São Paulo, 17/06/2005


Queda de José Dirceu pode ajudar na rearticulação política do governo


André Benevides

A queda do ministro da Casa Civil, José Dirceu, pode ajudar o governo na rearticulação de sua base de coalizões políticas. Na avaliação da professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, quem assumir o cargo terá mais possibilidades de retomar o diálogo com os partidos governistas. "A capacidade de negociação e articulação de José Dirceu já havia se esgotado. Ele não conseguia realizar estas alianças e não deixava ninguém fazer."

Maria Hermínia acredita que, além das denúncias de corrupção envolvendo Dirceu, foi justamente esta inabilidade no gerenciamento das coalizões que resultou em sua saída do Ministério da Casa Civil. "O motivo imediato da demissão de Dirceu foi a crise, mas ela é produto de problemas criados por sua atuação prévia como articulador político do governo. Do contrário, ela se manifestaria de outro jeito." O afastamento do ex-ministro seria uma demonstração de que existe a consciência da necessidade de se mudar os padrões da articulação política.

A professora Maria D'Alva Kinzo, do mesmo departamento da FFLCH, observa que a queda de Dirceu também sinaliza uma possível alteração das atribuições da Casa Civil. "É provável que o ministério siga um caminho menos político e atue mais no sentido de gerenciar as ações do poder executivo." Este seria o primeiro passo para uma reforma administrativa, que incorporaria figuras fundamentalmente técnicas, e não tão políticas.

Um dos nomes cogitados para assumir o ministério, Dilma Roussef (das Minas e Energia), corrobora esta intenção, segundo Maria D'Alva. "Apesar de já ter atuado na militância, ela não é uma parlamentar. Provavelmente teria uma atuação mais como gerenciadora e menos como articuladora política."

Alianças
Na opinião de Maria Hermínia, o fato facilitará a aproximação do governo com o PMDB, cujas relações já estavam muito desgastadas. "O governo demorou muito para negociar, Dirceu o fez e depois Lula voltou atrás. A aliança com o PMDB foi uma verdadeira novela." Com a ascensão de um novo ministro, as negociações pelo apoio do partido ao governo ganhariam novo fôlego.

A professora Maria D'Alva acrescenta que o estreitamento das relações com o partido seria uma das melhores estratégias para o governo. "Nesta crise, o PMDB foi mais preservado que os outros partidos da base governista, como o PL e o PTB." Além disso, ele possui uma bancada significativa na Câmara dos Deputados e no Senado, casas em que o governo vem sofrendo seguidas derrotas políticas.

No entanto, o governo não está em posição de dispensar aliados, e as relações do governo com o PTB devem melhorar com a troca da chefia da Casa Civil. Como tanto Dirceu quanto Roberto Jefferson, que presidia o partido, foram alocados em outras funções, as negociações políticas entre as instituições que eles representavam devem ficar mais fáceis. "A área de atrito que existia desapareceu dos dois lados, e dificilmente o PTB, partido notoriamente governista, sairá desta base", afirma Maria Hermínia.

Contando ou não com um intensivo apoio destes aliados, o futuro do governo depende do sucesso de um novo articulador político. "Alguém que tenha uma forte sintonia com Lula, mas que também tenha um bom trânsito no Congresso", segundo Maria D'Alva. Já para Maria Hermínia, o presidente Lula, que até agora foi relativamente poupado de desempenhar um papel mais ativo na articulação política, será fundamental para superar a crise. "Quem quer que assuma este papel, será uma figura menos forte que Dirceu, e com isso o presidente precisará se fazer mais presente neste aspecto."

O futuro do governo Lula dependerá, agora, principalmente de como esta rearticulação será levada a cabo e da habilidade do partido em administrar as investigações sobre corrupção. "De qualquer modo, o governo sai enfraquecido, sem a mesma força que tinha no começo do mandato", conclui Maria Hermínia.

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