São Paulo, 29/12/2004


Pesquisadores da USP analisam efeitos do maremoto na Ásia

Tadeu Breda
O maremoto que atingiu a Ásia no último domingo (26) provocou graves danos à população local e ao ecossistema marinho da região, mas os professores da USP Jesus Berrocal e Afrânio Rubens de Mesquita acreditam que o risco de um fenômeno semelhante no oceano Atlântico é muito pequeno. Segundo os pesquisadores, o solo do Atlântico é mais estável que o do Oceano Índico, reduzindo as chances de ocorrerem maremotos. Entretanto, somente o oceano Pacífico possui um sistema de detecção de tsunamis (ondas gigantes).

Segundo Jesus Berrocal, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), a região coberta pelo Oceano Índico é repleta de pequenas placas tectônicas, que se movimentam para lados contrários e estão em constante fricção. "O tsunami atingiu as costas da Índia, Malásia, Tailândia, Mianmar, Bangladesh, Indonésia, Ilhas Maldivas e Sri Lanka, além do Leste da África, e resultou da penetração da placa indiana por debaixo da placa de Bornéu", afirma.

Berrocal explica que, no oceano Atlântico, o movimento da crosta terrestre se dá de maneira diferente. "Entre a América do Sul e a África existe uma área chamada Dorsal Atlântica (uma espécie de cadeia montanhosa submersa), que é uma zona de formação das placas tectônicas sulamericana e africana, que não se atritam - afastam-se", diz. O terremoto teve uma magnitude de 9 graus da Escala Ricther e liberou energia equivalente a um milhão de bombas atômicas - como a que atingiu a cidade de Hiroshima durante a 2ª Guerra Mundial.

Detecção
Afrânio Rubens de Mesquita, do Instituto Oceanográfico (IO), afirma que desde a época do descobrimento do Brasil, no século XVI, nunca houve nenhum relato sobre tsunamis na costa da América do Sul. No entanto, ele alerta para o fato de que ondas gigantes podem ser formadas caso haja uma erupção vulcânica mais violenta ou uma ruptura de placas tectônicas na região atlântica. "As possibilidades são remotas e imprevisíveis, mas existem", observa. "Os sismos da Dorsal Atlântica costumam ser bem menores do que os de regiões como a asiática ou do Pacífico. Nossa área geológica é bastante estável."

Os professores da USP apontam que devido a grande instabilidade tectônica e a ocorrências anteriores de tsunamis em países como o Japão, por exemplo, o oceano Pacífico é o único que possui sistemas para a detecção terremotos em regiões marinhas. Os detectores são compostos por sensores de pressão alocados no fundo do mar e transmissores que comunicam qualquer formação de ondas decorrentes de tremores de terra. Sismógrafos também auxiliam na constatação de terremotos desse tipo.

Cerca de 80 mil mortes foram registradas até agora pelos órgãos oficiais dos países atingidos. Para o professor Mesquita, este número reflete o poder de destruição das ondas de aproximadamente 10 metros de altura, que podem ter penetrado em terra firme numa faixa de até quatro quilômetros. Além das vidas humanas, o tsunami provavelmente destruiu boa parte da fauna e flora marinha da região, enfatiza. "As ondas varrem os ecossistemas que sobrevivem em função dos movimentos das marés, como mangues e recifes de coral."



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