Uso de laser pode aumentar sucesso de transplantes de fígado
Da Redação, Agência USP
Uma pesquisa do Departamento de Cirurgia e Anatomia, da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, desenvolveu uma técnica
que utiliza laser para emitir luz sobre o fígado e detectar até
mesmo pequenas alterações nos tecidos do órgão.
Com o sistema é possível obter informações
em tempo real sobre a quantidade de gordura existente no fígado
do doador, imprescindíveis para a realização de transplantes
hepáticos.
A técnica foi aplicada em um paciente submetido ao transplante,
que sobreviveu após a cirurgia. O professor Gustavo Ribeiro de
Oliveira, responsável pelo estudo, explica que o nível de
gordura no fígado do doador (esteatose) está entre os fatores
de risco que podem comprometer o resultado do procedimento. "O índice
de óbitos em casos de transplante de fígado gorduroso é
de 20% a 30%, três vezes maior em relação às
situações em que o enxerto não apresentava esteatose",
diz.
Em parceria com o Instituto de Física de São Carlos (IFSC)
da USP, foram realizados testes em ratos, cujos fígados receberam
uma aplicação de luz por intermédio de um laser.
"Ao incidir sobre o fígado, a luz proveniente do laser emite
uma fluorescência, fenômeno físico-biológico
que indica alterações neste tecido", explica Gustavo.
"A fluorescência é detectada e analisada em um espectrofotômetro,
cujos dados são repassados imediatamente para um computador que
informa, em tempo real, na tela, a quantidade de gordura existente naquele
órgão."
Vantagens
De acordo com o professor, o novo método informa a quantidade de
gordura no fígado de maneira mais rápida (tempo real) e
objetiva que as técnicas tradicionais, agilizando o processo de
transplante e podendo interferir positivamente no resultado final. "A
avaliação visual macroscópica do órgão
feita pelo cirurgião é subjetiva e sujeita a erros",
afirma. "Também pode ser feita uma biópsia, mas isto
depende de uma estrutura física e operacional complexa, e pode
haver demora até sua realização."
O pesquisador observa que o método alia conhecimentos da física
aos estudos biológicos. "A análise da fluorescência
de órgãos decorrente da aplicação do laser
já é usada em diagnósticos de alguns tipos de câncer
e a importância da taxa de gordura no fígado para o sucesso
do transplante é conhecida há cerca de 15 anos", relata.
"A novidade foi a união dos dois conhecimentos pré-existentes
"
Gustavo aponta que a avaliação da qualidade do órgão
do doador e a redução do tempo entre a retirada do fígado
e o implante no receptor são indispensáveis para melhorar
os resultados dos transplantes. "A fluorescência induzida por
laser, além de apresentar resultados imediatos, deve em breve integrar
as rotinas dos transplantes hepáticos", ressalta. "O
equipamento gira em torno de R$ 25 mil, metade do preço de um transplante,
e a tecnologia, totalmente nacional, podendo ser usada e comercializada
por qualquer pessoa."
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