Açaí é usado como contraste para exame de ressonância
Da redação, Agência USP
O açaí, fruta típica do norte do país, muito
usada para sucos e sorvetes, é mais uma opção dos
profissionais da área de radiologia, como contraste natural para
exames de ressonância de abdome. Essa foi a descoberta de uma pesquisa
conjunta entre o Departamento de Física e Matemática da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
(FFCLRP) da USP e o Centro de Ciências da Imagem do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP)
da USP.
A tomografia por Ressonância Magnética Nuclear é uma
das principais técnicas de diagnóstico clínico, pelo
fato de produzir imagens de alta qualidade. Mas, em muitos casos, a visualização
das imagens pode ser prejudicada. Para auxiliar no diagnóstico,
é possível potencializar a ressonância em exames do
aparelho digestivo, com a ajuda de soluções orais que melhoram
o contraste. Dessa forma, a diferenciação dos órgãos
abdominais é feita com maior precisão, o que permite fazer
a distinção entre tecidos normais e doentes.
Segundo o professor Jorge Elias Junior, da área de radiologia do
Depto de Clínica Médica da FMRP, e um dos autores do trabalho
que utiliza o açaí, nem sempre é necessário
o uso de soluções, entretanto, para algumas situações
este procedimento é fundamental, como na pesquisa do movimento
do trato gastro-intestinal. "Nos testes realizados no HC-FMRP, a
ingestão de 200ml de polpa de açaí pelos pacientes
e voluntários, submetidos a exames de ressonância, melhorou
sensivelmente a qualidade das imagens. Na análise do intestino,
por exemplo, as alças ficam sobrepostas. Com o contraste de açaí
as alças somem do campo visual e ficam somente os dutos na imagem",
relata Elias Junior.
Segundo Tiago Arruda Sanchez, que desenvolve a pesquisa do açaí
em seu mestrado na FFCLRP, a marca da polpa utilizada também influenciou
na qualidade da imagem. Concluiu-se que a forma de cultivo, o tipo de
solo e até o processo de masseração a que o açaí
foi submetido para extração de sua polpa, influenciam nesse
resultado.
O professor do Departamento de Física e Matemática (DFM),
da FFCLRP, Dráulio Barros de Araújo, orientador da pesquisa,
explica que a hipótese para essa propriedade do açaí,
provavelmente, está na presença de metais em sua estrutura,
como ferro e manganês. As vantagens para o seu uso clínico
vão além do fato de ser um produto natural e de sabor agradável.
O contraste comercial, atualmente utilizado, custa R$210,00 por três
doses. Já cada dose de açaí custa cerca de R$2,00,
uma vez que o quilo da fruta custa hoje R$8,00.
Também participam desse trabalho os professores Oswaldo Baffa Filho,
do DFM - FFCLRP, e Ricardo Brandt de Oliveira, da Clínica Médica
- FMRP.
Parceria
Desde 1988, o Laboratório de Biomedicina do DFM da FFCLRP e a Clínica
Médica da FMRP trabalham no desenvolvimento de novos métodos
magnéticos para estudo do movimento gastrointestinal. Segundo Baffa,
a área de gastroenterologia tem necessidade de utilizar métodos
de exames não invasivos e que não necessitem de radiação
ionizante. As alternativas eram transformar o produto inorgânico
no mais próximo possível do orgânico, ou buscar alternativas
já existentes na natureza. Com o conhecimento do alto teor de ferro
presente no açaí, foram iniciadas as pesquisas com essa
fruta.
Nos laboratórios da FFCLRP e da Embrapa de São Carlos, foram
feitos vários estudos sobre a caracterização do açaí,
suas propriedades e composição química. Com isso
foram confirmadas as altas concentrações de ferro e manganês
na fruta, além da presença de cálcio. A partir destes
dados surgiu a idéia de utilizar o açaí na ressonância.
Após as pesquisas in vitro, em março de 2003, foram iniciados
os testes com pacientes e voluntários. Entretanto, segundo os pesquisadores,
mesmo com o sucesso obtido até agora, na medida em que as pesquisas
avançam, outros questionamentos começaram a surgir, como:
o quanto cada componente influencia no contraste e quais outros podem
ser responsáveis pelo resultado obtido.
Mais informações: (0XX16) 602-3822, com Araújo
ou Sanchez
Com informações do Serviço de Comunicação
Social do Campus de Ribeirão Preto
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