São Paulo, 18 de novembro de 1998 n.347/98
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Brasil deve preservar a fauna de suas cavernas
Funcionando, muitas vezes, como um refúgio evolutivo, as cavernas preservam uma fauna frágil e que corre o risco de desaparecer. Estudo realizado por pesquisadora do Instituto de Biociências da USP alerta para a necessidade de preservação e maior fiscalização das cavernas brasileiras.
Primeiro banco de tecidos esterilizados do Brasil será no HC

Na Cidade Universitária discussão sobre mudanças climáticas globais

Energia gerada a partir de biomassa é tema de curso no IEE


Destaque


Pesquisa mostra a importância da preservação da fauna das cavernas
        Embora no Brasil, em termos percentuais, as áreas com cavernas não sejam tão grandes, em termos absolutos existem grandes extensões. O país se destaca por ser rico em espécies de peixes troglóbias, que vivem exclusivamente no meio subterrâneo. São espécies modificadas com redução e até perda total de olhos, diminuição da pigmentação escura e uma série de modificações ecológicas e comportamentais. A professora Eleonora Trajano, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP, pesquisa a fauna de cavernas com ênfase nos peixes, preocupada em propor medidas para a preservação, avaliando o valor desse patrimônio.
        As cavernas são habitadas por animais que fazem parte da fauna, presente ou passada, que ocorre na região externa. Muitas vezes, funcionam como um refúgio evolutivo, pela condição de estabilidade ambiental. Em caso de flutuações climáticas acentuadas, as espécies que vivem tanto na caverna quanto fora, chamadas de troglófilas, acabam sobrevivendo na caverna. Nessas condições de isolamento, com pressões seletivas próprias desse meio, a espécie se modifica, transformando-se a tal ponto que, mesmo se as condições de fora voltarem a ser favoráveis, não conseguirão mais sair porque estão muito modificadas.
        Essas modificações dependem do tempo de isolamento. Como o processo é gradual, podem ser encontradas espécies em diferentes estágios de perda de olhos e de pigmentação, entre peixes, crustáceos, aracnídeos, miriápodes e moluscos. "Essa perda é a mais óbvia. Porém, vem acompanhada de outras modificações como, por exemplo, desenvolvimento de outros órgãos sensoriais, mudanças de comportamento (como perda da agressividade), parâmetros ecológicos, e taxas de reprodução e crescimento.
        Quase todos os grandes grupos animais estão representados nas cavernas. Porém, as espécies exclusivamente subterrâneas são frágeis. "Um bom número delas entrou na lista de fauna ameaçada de extinção no Estado de São Paulo que acabou de ser publicada", explica Eleonora. "Evoluindo nesse ambiente mais estável, o animal perde a tolerância às variações. As populações são pequenas pela própria restrição geográfica. Algumas espécies são encontradas em apenas uma caverna. Se aquela caverna for destruída, a espécie, teoricamente, desaparece. No meio externo, é muito difícil encontrar espécies tão restritas e com populações tão pequenas."
        O maior problema é a redução da taxa de reprodução e de crescimento. A reprodução torna-se menos freqüente e o crescimento é muito lento. "São espécies que necessitam ter certas estratégias de ciclo de vida que lhes permitam viver num ambiente estável, mas sem muito alimento. Demoram mais para atingir a maturidade e vivem muito tempo. O bagre cego das cavernas do Vale do Ribeira vive mais de 15 anos. Para um bagre que atinge 20 centímetros é muito. O normal para peixes desse tamanho é viver de 5 a 6 anos. Se houver um declínio populacional, vai demorar muito tempo para ser reposto."
        Do ponto de vista da preservação, Eleonora acredita que o Brasil tem uma legislação muito avançada. Mas há o problema da fiscalização. Existem cavernas com visitação proibida que continuam recebendo turistas. Nas cavernas da região de Bonito, MS, como o Lago Azul, a fiscalização pode ser muito boa e conta com a colaboração da iniciativa privada. Mas, na Chapada Diamantina existem sérios problemas. A proteção do Poço Encantado, onde ocorre importante espécie de bagre cego, é garantida por lei municipal, sendo precária e podendo ser alterada a qualquer momento.
        Segundo Eleonora, existia uma espécie de crustáceo que só era conhecida na Caverna Santana, SP, que é parcialmente turística. Atualmente, está praticamente desaparecida. Trata-se da espécie de tatuí de água doce mais modificada que existe. Perdeu toda a agressividade. Nesse caso, parece que o turismo não influiu, porque a caverna é muito grande, mas o animal não estava na região de visitação. O problema talvez tenha sido poluição porque, na região, existia uma mineradora", explica.
        A devastação do ecossistema é um sério problema que também afeta as cavernas. "São as mudanças causadas pelo homem, como o desmatamento, os grandes empreendimentos e as represas. Em Serra da Mesa, GO, cavernas que vão ser inundadas foram precariamente estudadas. No Vale do Ribeira tem a barragem de Tijuco Alto. Desaparecem as cavernas e a fauna externa", alerta Eleonora.
        Mais informações: ( (011) 818-7620, e-mail: etrajano@usp.br com a pesquisadora

HC será sede do primeiro banco de tecidos esterilizados do País
        A Clínica de Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP terá o primeiro banco de tecidos (pele) esterilizados por irradiação do Brasil — processo que reduz a zero o risco de incidência de doenças como a Aids ou hepatite no tecido doado.
        A escolha foi feita pela Agência Internacional de Energia Nuclear Atômica e o serviço deverá funcionar no início do próximo ano em parceria com o Instituto de Pesquisas de Energia Nuclear (IPEN), responsável pelo processo de irradiação dos tecidos. O serviço atenderá a centros de queimaduras de todo o País.
        De acordo com o coordenador do banco de tecidos, o cirurgião plástico Carlos Fontana, o objetivo é manipular e conservar peles (provenientes de cadáveres) e que são utilizadas como enxertos temporários em pacientes com queimaduras graves para proteger a região afetada contra infecções e perda de líquidos. "Esse enxerto é trocado periodicamente por outro e permanece sobre a área queimada até que ela se recupere, quando então é totalmente retirado", explica o coordenador. Aliada a outros procedimentos, essa técnica, segundo Fontana, possibilita o aumento da chance de sobrevida do paciente em 50%.
        O banco de tecidos foi totalmente montado com equipamentos doados pela Agência Nuclear de energia Atômica. No Brasil, somente 24 hospitais tratam de queimaduras. Destes, um terço encontram-se em São Paulo, onde há cerca de 100 leitos. "Esses números são tão pequenos que mensalmente deixam de ser atendidos na Capital cerca de 200 casos de queimaduras graves, que acabam sendo tratados de forma inadequada, em hospitais sem pessoal e equipamentos especializados", lamenta Fontana.
        As doações de pele (tecidos das costas e coxas, numa extensão máxima de 20% do corpo) ainda são muito pequenas no Brasil, não apenas por motivo de escassez de órgãos, de uma maneira geral, mas especialmente pela falta de informação e preconceito por parte dos familiares que temem uma suposta mutilação do cadáver. "A retirada de pele não deixa o corpo mutilado ou deformado", avisa o cirurgião.
        As novidades e avanços na assistência ao queimado no Brasil e no mundo serão apresentados no II Simpósio Internacional do Tratamento das Queimaduras, que acontecerá de 26 a 28 de novembro, no Centro de Convenções rebouças do HC, que fica na Av. Doutor Enéas de Carvalho Aguiar, 23.
        Mais informações: ( (011) 3069-6694, 3069-7053, na Assessoria de Imprensa do HC.
 
 


Cursos, Seminários e Palestras

Mudanças climáticas
        Acontece, no próximo dia 25, das 14 às 17 horas, a rodada de discussões a respeito do workshop Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais: Posição Brasileira para a Reunião de Buenos Aires (COP-4), que ocorreu em 21 de outubro, na USP, e de suas conseqüências políticas, sociais, econômicas e científicas para o Brasil.
        Estarão presentes o Ministro de Relações Exteriores Antônio Guerreiro e Dr. Luiz Gylvan Meira Filho, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O evento acontece na sala do Conselho Universitário, na Cidade Universitária.
        Mais informações:((011) 818-4201 ou e 818-4440, com Inês Iwashita; e-mail ineshita@usp.br.

Congresso sobre direitos humanos
        Tem lugarno Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, dia 2 dezembro, às 20 horas, o Congresso Nacional de Direitos Humanos, que está sendo organizado pela Universidade de São Paulo, em comemoração aos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
        A presença deve ser confirmada até 22 de novembro.
        Mais informações:((011) 818-3402.
 

Tecnologias integradas
        Dias 17 e 18 de outubro acontece o I Seminário de Soluções Tecnológicas Integradas, que terá coordenação técnica de Claudio Mitidieri, do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). O evento, que contará com a presença da empresa Knauf do Brasil, dará um panorama de processos e materiais inovadores que estão sendo utilizados pela construção civil para agilizar obras e racionalizar custos.
        O Seminário, direcionado aos profissionais ligados à construção civil como engenheiros, arquitetos, projetistas e instaladores, será realizado no Mart Center, que fica na Rua Chico Pontes, 1730 – Vila Guilherme.
        Mais informações:((011) 283-4079 ou 3170-2854, com Alda Ribeiro.


Geração de Energia
        O Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), juntamente com o Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO), que foi reconhecido pela Enviromental Protection Agency – USA, através do Prêmio EPA Climate Protection Award, como a entidade brasileira que mais se destacou na preservação do meio ambiente, promoverá, de 30 de novembro a 4 de dezembro, o curso Oportunidade de Geração de Eletricidade a partir de Biomassa.
        O curso, destinado a interessados em geral, se dará no IEE, que fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 – Cidade Universitária. As inscrições já estão abertas.
        Mais informações: ( (011) 816-7828; e-mail cenbio@iee.usp.br
 

Programa de Mestrado em Bioengenharia
        O Curso de Pós-Graduação Interunidades Bioengenharia da USP, integrado pela Escola de Engenharia de São Carlos, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Instituto de Química de São Carlos, abre inscrições para o processo seletivo para admissão de alunos para o Programa de Mestrado em Bioengenharia nas áreas: Interação de Agentes Físicos com Sistemas Biológicos, Biomecânica, Biomateriais e Instrumentação Médica.
        O período de inscrição é de 23 de novembro a 31 de dezembro e poderão se inscrever candidatos graduados em Ciências Exatas, Biológicas ou da Saúde.
        Mais informações: ( (016) 273-9585.
 

Curso de atualização em anatomia
        O Curso de Anatomia e Imunologia na Implantodontia, será oferecido pelo Departamento de Anatomia, no Edifício Biomédicas III, na Av. Prof. Lineu Prestes, 2415, às quartas- feiras das 19 às 22 horas.
        Mais informações: ( (011) 818-7366, com Dna. Carla, da Secretaria.
 



Agenda Cultural

Debate sobre teatro no Centro Maria Antonia
        O Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP reúne em seu subsolo, dia 25 de novembro, às 20h30, Walderez de Barros, Denise Fraga, José Eduardo Vendramini e Mateus Nachtergaele, para discutirem A Técnica do Ator.
        O Ceuma fica na Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque.
        Mais informações: ( (011) 255-5538, ou pelo e-mail mariantonia@edu.usp.br.

Música clássica e religião
        O Coral da USP (Coralusp) e a Estação Ciência promovem, no próximo dia 21, uma palestra/recital com a professora Elizabeth Rangel Pinheiro, sobre sua descoberta de que a sonata para Piano Opus 110 de Beethoven contém mensagens sobre a vida de Jesus Cristo. A partir daí, ela começou a notar a conexão desta obra com outras, como a Nona Sinfonia Opus 125 de Beethoven, Primeira Sinfonia Opus 68 de Brahms e o Messias de Handel, formando uma cadeia ou seqüência temática, tese defendida em seu livro Proporções no Opus 110 de Bethoven, da Editora da Unicamp.
        Os interessados podem se inscrever até a data do evento, mediante taxa de R$5,00.
        Mais informações: ( (011) 263-7022, r.309, com Cauê.
 

Música Clássica na USP
        A Orquestra Sinfônica da USP se apresentará, no próximo dia 28, às 16 horas, no Anfiteatro Camargo Guarnieri, Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária.
        No programa, a Ópera Italiana, de Moteverdi a Puccini. A entrada é franca.
        Mais informações:((011) 818-3000.


Defesa de Teses

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Doutorado
        A sombra dos cafezais: sitiantes e chacareiros em Jundiaí – 1890-1920. Elizabeth Fillipini. Dia 26/11, 14 horas.
Mestrado
        CONFAZ – A trajetória do Conselho Nacional de Política Fazendária. Fernando Brandolise Citroni. Dia 26/11, 9 horas. > 


Transfer interrupted!

   João Cabral e o poema dramático "Auto do Frade (Poema para vozes)". Níobe Abreu Peixoto da Silva. Dia 26/11, 14 horas.
        A questão espiritual nos beguinos da Provença. Ana Paula Tavares Magalhães. Dia 25/11, 9 horas.
        Mais informações: ( (011) 818-4626.

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Doutorado
        Estudo do sistema metanossulfonato cérico/ácido metanossulfônico nas oxidações eletrocatalíticas de substratos orgânicos. João Marcos Madurro. Dia 20/11.
Mestrado
        Caracterização do ritmo de atividade/repouso em livre curso de scaptotrigona aff depilis(Moure, 1942)(Hymenoptera, Apidae, Meliponinae). Selma Bellusci. Dia 20/11.
        Mais informações: ( (016) 602-3675.

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Doutorado
        Da imagem retórica: a questão da visualidade na pintura de Pedro Américo no Brasil oitocentista. Liana Ruth Bergstein Rosemberg. Dia 19/11, 14 horas.
Mestrado
        Uma luz na cidade: um estudo de revitalização urbana. Sérgio Torres Moraes. Dia 20/11, 9h30.
        Mais informações: ( (011) 257-7837.

Instituto de Geociências
Doutorado
        Petrologia de rochas ultramáficas associadas ao grupo Andrelândia e seu embasamento, na região de Liberdade, Arantina, Andrelândia, São Vicente de Minas e Carrancas, MG. Soraya Almeida. Dia 18/11, 14 horas.
        Mais informações:((011) 818-4143.

Faculdade de Saúde Pública
Doutorado
        Vigilância epidemiológica das infecções hospitalares em recém-nascidos. Júlio César de Magalhães Alves. Dia 26/11, 9 horas.
Mestrado
        Bebidas alcóolicas clandestinas: surto de intoxicação ocorrido na área metropolitana de São Paulo. Renato Amatruda de Carvalho Filho. Dia 18/11, 14 horas.
        AIDS – Percepção da competência pessoal relacionada ao uso de camisinha e conduta sexual preventiva de mulheres universitárias. Luciana Sendyk. Dia 20/11, 9 horas.
        Leptospirose: alguns aspectos de seu comportamento epidemiológico no Estado de São Paulo, 1989-94. Rosana Martini Pereira. Dia 20/11, 9 horas.
        Mais informações: ( (011) 3066-7734.
 

Faculdade de Direito
Mestrado
        Da proteção contra as despesas injustificadas. Flávio Bellini de Oliveira Salles. Dia 23/11, 9 horas.
        Mais informações: ( (011) 3111-4004.
 

Instituto de Ciências Biomédicas
Doutorado
        Toxocara canis: resposta de anticorpos IgG na infecção murina experimental e na co-infecção com outros parasitas. Susana Angélica Zevallos Lescano. Dia 26/11, 9h30.
        Mais informações: ( (011) 818-7439.
 
 
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244. 
Tel. 818-4411/818-4691 - Fax: 818-4476/ 818-4426/818-4689
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Jornalista Responsável: Marcia Furtado Avanza (Mtb: 11552)
Repórteres: Antonio Carlos Quinto, Ivanir Ferreira
Estagiários: Renata Bessi, Henry Koibuchi Sakane, Carolina Cavalcanti e Alvaro Magalhães
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