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Dom Paulo defende consenso como melhor caminho para a paz Flávia Souza Para que exista paz, é necessário que a humanidade encontre e valorize o que há de comum entre os povos e as religiões. A recomendação foi feita pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, durante a conferência A paz entre as religiões, realizada nesta terça-feira (19), às 10 horas, no Instituto de Estudos Avançados (IEA), da USP. Ao discursar para um público de cerca de 50 pessoas, entre professores, membros da Igreja e estudantes, o arcebispo emérito de São Paulo abordou, entre outros temas, as relações entre Igreja, Estado e poder, a trajetória histórica da busca pela paz e os papéis da universidade e da sociedade civil nesse debate. Ao iniciar a conferência, Dom Paulo Evaristo fez uma apresentação histórica do conceito e da busca pela paz, elogiando o ideal humanista grego que unia os conceitos de paz e justiça. "Ele trouxe a imagem da mãe paz, que proporciona abundância e relações amistosas com outros povos", lembrou o religioso. Em contrapartida, criticou o mote romano: se queres paz, prepara-te para a guerra. "O heroísmo era medido pelo sangue derramado, e não pela virtude e pelo trabalho", afirmou. Dom Paulo chamou a atenção, também, para o meio com que é escrita a história, em que guerras e revoluções são tomadas como os eventos mais importantes e decisivos. "Não orientamos a história segundo o que leva os povos a lutarem pelo bem comum", declarou. "Há uma falta de empenho na partilha dos valores humanos e na busca pelo conhecimento dos demais". Religiões Uma religião, segundo o cardeal, "só é autêntica quando mantêm desperta a consciência humana e não domina o juízo crítico". Para ele, estimular continuamente a fraternidade, o respeito e a co-responsabilidade, é um dever daqueles que "professam a religião". "A busca pela paz é uma tarefa de todos", disse, ao condenar a exclusão histórica de grupos como escravos e mulheres. Para Dom Paulo, o debate sobre a paz entre as religiões deve contar com a participação das mídias e dos jovens. Segundo ele, é preciso trocar os "slogans e argumentos pontuais" por uma discussão a respeito dos caminhos propostos por cada uma das religiões. Apontou, também, que é necessário aproveitar os momentos de crise - como o atual - para fomentar reflexões sobre o futuro da humanidade e a importância do respeito em relação aos que possuem outros conceitos. O arcebispo emérito chamou atenção para a necessidade de se valorizar novas iniciativas pela paz, como a Pastoral da Criança, e de se reavaliar a associação entre guerras e lucros, que leva países a sustentarem conflitos por meio da venda de armas. Ele defendeu a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU), em contraposição às ações de Bush e Blair, na guerra do Iraque. Aprofundar o poder que não tem poder No encerramento do encontro, o professor Alfredo Bosi, do IEA, destacou a necessidade de "aprofundar o poder daqueles que não têm poder", ou seja, da sociedade civil, que "não possui o poder físico de repressão". Bosi defendeu a ação da diplomacia e do direito sobre a força armada. Fábio Konder Comparato, também do Instituto, alertou para a necessidade de um "exame de consciência". Segundo ele, é preciso combater a paixão pelo mero exercício do poder e a servilidade diante dos poderosos. "O cidadão tem o dever de defender os direitos humanos diante dos abusos políticos", declarou o professor, que em seguida citou o exemplo de Dom Paulo na luta contra os abusos da ditadura militar. A mediação do encontro esteve a cargo do professor João Steiner, diretor do IEA. A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem. |
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