São Paulo, 17/02/2006


Pessoas com sono rígido sofrem maior abalo no ritmo biológico durante o horário de verão


Renata Moraes

As pessoas que mais sofrem com a mudança trazida pelo horário de verão (que se encerra nesse sábado nos 10 Estados brasileiros em que vigora) representam de 5% a 10% da população, segundo dados de uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. O estudo faz parte do Projeto Sul-americano (PROSUL/CNPq), envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai e Cuba, que está analisando ritmos biológicos.

Por meio de um questionário com perguntas a respeito das preferências de horário para dormir, acordar, estudar e exercitar-se, por exemplo, foi possível fazer um levantamento dos hábitos de 4 mil pessoas até o momento. Os pesquisados, que são de diferentes estados brasileiros e de outros países latino-americanos, responderam às questões disponibilizadas no site http://www.crono.icb.usp/cronotipo.htm. Roberta Arêas e Leandro Duarte, pesquisadores da equipe do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP, contam que por intermédio desse questionário é possível detectar se a pessoa tem uma tendência (cronotipo) matutina, vespertina ou intermediária.

De acordo com os pesquisadores, essas tendências estão intimamente ligadas ao ritmo de temperatura corporal. "No momento de maior temperatura é que temos nosso melhor rendimento na realização de diversas atividades e nos sentimos mais dispostos". Algumas pessoas, os matutinos, atingem esse ápice em torno das 16 horas. Os vespertinos atingem o mesmo por volta de duas horas mais tarde. Mas, a maior parte da população (mais de 50%) pode ser classificada como intermediária. Os pesquisadores dizem que os matutinos e vespertinos extremos constituem parcela mínima de até 10% e são aquelas pessoas que dormem às 9 da noite e acordam às 5 horas da manhã, ou que passam a madrugada em claro e vão dormir às 6 horas da manhã, respectivamente.

Dessincronização interna
Segundo Roberta e Leandro, o relógio biológico interno tem ligação com os ciclos da natureza, mas funciona segundo uma ordem própria também. Quando submetida a uma mudança brusca de fuso horário, por exemplo, uma pessoa sofre um abalo na sincronia do relógio biológico com os ciclos externos.

No caso da alteração do horário de verão, embora seja apenas de uma hora, já é o suficiente para desregular o equilíbrio interno. Os pesquisadores explicam que o sono está relacionado à melatonina, um hormônio cuja secreção tem um ciclo diário, concentrações mínimas durante o dia e máximas durante à noite. Este hormônio começa a ser produzido quando escurece, e está sincronizado com outros ritmos biológicos, como o ritmo de temperatura. Em uma pessoa sincronizada, durante a madrugada a melatonina atinge suas maiores concentrações e a temperatura central apresenta seus menores valores. Durante a vigência do horário de verão, como escurece mais tarde, essa produção vai começar "mais tarde". No entanto, a temperatura corporal, que é um ritmo mais rígido, demora mais para se adaptar ao novo horário e nos primeiros dias atinge os valores mínimos no momento em que a concentração da melatonina ainda está subindo. Os cronobiólogos afirmam que leva de 4 a 5 dias para as pessoas se ajustarem à nova dinâmica. Já o retorno ao horário normal é menos traumático.

No Canadá, estudos indicam que na semana seguinte à entrada do horário de verão os acidentes com caminhoneiros aumentam, retornando posteriormente aos números normais. E quem mais sofre com essa mudança são as pessoas menos flexíveis, aquela parcela de extremos da população: "podem ter problemas gástricos, irritabilidade e falta de atenção".

Origem das diferenças de cronotipo
Desde bebê já é possível perceber a tendência de alguém. As pessoas vespertinas costumam ser taxadas de preguiçosas, e as matutinas não têm disposição para atividades noturnas. Muitos pesquisadores acreditam que o perfil de cada um tenha influência genética. Na segunda parte do projeto, será feito um mapeamento genético de voluntários para comprovar essa influência.

Os envolvidos no PROSUL esperam coletar 20 mil questionários até o final de 2007, com isso farão também uma pesquisa das influências do horário de verão, checando se são os matutinos e vespertinos extremos que mais sofrem com ele.

Mais informações: (0XX11) 3091-7254, com os pesquisadores


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