Pesquisadores da USP analisam efeitos do maremoto na Ásia
Tadeu Breda
O maremoto que atingiu a Ásia no último domingo (26) provocou
graves danos à população local e ao ecossistema marinho
da região, mas os professores da USP Jesus Berrocal e Afrânio
Rubens de Mesquita acreditam que o risco de um fenômeno semelhante
no oceano Atlântico é muito pequeno. Segundo os pesquisadores,
o solo do Atlântico é mais estável que o do Oceano
Índico, reduzindo as chances de ocorrerem maremotos. Entretanto,
somente o oceano Pacífico possui um sistema de detecção
de tsunamis (ondas gigantes).
Segundo Jesus Berrocal, do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas (IAG), a região coberta pelo
Oceano Índico é repleta de pequenas placas tectônicas,
que se movimentam para lados contrários e estão em constante
fricção. "O tsunami atingiu as costas da Índia,
Malásia, Tailândia, Mianmar, Bangladesh, Indonésia,
Ilhas Maldivas e Sri Lanka, além do Leste da África, e resultou
da penetração da placa indiana por debaixo da placa de Bornéu",
afirma.
Berrocal explica que, no oceano Atlântico, o movimento da crosta
terrestre se dá de maneira diferente. "Entre a América
do Sul e a África existe uma área chamada Dorsal Atlântica
(uma espécie de cadeia montanhosa submersa), que é uma zona
de formação das placas tectônicas sulamericana e africana,
que não se atritam - afastam-se", diz. O terremoto teve uma
magnitude de 9 graus da Escala Ricther e liberou energia equivalente a
um milhão de bombas atômicas - como a que atingiu a cidade
de Hiroshima durante a 2ª Guerra Mundial.
Detecção
Afrânio Rubens de Mesquita, do Instituto Oceanográfico (IO),
afirma que desde a época do descobrimento do Brasil, no século
XVI, nunca houve nenhum relato sobre tsunamis na costa da América
do Sul. No entanto, ele alerta para o fato de que ondas gigantes podem
ser formadas caso haja uma erupção vulcânica mais
violenta ou uma ruptura de placas tectônicas na região atlântica.
"As possibilidades são remotas e imprevisíveis, mas
existem", observa. "Os sismos da Dorsal Atlântica costumam
ser bem menores do que os de regiões como a asiática ou
do Pacífico. Nossa área geológica é bastante
estável."
Os professores da USP apontam que devido a grande instabilidade tectônica
e a ocorrências anteriores de tsunamis em países como
o Japão, por exemplo, o oceano Pacífico é o único
que possui sistemas para a detecção terremotos em regiões
marinhas. Os detectores são compostos por sensores de pressão
alocados no fundo do mar e transmissores que comunicam qualquer formação
de ondas decorrentes de tremores de terra. Sismógrafos também
auxiliam na constatação de terremotos desse tipo.
Cerca de 80 mil mortes foram registradas até agora pelos órgãos
oficiais dos países atingidos. Para o professor Mesquita, este
número reflete o poder de destruição das ondas de
aproximadamente 10 metros de altura, que podem ter penetrado em terra
firme numa faixa de até quatro quilômetros. Além das
vidas humanas, o tsunami provavelmente destruiu boa parte da fauna
e flora marinha da região, enfatiza. "As ondas varrem os ecossistemas
que sobrevivem em função dos movimentos das marés,
como mangues e recifes de coral."
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