graduações distintas -- entre elas medicina, agronomia
e serviço social os quais tiverem concluído ao menos
80% da carga horária mínima do curso. Ao contrário
do antigo Provão, nem todos os alunos serão submetidos à
prova. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
do Ministério da Educação) selecionará alguns
graduandos, trabalhando num sistema de amostragem representativa.
Com o novo exame, o governo federal pretende avaliar o desempenho dos
estudantes com relação aos conteúdos programáticos
previsto nas diretrizes dos cursos de graduação e o desenvolvimento
de competências e habilidades necessárias ao aprofundamento
da formação geral e profissional. Intenciona, ainda, verificar
o nível de atualização dos graduandos com relação
à realidade brasileira e mundial.
O Enade, entretanto, é apenas uma face da avaliação
que o governo elaborou para aferir a qualidade do ensino superior brasileiro.
O denominado Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior), criado de 14 de abril de 2004, conta com outros quatro instrumentos:
Auto-avaliação, Avaliação externa, Condições
de Ensino e Instrumentos de informação (censos). Estes processos
avaliativos serão operacionalizados pelo Inep e supervisionados
pela Conaes (Comissão Nacional de Avaliação da Educação
Superior).
O Sinaes é formado por três componentes principais: a avaliação
das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes.
O Sinaes objetiva avaliar todos os aspectos que giram em torno desses
três eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade
social, o desempenho dos alunos, a gestão da instituição,
o corpo docente, as instalações e vários outros aspectos
A experiência européia
O boom dos sistemas de avaliação do ensino superior
na Europa ocorreu na década de 80. Nos anos seguintes, começou
a se pensar na qualidade dos cursos de graduação e no contexto
europeu como um todo. Ainda continua acesa a discussão sobre
se a Europa deve padronizar seus sistemas de avaliação,
criando uma espécie de plataforma européia, ou tentar manter
as particularidades do ensino de cada país, comentou Lourtie.
Especificamente em Portugal, Lourtie explicou que a necessidade de avaliação
do sistema de ensino superior começou a ser reconhecida no final
dos anos 80. Baseamo-nos à época no sistema holandês,
explicou. Atualmente, é o Conselho Nacional de Avaliação
do Ensino Superior (CNAVES), ligado ao Ministério da Ciência
e do Ensino Superior de Portugal, o responsável pela avaliação
das instituições de ensino universitário e politécnico.
Propostas de cooperação
Na tarde deste sábado foram ainda apresentadas ao público
algumas propostas para a efetiva cooperação entre universidades
de países de língua portuguesa. Abaixo, seguem as principais
sugestões propostas por alguns dos grupos de trabalho que participaram
do evento:
Grupo de Formação de Professores de Língua Portuguesa:
Formar um grupo de acadêmicos de diversos países para discussão
permanente do tema; criar um site para troca de informações
e experiências; formular modelos próprios de formação
de professores; elaborar programas de educação continuada
e intercâmbio de docentes.
Grupo de Ensino da Língua Portuguesa: Criar material didático
e paradidático que leve em conta as particularidades de cada país;
fomentar cursos, estágios, intercâmbios e convênios
internacionais; implementar um fórum constante de discussão
sobre o tema; garantir o ensino do idioma para todas as crianças
nascidas em países em que o português seja a língua
oficial; incentivar a cooperação entre as universidades
para fortalecimento de uma política de ensino do idioma; criar
um site para troca de dados e experiências; formar uma rede de pesquisadores;
incluir as literaturas brasileira, portuguesa e africana nos currículos
das escolas; criar de bibliotecas; criar o ensino formal de língua
portuguesas no Timor Leste a partir da cultura popular brasileira.
Grupo da Universidade Virtual da Língua Portuguesa: Criar
uma comissão internacional que defina os conceitos, os objetivos
e as atribuições da universidade virtual, e que, posteriormente,
faça um levantamento das necessidades tecnológicas exigidas
pela iniciativa e elabore uma calendarização do projeto.
Grupo de estudantes lusófonos: Formalizar de um currículo
padronizado entre os países lusófonos; facilitar a obtenção
de vistos para estudantes dos países em cooperação;
elaborar ações que combatam o fenômeno discriminatório
entre os povos irmãos; criar condições de subsistência
para estudantes estrangeiros; criar uma associação internacional
dos estudantes lusófonos; adotar sistema de tutoria para estudantes.
Grupo de currículo e avaliação: Incentivar
o sistema de duplo diploma; investir na internacionalização
dos programas; buscar a uniformização dos currículos.
Cultura
Ao final do sábado, estudantes dos nove países participantes
do evento realizaram apresentações artísticas populares
de seus países. O show marcou o final do II Encontro dos Estudantes
Lusófonos, que acontecia concomitantemente ao XIV Encontro
da Associação das Universidades de Língua Portuguesa
(AULP).
A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência
USP de Notícias como sua fonte de origem. |