São Paulo, 31 de maio de 1999 n.412/99
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A violência nas escolas
Projeto do Departamento de Psicologia da FFCL de Ribeirão Preto busca um modelo de intervenção nos colégios. Pesquisadores acreditam que a recente onda de violência está relacionada com políticas educacionais autoritárias, desestruturação da família, tráfico de drogas, postura das instituições de ensino, perda da autoridade do professor, aulas desinteressantes, escolas lotadas e falta de atividades culturais.
 
 
 
Tecnologia gera emprego através de serviço da USP
 
 
Fórum vai debater alimentos e agricultura de transgênicos
 
 
Curso no MAE aborda a Etnobotânica e a Arqueologia
 
 

Destaques 
Projeto analisa violência nas escolas
        Já está em prática em duas escolas públicas de Ribeirão Preto um projeto piloto para deter a explosão da violência nas escolas. Participam do programa, que busca um mode-lo de intervenção nos colégios, os professores Sérgio Kodato e José Marcelino de Rezende Pinto, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
        Os pesquisadores acreditam que a escola pode favorecer ou dificultar o surgi-mento dos episódios de violência. Quanto mais fechada, autoritária e repressiva ela for, maior o risco de incidências violentas, que estourariam como reação a essas condições limitadoras. "Um dos grandes problemas é que as políticas educacionais do Estado de São Paulo são feitas de forma autoritária. O professor e os alunos não são preparados para as mudanças e sentem-se perdidos e desrespeitados", comenta Kodato. "Existe nas escolas um mecanismo de atribuição de toda a culpa à família". Os culpados, porém, não param por aí. Desestruturação da família, tráfico de drogas, postura das instituições de ensino, perda da autoridade do professor, aulas desinteressantes, escolas lotadas e, principalmente, falta de atividades culturais são os fatores responsáveis pela recente onda de violência deflagrada nos colégios.
        Segundo os professores, episódios de desentendimento, vingança e brigas pessoais sempre ocorreram, mas a incidência de mortes está relacionada às disputas entre grupos de traficantes. O consumo de drogas numa escola pública não é maior do que numa instituição particular ou mesmo que na Universidade, ressaltam. A diferença é que na escola pública o acesso é dificultado por falta de dinheiro, o que desencadeia processos violentos. A atuação preventiva seria a melhor saída, por sua maior eficácia e um custo menor do que a recuperação do jovem já ingresso no tráfico. Um programa que ofereça mecanismos, principalmente econômicos, para que a família mantenha o filho estudando, é uma boa solução. A atuação da escola, no entanto, deve ser outra. "Se a escola tentar lutar contra a droga e o tráfico, é óbvio que vai perder", sentencia Marcelino. "Esta luta não é da escola. É da sociedade".
        O ensino seriado - ou aprovação auto-mática - é também apontado como fator que propicia a violência. A medida praticamente aboliu a reprovação, mesmo de alunos com mal desempenho escolar. Mas, na questão da disciplina, eles ainda parecem não saber os direitos e deveres que lhes são cabidos. Al-guns professores contam que não têm mais o pleno poder ao advertir determinados estudan-tes. Outro problema é a quantidade de alunos por escola. Enquanto nos Estados Unidos há em média 600 alunos por instituição, no Brasil este número sobe para até 2.500.
        Kodato acredita que falta diálogo. A participação das famílias nos colégios é muito limitada. Os parentes são convocados apenas para reuniões maçantes. A postura deve ser outra em relação à família. "A escola é a instância socializadora de seus filhos", diz.
        Ainda tem o aspecto do desinteresse e da desinformação. Conforme a pesquisa de Ana Paula Brancaleoni, aluna do 5o ano de Psicologia da FFCLRP, eles não sabem porque estudam e "desconhecem o valor do aprendizado". Mas os estudantes reclamam da falta de diálogo e alegam que as brigas surgem em lugar das conversas.
        Para os pesquisadores, muitas vezes simples ocorrências de indisciplina são transformadas em eventos policiais. Dados preliminares mostram que a escola ainda não é um local violento, quando comparada à sociedade em geral. Mas a violência nas escolas é a que mais cresce e tornou-se um foco. "A imprensa divulga mais, a escola passa a registrar fenômenos que antes não registrava, a sociedade clama por mais policiamento, a polícia fica mais atenta, e aumenta o registro de ocorrência violentas. Isto não corresponde necessariamente ao real", ressaltam os pesquisadores.
        O projeto está dividido em dois módulos. No primeiro, de investigação diagnóstica, serão aplicados questionários discutidos com professores e alunos e entrevistas com diretores e inspetores, para a análise das condições de funcionamento das escolas. No segundo, é feita a intervenção. Os pesquisadores destacam, como casos que deram certo, as escolas de bairros carentes e com elevados índices de violência que não registram ocorrências. "Verificadas as condições de funcionamento destas escolas, observa-se que elas parecem mais abertas, com direções democráticas e professores mais empenhados na questão metodológica", relatam Kodato e Marcelino. "A escola não precisa se defender da comunidade. Eles trabalham juntos", concluem. Mas os pesquisadores lamentam ainda a falta de comunicação da sociedade. "Falta ao Brasil o que existe há muito nos Estados Unidos: a discussão de experiências que deram certo".
        O projeto foi idealizado pela Promotoria Pública da Infância e Juventude de Ribeirão Preto. Também estão envolvidos no programa, entre outros, a Delegacia Regional de Ensino, os Conselhos Municipais de Educação e da Infância e Juventude, e a Rede de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente da Prefeitura de Ribeirão.
        Mais informações: ( (016) 602-3713, com o professor Kodato, ou 602-3722, com o professor José Marcelino.
 
    USP usa tecnologia a favor do emprego
        Se a tecnologia é apontada quase que unanimemente como um fator que gera desemprego estrutural, o Disque Tecnologia tem como proposta fazer a inversão: usar a tecnologia para gerar emprego. "Se nós agregarmos valor tecnológico à pequena e micro empresa, estes empreendimentos se tornam possíveis, gerando renda e empregos", explica o coordenador Luiz Fernando de Gouveia Buffolo. O Disque Tecnologia é um serviço oferecido pela Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae) da USP.
        O Disque Tecnologia funciona como um telefone de utilidade pública. "Entendemos por tecnologia, a aplicação prática do conhecimento, ou seja, qualquer pessoa que tenha dificuldade em montar um empreendimento ou em resolver algum problema no seu negócio pode nos ligar no telefone 211-0801 e pedir auxílio".
        Certa vez, o Disque Tecnologia recebeu a consulta de uma fotógrafa com problemas na divulgação do seu estúdio. De acordo com Gouveia Buffolo, suas fotos eram de grande qualidade, mas o mercado não tinha conhecimento. Foi traçada uma estratégia de marketing e os pedidos de serviço que o estúdio passou a receber cresceu de tal forma que a fotógrafa precisou contratar uma secretária e um segundo fotógrafo. "Este é um caso típico em que a tecnologia gerou emprego", sintetiza.
        Conforme a consulta, o problema será resolvido pela própria equipe de consultores do Disque Tecnologia composta por alunos de graduação, ou repassado para professores, técnicos, pós-graduandos ou empresas juniores. "Quando este serviço começou, a maioria das consultas eram imediatamente repassadas. Com o tempo, no entanto, percebemos que os problemas vêm 'embrulhados para presente'. Uma pessoa que deseja montar uma dedetizadora, nos diz que quer saber tudo sobre inseticida. Na realidade, ela não precisa conhecer o processo de fabricação de inseticida, mas como oferecer o serviço de dedetização. Portanto, a área não é engenharia química, mas prestação de serviço", exemplifica Golveia Buffolo.
        A partir de então, a equipe do Disque Tecnologia passou a se preocupar em "desembrulhar" as consultas. "E quando desembrulhamos a consulta, em mais de 70% das vezes ocorre um momento mágico: o problema se resolve. Isto ocorre porque as consultas são repetitivas e temos muitas respostas catalogadas", afirma o coordenador. É muito comum, por exemplo, consultas sobre como fazer um concentrado de laranja com gosto perfeito de laranja. "Este é um caso interessante, porque embora pareça um problema simples, ainda não tem solução e demanda um investimento pesado em pesquisas, como algumas grandes empresas de sucos estão fazendo".
        Como as consultas são repetitivas, o Disque Tecnologia passou a ter um programa na Rádio USP para expor os casos mais freqüentes e interessantes e atingir um público maior. O programa no rádio também ajudou na divulgação do serviço. Neste mesmo sentido, o Disque Tecnologia possui uma coluna mensal fixa na seção de Assessoria de uma revista especializada em pequenos negócios.
        Hoje, a equipe do Disque Tecnologia recebe cerca de 15 consultas por dia. "Estamos satisfeitos com este números. É verdade que poderíamos atender mais pessoas, mas não queremos chamar toda a demanda do mercado. Queremos disseminar este tipo de serviço em outras instituições do Brasil. E depois que o Disque Tecnologia foi criado, já nasceram quatorze serviços semelhantes no Brasil e dois na Argentina", conclui Gouveia Buffolo.
        Mais informações: (011) 818-4166 ou 818-4437; e-mail: disqtec@cecae.usp.br.
 
 

Cursos, Seminários e Palestras 

Transgênicos
        Estão abertas, até 8 de junho, as inscrições para o fórum de debates Transgênicos: Agricultura, Alimentos e Meio Ambiente, que acontece dia 11 de junho, às 14 horas, no Anfiteatro Camargo Guarniere, na rua do Anfiteatro, 109 – Cidade Universitária.
        Os debatedores são: Marijane Lisboa, do Greenpeace, Geraldo U. Berger, da Monsanto, Andréa Salazar, do Instituto de Defesa do Consumidor.
        Mais informações: ( (011) 818-3235.

Etnobotânica e Arqueologia
        O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP realiza, de 28 de junho a 12 de julho, das 14 às 17 horas, o curso Etnobotânica e Arqueologia: uma abordagem interdisciplinar. O curso, que abordará os vários aspectos da pesquisa arqueológica com relação às hipóteses atuais sobre as origens da agricultura nas Américas, é destinado a graduandos e graduados das áreas de Biologia, Antropologia, História e comunidade em geral. As inscrições devem ser feitas de 7 a 25 de junho.
        Mais informações: ( (011) 818-4906.
 
 

Agenda Cultural 
 
Fractais
        O Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) da USP estará com a exposição Fractais – Janelas para o infinito, do Grupo Fractarte, até junho, das 9 às 23 horas. O Grupo apresenta a arte fractal, acompanhada de uma fusão de explicações sobre o que são fractais e as imagens criadas, conduzindo os espectadores a novos universos imaginários. Para ele, fractais são objetos que apresentam auto semelhança e complexidade infinita, contendo cópias, aproximadas, de si mesmo em cada uma das partes.
        Mais informações: ( (011) 255-5538 ou pelo e-mail rbullara@usp.br .
 
 

Livros, Revistas e Publicações 
 
Livro trata de Mitologia Sanitária
        O professor Fernando Lefevre, do Departamento de Prática de Saúde Pública (FSP) da USP, lançará, dia 9 de junho, às 18 horas, o livro Mitologia Sanitária – Saúde, Doença, Mídia e Linguagem. Nele foram reunidos ensaios em que temas da Saúde e da Saúde Pública brasileira contemporânea são abordados nas perspectivas da comunicação, da educação e da semiótica. O autor questiona, por meio desses ensaios, a visão tradicional de doença e de saúde na Saúde Pública divulgada na mídia, apontando para a necessidade da fundação de uma nova Mitologia Sanitária.
        O lançamento acontecerá na FSP, que fica na avenida Dr. Arnaldo, 715.
        Mais informações: ( (011) 3066-7718, 3066-7743 ou 9918-9740, com o professor.
 
Lançamentos da Humanitas
        A Humanitas Livraria, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, lançará os seguintes livros no dia 10 de junho, às 17h30:
        O italiano falado e escrito, organizado pelas professoras Loredana de Stauber Caprana e Letizia Zina Antunes.
        Juó Bananére: As cartas d’Abax’o Pigues, do professor Benedito Antunes.
        Tempo de doer Tempo di soffrire, da professora Vera Lúcia de oliveira.
        Insieme 7, Revista da Associação de professores de italiano do Estado de São Paulo (Apiesp).
        Mais informações: ( (011) 818-4612/4938 ou pelo e-mail di@edu.usp.br.
 
 

Quadro de Avisos 
 
Deus da Medicina
        O Museu Histórico da Faculdade de Medicina (FM) da USP e a Fundação Byk inauguram, dia 5 de junho, às 10 horas, a estátua esculpida em bronze de Asclépio, o deus Helênico da Medicina, em frente ao Instituto Central do Hospital das Clínicas. A inauguração acontece na data em que se recorda o falecimento do professor Arnado Augusto Vieira de Carvalho, primeiro diretor da Faculdade de Medicina da USP.
        Mais informações: ( (011) 3069-6694 ou 3069-7053.
 
 

Defesa de Teses 
 
Faculdade de Direito
Mestrado
        Guarda de filhos. Ricardo Algarve Gregório. Dia 8/6, 14 horas.
        Mais informações: ( (011) 3111-4004.
 
Instituto de Psicologia
Mestrado
        Médicos com diferentes esquemas conceituais-referenciais diante da dimensão psíquica: um estudo comparativo. Igor Sergins Prujansky. Dia 4/6, 9h30.
        Mais informações: ( (011) 818-4183.
 
 
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 374, conj. 244, São Paulo - SP.  
Tel. 818-4411/818-4691 - Fax: 818-4476/ 818-4426/818-4689 - E-mail: agenusp@edu.usp.br 
Home Page: http://www.usp.br/agen/agweb.html 
Jornalista Responsável: Marcia Furtado Avanza (Mtb 11552) mfrsouza@usp.br  
Repórteres: Antonio Carlos Quinto acquinto@usp.br , Ivanir Ferreira ivanir@usp.br  
Estagiários: Renata Bessi, Henry Koibuchi Sakane, Carolina Cavalcanti, Alvaro Magalhães e Ciro Bonilha
 
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