São Paulo, 20/10/2005

Maus-tratos e violência doméstica favorecem o desaparecimento infanto-juvenil

Da Redação, Agência USP

O risco de desaparecimento de crianças é maior em núcleos familiares onde ocorrem maus-tratos, violência doméstica, negligência e tráfico de drogas. Em relação à personalidade, há maior risco de desaparecerem crianças mentirosas, agressivas, tristes e isoladas.

A conclusão é de um estudo coordenado pelo chefe do Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Eduardo Massad, cujos primeiros resultados foram apresentados nesta quarta-feira (19), durante o I Seminário Estadual Projeto Caminho de Volta, promovido pela FMUSP. O seminário contou com a presença de autoridades e entidades ligadas à questão do desaparecimento de menores.

Financiado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, o estudo comparou o ambiente de 170 famílias que tiveram crianças e adolescentes desaparecidos com 200 famílias que não vivenciaram episódios de desaparecimento, mas moravam na mesma rua e possuíam filhos na mesma faixa etária.

O "Estudo causal sobre o desaparecimento infanto-juvenil" aponta que em 56% dos casos, a família da criança desaparecida já havia recorrido à assistência do Conselho Tutelar antes do desaparecimento para tentar resolver os problemas, contra apenas 5% em famílias sem crianças desaparecidas. Além disso, menos crianças desaparecem quando estão em famílias que não se desintegraram: entre as desaparecidas, 53% vivia com pais e mães juntos, enquanto no outro grupo 72% vivia com sua família nuclear. Em seguida, o estudo mostra que em 47% dos casos a família já recebia atendimento psico-social, contra 12,5% em famílias sem desaparecimento.

O estudo abordou também as queixas em relação ao ambiente familiar, feitas pelas crianças antes do desaparecimento: 39% já havia reclamado de maus-tratos e 22% de violência doméstica, com ampla margem de diferença para as famílias sem desaparecimento. No entanto, neste último grupo, 15% das crianças se queixaram da ocorrência de alcoolismo no ambiente familiar, porcentagem próxima da observada entre as crianças parecidas, 16,5%.

Caminho de Volta
Em 12 meses de atividades, o Projeto Caminho de Volta: Busca de Crianças Desaparecidas no Estado de São Paulo atendeu 184 famílias de crianças e adolescentes desaparecidos na capital e no interior. Foram 99 meninas e 85 meninos, entre 0 e 18 anos. Segundo levantamento do projeto, 76% dos casos referem-se especificamente a fugas de casa (os demais casos são de seqüestros e raptos).

As razões que levaram os menores a fugir, segundo este outro estudo, foram maus-tratos (35%), alcoolismo (24%), violência doméstica (21%), drogas (15%), abuso sexual/incesto (9%) e negligência (7%). O levantamento foi apresentado pela coordenadora do Projeto, Dra. Gilka Gattás no I Seminário Estadual Projeto Caminho de Volta.

O levantamento concluiu, também, que a maioria das fugas (54%) se deu pela primeira vez e 46% foram recorrentes. Com relação a distúrbios de conduta das crianças, o levantamento aponta que 9% tinham envolvimento com álcool, 9% tinham envolvimento com drogas, 2% eram infratores, 5% tinham envolvimento com álcool e drogas, 1% com álcool e algum tipo de infração, 5% com drogas e algum tipo de infração, e 5% com álcool, drogas e algum tipo de infração.

Outro dado que chama a atenção é que 14% dos que fugiram tinham alguma deficiência física e/ou mental. No item escolaridade, a pesquisa revela que 40% das crianças estavam cursando o ano regular. Havia grande defasagem escolar em 14% das meninas e 23% dos meninos. A maioria dos menores desaparecidos (70%) mora nas Zonas Leste e Sul da Capital. Com relação ao local de nascimento, 76% são de São Paulo, 16% do Nordeste e 8% de outros Estados.

Em 12 meses do Projeto Caminho de Volta, 110 crianças e adolescentes (60%) foram encontradas, sendo que a maioria voltou para a casa espontaneamente. O Projeto entrevistou 49 crianças que retornaram a seus lares.

Durante o seminário, o Delegado Geral de Polícia, Marco Antônio Desgualdo, e o superintendente da Polícia Técnico Científica, Celso Perioli, assinaram portaria determinando a realização de exames de DNA no Estado de São Paulo em crianças e adolescentes vítimas de morte violenta, com identificação desconhecida. Os resultados dos exames serão inseridos no Banco de DNA do Projeto Caminho de Volta.

Fonte: Assessoria de Comunicação da FMUSP

Mais informações: (0XX11) 3078-2356, ou e-mails cacilda.luna@serranoassociados.com.br, serrano@serranoassocidos.com.br, na Assessoria de Comunicação da FMUSP



A reprodução do conteúdo informativo desse boletim em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, é permitida mediante a citação nominal da Agência USP de Notícias como sua fonte de origem.
 
visite nosso site: www.usp.br/agenciausp
sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br