Lei de Biossegurança se restringe aos transgênicos, alertam pesquisadores
Da Redação,
Agência USP
A aprovação do projeto de lei de Biossegurança ontem
(6), no Senado Federal, causou polêmica entre políticos,
pesquisadores, agricultores e ambientalistas. Professores da USP apontam
que a lei concentra-se demais na questão do cultivo de plantas
transgênicas, devido ao peso econômico do cultivo da soja,
e ignora questões ambientais e éticas das pesquisas sobre
a criação e o uso de Organismos Geneticamente Modificados
(OGMs).
Para a professora Maria Carmem Arroyo Sanchez, presidente da Comissão
de Biossegurança do Instituto de Medicina Tropical da USP, a lei
é muito centrada no plantio de transgênicos. O projeto
ignora aspectos como a manipulação de microorganismos, questões
ambientais, descarte de materiais, pesquisas e utilização
de OGMs, afirmou.
Segundo Maria Carmem, embora exista grande interesse econômico por
alguns produtos geneticamente modificados, como a soja, a legislação
deveria ser mais ampla. As normas são fragmentadas e não
abrangem os organismos que não são modificados geneticamente,
declarou a professora. Devido às mudanças feitas pelo Senado,
o projeto deverá voltar à Câmara dos Deputados para
uma nova análise.
Soja
De acordo com Valdir Nakazawa, professor do curso de Gestão Ambiental
da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a sanção
da lei pelo governo federal não deverá acontecer antes do
dia 20 de outubro, data recomendada pelos especialistas para o início
do plantio da soja, principal produto transgênico do País.
O tempo do agricultor é o da natureza e não o do homem.
Se esta lei não for votada em tempo, vai haver um descompasso entre
a situação legal e o real plantio, disse.
Segundo o professor, o atraso deve obrigar o governo a editar uma nova
Medida Provisória, autorizando o cultivo da próxima safra.
A Lei de Biossegurança deveria ser divida em duas: uma para
pesquisas com células-tronco e outra sobre plantas geneticamente
modificadas, apontou. A discussão em torno das células-tronco
envolve questões religiosas e culturais, que vão além
da análise técnica exigida no caso das plantas.
Nakazawa criticou o formato proposto para a criação do Conselho
Nacional de Biossegurança. O órgão fornecerá
um parecer posterior à análise técnica da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o que poderá
acentuar o caráter político das medidas tomadas, explicou.
As decisões técnicas devem vir em primeiro lugar e
o Brasil precisa definir o que pode e o que não pode ser feito
com OGMs, comentou.
Riscos
De acordo com o professor, o principal perigo de um OGM é o fluxo
gênico, quando o gene implantado na planta passa para organismos
silvestres, alterando toda a relação ambiental de uma região.
No caso da soja, entretanto, ela não sobrevive sem a ajuda
homem e não possui parentes silvestres no Brasil, explicou.
A espécie original nem existe mais.
Nakazawa rebate também uma das principais críticas dos ambientalistas,
o uso excessivo de agrotóxicos nos transgênicos, que causaria
contaminação do solo e dos lençóis freáticos.
A questão não é a quantidade, mas a toxicidade
do produto, afirmou. O Glifosato, que é o herbicida
mais usado nas plantações de soja transgênica, tem
uma toxicidade bem menor do que a usada em outros defensivos agrícolas
utilizados nas lavouras, concluiu o professor.
(Com informações de Gustavo Carbonaro, do USP Online)
A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência
USP de Notícias como sua fonte de origem. |