São Paulo, 05/11/2004

Apesar da adesão russa, Protocolo de Kyoto só decola com os Estados Unidos

Tadeu Breda

A Rússia é um dos grandes ícones do cenário internacional e sua adesão ao Protocolo de Kioto é muito importante. A avaliação é do professor György Böhm, chefe do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) da Faculdade de Medicina da USP, sobre a adesão do presidente da Rússia, Vladimir Putin ao acordo - que pretende reduzir o lançamento de gases causadores do efeito estufa (principalmente o CO2) aos níveis de 1990. "Entretanto, a emissão de poluentes na atmosfera só será efetivamente combatida quando os Estados Unidos ratificarem o Protocolo de Kyoto", afirma Böhm.

George W. Bush posicionou-se contra o protocolo durante sua primeira gestão como presidente dos EUA, porém há indícios de que esta posição poderá ser revista. O documento precisava da adesão de nações que correspondem por pelo menos 55% das emissões de gases na atmosfera. Com a posição russa - uma das maiores poluidoras do mundo -, atingiu esta percentagem e, agora, o protocolo poderá entrar em vigor a partir de 2005.

O professor Alexandre Adalardo Oliveira, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, também vê com otimismo a presença da Rússia no Protocolo de Kyoto. "O fato de Putin ter assinado o documento mostra que países de peso internacional estão contra a postura ambiental norte-americana", comenta.

Ambiente versus economia
A maior justificativa dos Estados Unidos para não ratificar o Protocolo de Kyoto é que uma redução nas emissões de gases estufa - oriundos da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo - provocaria um grande desaquecimento da sua economia, que durante a administração Bush teve um desenvolvimento aquém do esperado.

Em contrapartida, já há alguns anos pesquisadores vêm alertando a opinião pública sobre os danos que o desenfreado processo de aquecimento global pode provocar. Um aumento da temperatura mundial, além de derreter as geleiras dos pólos e elevar em cerca de dois metros o nível dos oceanos, vai prejudicar em muito a produção de alimentos. Isso sem contar os distúrbios que a inalação de poluentes provoca no organismo humano.

"As crescentes taxas de CO (monóxido de carbono, também resultante da queima de combustíveis fósseis) no ar vão cada vez mais agravar as doenças respiratórias", diz Böhm. Mas não são somente os pulmões que sofrem com a poluição. Pesquisas do LPAE provaram que algumas doenças cardiovasculares e a morte de recém-nascidos estão muito ligadas à má qualidade do ar, principalmente nas metrópoles.

Poluição no Brasil
O Brasil, signatário do Protocolo de Kyoto desde 2002, não é um dos grandes poluidores mundiais devido à sua matriz econômica essencialmente agrária. No entanto, caso diminua sua emissão de CO2, Adalardo Oliveira diz que o país pode sair ganhando com as cláusulas do acordo, graças aos créditos de carbono. Se lançar menos poluentes do que os estabelecidos pela meta do protocolo, o Brasil pode vender seu 'direito de poluir' a países que não conseguiram cumprir as determinações, explica.

Adelardo alerta também para o fato de que as queimadas em áreas florestais e fronteiras agrícolas estão aumentando em alguns pontos específicos, como na Amazônia, Mato Grosso e no cerrado. Böhm destaca que as queimadas podem ser controladas pelo aumento da fiscalização ambiental e por uma maior mecanização da agricultura. Para ele, o maior problema da poluição no país é a grande frota de automóveis nas grandes cidades. "É muito difícil fazer com que as pessoas deixem seus carros em casa para se utilizarem do transporte coletivo."



A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem.
 
visite nosso site: www.usp.br/agenciausp
sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br