São Paulo, 17/08/2004


Embaixador do Brasil na ONU defende presença do país no Haiti

Júlio Bernardes
A participação brasileira na missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti é válida para assegurar a estabilidade democrática e o desenvolvimento de toda a América Latina. A avaliação é do embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Mota Sardemberg, que proferiu conferência sobre Política Multilateral e as Nações Unidas às 10 da manhã desta terça-feira (17) no auditório do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. “Optar pela indiferença diante de um país tão próximo seria abandonar o Haiti à própria sorte”, afirmou.

Ronaldo Sardemberg, que também coordena a representação brasileira junto ao Conselho de Segurança da ONU, falou das mudanças na atuação da entidade desde sua criação, em 1945. “A ONU, que lidava com questões internacionais, hoje está envolvida na solução de conflitos dentro dos países”, disse. “A política multilateral da Organização é colocada em questão por ações unilaterais, principalmente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.”

O embaixador apontou que uma comissão de 18 peritos nomeada pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, deverá elaborar até dezembro uma proposta de reforma da estrutura da entidade, para ser discutida e votada durante o ano. “Entre as mudanças a serem discutidas estão as funções e a composição do Conselho de Segurança”, afirmou. “Se for recomendada a ampliação do número de membros permanentes, é possível que o Brasil consiga uma vaga.”

Missões
Ronaldo Sardemberg lembrou que a ONU está envolvida em 18 operações de paz em todo o mundo. “Esta presença nem de longe deve ser motivo de orgulho”, disse. Sobre a situação no Iraque, o embaixador lembrou que após a ocupação norte-americana há um esforço do Conselho de Segurança em obter decisões de consenso. “Em junho foi aprovada uma resolução que disciplina a transferência de poder para o governo local”, explicou, ressaltando que a situação iraquiana é “enigmática”. “Os conflitos internos colocam em risco as eleições previstas para janeiro de 2005, e a presença de tropas estrangeiras pode se prolongar por mais três ou quatro anos”.

A atuação das Nações Unidas para contornar a crise no Haiti, relatou Sardemberg, começou quando o Conselho de Segurança aprovou o envio de tropas ao país, após a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro. “A resolução foi discutida e aprovada em sete horas, um processo que normalmente leva meses”, destacou. Inicialmente, uma força multinacional composta por soldados dos EUA, Canadá e China foi enviada para pacificar o Haiti. “Três meses depois, estas tropas foram substituídas pela Força de Paz da ONU, coordenada pelo Brasil.”

Sardemberg ressaltou que a presença brasileira no comando da missão, coordenando os trabalhos de cooperação internacional, estimulou a participação de outros países latino-americanos, como Argentina, Chile, Guatemala e Paraguai. “O principal objetivo é assegurar a realização de eleições no país e a prestação de ajuda humanitária”, declarou “A recuperação econômica do Haiti e o desarmamento dos grupos paramilitares são tarefas complexas, mas o Brasil pode colaborar com sua experiência em campanhas de vacinação em massa, controle da AIDS, produção de álcool e agricultura tropical.”

Debates
A conferência foi coordenada pelo professor Jacques Marcovitch, do curso de Relações Internacionais da USP e teve como debatedores o cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (Nupri) da USP, e o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva. Guilhon alertou para os riscos de políticas unilaterais atenderem apenas as pretensões hegemônicas do governo norte-americano.

Carlos Eduardo Lins da Silva considerou a presença brasileira no Haiti “um erro” da política externa do governo, pelo apoio à posição norte-americana. “A questão haitiana tem pouco a ver com o Brasil e a legitimidade da renúncia de Aristide é questionada até por outros países do Caribe”, afirmou. “A ocupação norte-americana, há dez anos, também teve grandes investimentos dos Estados Unidos que não melhoraram a situação daquele país.”

Sardemberg observou que a crise haitiana foi uma grande oportunidade para o Brasil ampliar os contatos com os países caribenhos, reforçando sua atuação na América Latina. “A ONU coordenará um programa de assistência no Haiti, financiado por organismos internacionais, com investimentos estimados em US$ 1 bilhão”, relatou o embaixador. “Trata-se um projeto complexo, priorizando as áreas de energia e transportes.”



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