São Paulo, 19/03/2005

Gene pode indicar propensão à dependência de drogas

Da Redação, Agência USP

Pequenas alterações (poliformia) em um gene chamado DRD4 podem representar uma maior propensão de pessoas do sexo masculino à dependência de álcool, tabaco ou outras drogas - a "farmacodependência". O estudo, realizado na Alemanha pela bióloga geneticista Carla Vogel, doutoranda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, pode auxiliar futuramente a identificação de pessoas mais suscetíveis ao vício.

Para a descoberta, foi utilizado um método chamado P300, já usado na identificação de pessoas com um comportamento de "busca de novidades". Por meio de uma espécie de eletroencefalograma, consegue-se mapear o quanto uma pessoa é estimulada ao receber uma onda sonora. Quanto maior for a amplitude da onda representada na tela do aparelho, mais estímulos elétricos ela estará recebendo em seu cérebro. A ligação estabelecida anteriormente por outros pesquisadores diz que a pessoa será mais propensa ao comportamento de busca de novidades e, portanto, à farmacodependência, quando apresentar uma baixa amplitude nesta onda.

O achado de Carla consiste em associar a presença da baixa amplitude da onda do método P300 com a existência de determinadas variações na estrutura do gene DRD4 que, por estar alterado, irá produzir uma proteína diferente da inicial.

A pesquisadora analisou 198 crianças da cidade de Mannheim que já tinham sido estudadas por cientistas alemães dos 11 meses até os oito anos e que apresentaram estas características de "busca de novidades". Carla fez, então, uma análise genética com as mesmas crianças, hoje com idades entre 16 e 18 anos, e conseguiu estabelecer a relação entre baixa resposta ao P300 e a chamada "poliformia" do gene DRD4.

"Acreditamos que este biomarcador poderá servir, por exemplo, para o rastreamento deste potencial e a prevenção de comportamentos de risco e exposição a tóxicos. Mas não podemos afirmar que necessariamente estas pessoas consumirão cigarros, álcool ou outras drogas; os dados apontam somente esta propensão. É um potencial de risco", diz a pesquisadora.

Segundo Carla, a questão das diferenças moleculares entre homens e mulheres também foi refletida neste estudo. "Os achados correspondem a meninos e não foi encontrado nas meninas. Mesmo com o poliformismo do gene DRD4, elas não apresentaram uma associação com a baixa resposta ao P300", afirma. A pesquisadora recebeu em março, em Heidelberg, o prêmio de melhor trabalho da Área Básica apresentado durante o Congresso da Associação de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Alemanha

Outra pesquisadora da FMRP, a neurologista Paula Viana, está concluindo a segunda etapa do estudo na Alemanha, onde cruzará o comportamento destas crianças, hoje adolescentes, com o modelo de vulnerabilidade apontado para rastrear se o consumo de drogas realmente é maior entre eles.

Cooperação internacional
O estudo faz parte do projeto de cooperação internacional entre Brasil e Alemanha chamado "Modelos de vulnerabilidade para farmacodependência", patrocinado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio do programa Probral em conjunto com a Agência de Fomento da Alemanha (DAAD).

No Brasil, a coordenação é do professor Erikson Furtado, do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Na Alemanha a coordenação é do professor Martin Schmidt, da Faculdade de Medicina de Mannheim, da Universidade de Heidelberg. Pelo acordo, alunos de doutorado e pós-doutorado de ambos os países fazem intercâmbios nas duas instituições.

Fonte: Assessoria de imprensa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Mais informações: (0XX16) 602-3058, com Regina Prado, na assessoria de imprensa da FMRP



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