São Paulo, 27/01/2005

Especialistas criticam sistema de rodízio e defendem adoção de pedágio urbano

Rafael Veríssimo

O questionamento do atual modelo de rodízio de veículos utilizado em São Paulo, feito pelo prefeito José Serra e por membros de sua gestão na Prefeitura, conta com o apoio de acadêmicos da USP. Para o professor da Escola Politécnica (Poli), Hugo Pietrantonio, o ponto a ser analisado é a maneira como o rodízio interfere na mobilidade das pessoas em seu cotidiano. "Adotar o rodízio pode até resultar numa redução do congestionamento, mas pode também dificultar a vida da maioria das pessoas. O ganho de fluidez nem sempre se equivale à perda de mobilidade dos motoristas", explica.

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Cândido Malta Filho, concorda. "O rodízio está sendo constantemente driblado, o que o torna pouco eficiente", explica. Segundo ele, entram nas ruas diariamente 500 novos automóveis, fator que tende a agravar cada vez mais o inchaço de veículos na cidade. Pietrantonio completa, dizendo que outro ponto a ser discutido é o fato de o rodízio não gerar nenhum recurso para a melhoria do sistema de transporte público. O que, para ambos, o pedagiamento urbano poderia proporcionar.

Microônibus e Pedágio
A solução apontada pelo professor da FAU para a redução dos congestionamentos começa na imediata implantação de uma malha de microônibus, voltada aos motoristas de classe média. "O microônibus mistura o conceito de ônibus e carro. É confortável e, se respeitada a lotação, torna-se atraente para o motorista de automóvel. Em Porto Alegre, este sistema é um sucesso há dez anos", ilustra Malta. O valor da passagem seria de aproximadamente o dobro do valor cobrado num ônibus comum. O veículo passaria por ruas menores e não ficaria restrito aos grandes corredores que conduzem ao centro histórico da cidade, local que, segundo o urbanista, não é o destino da maioria dos automóveis.

Logo em seguida, viria a implantação do pedágio urbano. "Além de ser mais eficiente na restrição de veículos em áreas congestionadas, o pedágio serviria como fonte de recursos para que a expansão da malha metroviária fosse feita", explica Malta, que alerta: "em São Paulo, ou é o metrô, ou é o caos".

O engenheiro da Poli apóia a idéia de que o pedágio urbano é a melhor maneira de restringir o número de veículos, mas discorda de seu colega da FAU em relação ao metrô. Segundo ele, a chance de o metrô acabar com o congestionamento é quase zero. "Além de ser extremamente caro, os motoristas dificilmente trocarão o conforto de seus carros pelo metrô", defende o professor, apontando como exemplo o caso de Londres, cidade que possui extensa malha metroviária e que mesmo assim continua congestionada.

Pietrantonio critica também a atitude da prefeitura de atacar o rodízio e não discutir abertamente o pedágio urbano, que, segundo ele, é a real intenção da prefeitura. Um dos pontos que sustentam a crítica reside na presença de Roberto Scaringella, presidente da CET e defensor do pedágio urbano, na equipe que se reúne essa semana com José Serra e Frederico Bussinger, secretário dos Transportes, com o objetivo de iniciar um estudo para possíveis mudanças no sistema de rodízio.

Mais informações: (0XX11) 3091-4548, com o professor Cândido Malta e (0XX11) 3091-5492 / 5512, com o professor Pietrantonio



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