São Paulo, 10/06/2005

Novo presidente da Bolívia deve facilitar Constituinte e eleições presidenciais


André Benevides e Júlio Bernardes

A ascensão ao poder do presidente da Suprema Corte da Bolívia, Eduardo Rodríguez, "foi a melhor saída, porque caso os presidentes da Câmara ou do Senado assumissem a presidência haveria o risco de mais violência e até de uma guerra civil", afirma a professora de origem boliviana Vivian Urquidi, do curso de Políticas Públicas da USP Leste. A opinião é compartilhada pela professora Ana Maria Stuart, do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da USP. "Este fato deve dar uma trégua nesta luta que está sendo promovida pelos movimentos sociais."

Vivian acrescenta que "a pacificação do país é necessária para a realização da Constituinte, em agosto, e das eleições presidenciais, a serem realizadas até novembro". Segundo ela, conflitos econômicos e sociais misturam-se na crise política boliviana, criando um cenário complexo. "Há uma disputa dos setores tradicionais da economia, que era ligado a mineração e hoje é vinculado ao comércio e pequenas indústrias, com os grupos que enriqueceram com a exploração de gás natural e petróleo desde os anos 70 do século passado", explica.

Na questão da nacionalização das reservas de hidrocarbonetos, as opiniões são divergentes. Para Vivian, o processo de privatização, que ocorreu na década de 1990 e foi realizado sem o referendo do Congresso boliviano, merece ser discutido. "Apesar dos acordos internacionais, o debate sobre a nacionalização é legítimo, e deve ser crucial na Constituinte." Já Ana Maria acredita que "aqueles que pedem a nacionalização estão equivocados, pois a saída para a crise energética deve caminhar no sentido de integrar a Bolívia com os países do Mercosul e da Comunidade Andina".

No campo social, a professora boliviana aponta a rivalidade entre os cambas e os colhas como principal fonte das tensões. "Os colhas englobam as populações indígenas e mestiças do lado ocidental do País, descendentes dos índios Quechuas e Aymarás, abrangendo 50% dos bolivianos", conta. "Os cambas representam a população da parte oriental, onde nos últimos 50 anos houve grande expansão agrícola, ao lado do gás e petróleo, e que se considera herdeira direta dos espanhóis, exigindo mais autonomia econômica."

De acordo com Vivian, a estabilidade política na Bolívia dependerá da definição das forças políticas dentro do novo governo. "Se os representantes do lado oriental, politicamente mais à direita, se sentirem excluídos do poder, podem tentar conquistá-lo de forma não pacífica", afirma. "Ao mesmo tempo, as populações indígenas tem uma sólida organização sindical."

Expectativas
Ana Maria observa que Eduardo Rodriguéz é uma figura relativamente desconhecida na política boliviana, trazendo incertezas quanto à maneira como conduzirá o País. "Ele acabou de assumir, e temos de esperar para ver como atuará no governo." De qualquer maneira, as atenções devem estar voltadas principalmente para as eleições presidenciais, anunciadas nesta sexta-feira (10) pelo novo presidente.

Entre os possíveis candidatos, Vivian destaca o ex-presidente Carlos Mesa, "se for permitido a ele concorrer, pois conta com razoável apoio popular", o representante da Ação Democrática Nacionalista (ADN), Jorge "Tuto" Quiroga, de direita, e Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), de esquerda. "Evo surgiu como liderança dos plantadores de folha de coca, há vinte anos, e hoje tem forte apoio de intelectuais e sindicalistas."

Mais informações: (0XX11) 3731-7758, e-mail vurquidi@usp.br, com Vivian Urquidi


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