Debate na Rádio USP discute projeto de reforma universitária do Governo
Federal
Júlio Bernardes
O projeto de reforma para o ensino superior proposto pelo Governo Federal
deve ter mais tempo para que as universidades e a sociedade possam colaborar
na sua elaboração. A idéia foi defendida pela pró-reitora
de Graduação da USP, professora Sônia Penin, na manhã
desta sexta-feira (18), em debate realizado nos estúdios da Rádio
USP, na Cidade Universitária.
O programa, que foi ao ar das 8 às 9 horas, contou ainda com as
participações de Gerhard Malnic, professor do Instituto
de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Estudos Avançados
(IEA) da USP, Soraya Soubhi Ismaili, secretária regional da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Gustavo Petta, presidente
da União Nacional dos Estudantes (UNE).
O Ministério da Educação irá receber emendas
ao anteprojeto da Lei da Educação Superior até 30
de março, quando o texto deverá ser encaminhado para discussão
e votação no Congresso Nacional. "Ampliar o tempo e
o espaço de discussão é fundamental para a realização
das reformas", disse a pró-reitora. "A reforma proposta
pelo Governo para o ensino superior deveria se estender a todos os níveis
da educação no Brasil."
Sonia Penin apontou que a reforma deveria ampliar o acesso e melhorar
todos os níveis de escolaridade, em especial o ensino médio.
"O Governo Federal implantou mudanças no ensino universitário,
como o Sistema Nacional de Avaliação (Sinaes), através
de Medidas Provisórias, sem debatê-las com as universidades",
afirmou. "No processo da reforma, a USP e as demais universidades
estaduais têm muito a contribuir."
Autonomia
Para o presidente da UNE, o projeto de reforma é importante para
organizar o ensino superior privado, mas insuficiente na questão
da assistência estudantil. "Iniciativas como o Programa Universidade
Para Todos (Pro Uni) ampliam o acesso, mas como garantir que um aluno
que ganha menos que três salários mínimos por mês
conclua um curso como Medicina?", disse Gustavo Petta. "A lei
precisa incluir um orçamento específico para assistência
aos estudantes, ao invés de obter os recursos através de
loterias."
Soraya Ismaili afirmou que a proposta garante autonomia de gestão
financeira para as universidades federais, reivindicação
histórica destas instituições, mas ressaltou que
o texto ficou fragmentado ao dedicar 60 dos 100 artigos da lei especificamente
para o ensino superior federal. "A existência do Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI) cria uma autonomia tutelada", disse. "Embora
o projeto destine 75% das verbas federais para educação
ao ensino superior, cerca de R$ 6 bilhões anuais, este valor seria
insuficiente para manter as universidades federais, cujas despesas já
chegam a R$ 7 bilhões por ano."
Gehard Malnic disse que a proposta muda a administração
das universidades, mas aborda pouco o problema da burocracia nas instituições
públicas do setor. "O problema é saber se a autonomia
irá superar a burocracia", declarou. "A universidade
não deve ter uma soberania absoluta, mas manter uma ligação
com a sociedade, sendo válida a criação do Conselho
Comunitário Social nas instituições, como um órgão
opinativo e não decisório."
Malnic informou ainda que, a partir de março, o IEA realizará
um ciclo de conferências sobre reforma universitária, além
de um workshop no final de abril. Sônia Penin relatou que as pró-reitorias
e as comissões do Conselho Universitário deverão
organizar um seminário para discutir o projeto do Governo Federal,
mas não há uma data definida para sua realização.
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