Início da distribuição reforça necessidade de ampliar investimentos em biodiesel
Júlio Bernardes
A Petrobrás começa a distribuir neste mês parte dos
70 milhões de litros de biodiesel contratados junto a quatro empresas
em leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP), realizado
em novembro do ano passado. "A iniciativa é positiva",
avalia o professor Weber Amaral, da Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba. "Porém, a distribuição
ainda é experimental e a produção de biodiesel precisará
de um grande aporte de recursos do governo e da iniciativa privada para
chegar à maturidade."
Segundo o professor, que coordena o Pólo Nacional de Biocombustíveis,
ainda não há velocidade na instalação de novas
fábricas para atender a obrigatoriedade de adição
de 2% de biodiesel ao diesel comum, que irá vigorar em 2008, gerando
uma demanda anual de 800 milhões de litros de biocombustível.
"Uma usina leva de 12 a 18 meses para ser concluída, o que
exigirá agilidade na homologação pelo governo e uma
política de investimentos mais agressiva", alerta. "O
leilão da ANP serviu para dar mais confiança aos investidores
de que o programa de produção e uso do biodiesel se tornará
realidade." Um novo leilão está marcado para o mês
de abril. "O preço atual do litro do biodiesel, R$ 1,904,
está cerca de 30% abaixo dos custos de produção",
calcula o professor.
Produção
Amaral ressalta que os investimentos são necessários para
superar problemas tecnológicos, reduzir despesas de produção
e aproveitar novas matérias-primas. "Apesar da adição
de biocombustível ainda não ser obrigatória, já
existe uma demanda por parte de agentes, como prefeituras, com programas
ambientais, transportadoras e empresas de embalagem, a qual supera a capacidade
de produção atual."
O Pólo Nacional de Biocombustíveis pesquisou as matérias-primas
mais adequadas em cada região brasileira, calculando os custos
de produção e estimando a quantidade de litros de biodiesel
obtidos por hectare. "Entre outras espécies, no Norte é
a palma, no Centro-Oeste a soja, no Sul a canola e o girassol, e no Sudeste
o caroço de algodão", relata Weber Amaral. "No
Nordeste é a mamona, devido também à adoção
do 'Selo Combustível Social', que reduz os impostos das usinas
que comprarem matéria-prima em cooperativas de pequenos e médios
agricultores."
Para o geólogo Orlando Cristiano da Silva, pesquisador do Centro
Nacional de Referência em Biomassa (CENBio), sediado no Instituto
de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, "o uso de agricultura
familiar para produzir matéria-prima é desejável,
pois fixa a mão-de-obra no local do cultivo, e com apoio governamental
pode conviver com grandes propriedades para atender o aumento da demanda".
De acordo com Silva, que coordena projetos sobre óleos vegetais
para uso em biodiesel, os produtores ainda dão pouca atenção
ao uso do dendê, que pode ser obtido em cultivos familiares na Amazônia.
"Embora a árvore precise crescer três anos para dar
frutos, a produtividade é maior que a da mamona", afirma.
"A espécie se adapta ao ecossistema local, enquanto uma expansão
da fronteira agrícola da soja poderia ser temerária ao meio
ambiente amazônico."
Mais informações: (0XX19) 3429-4200, com Weber Amaral
e (0XX11) 3091-2655, com Orlando Cristiano da Silva
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