São Paulo, 
nazismo
19/10/2001
Estudo analisa repressão da polícia política
ao Partido Nazista em São Paulo
Pesquisa analisa repressão da polícia política à seção brasileira do Partido Nazista, que atuou livremente no País entre 1931 e 1942. O estudo revela que a repressão causou um forte impacto na comunidade alemã
Valéria
Dias

imprimir 

"Os professores iniciavam a aula com o Heil Hitler e em seus uniformes era visível a suástica nazista"
A repressão da polícia política paulista ao Partido Nazista alemão - que agiu livremente em território nacional entre 1931 e 1942 - só foi efetuada a partir da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Durante os 11 anos de livre atividade em nosso País a seção brasileira do Partido teve 2.822 filiações, editou um jornal semanal e fundou uma escola que divulgava livremente os conceitos empreendidos pelo Reich.

Os dados são de uma pesquisa do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizada pela jornalista e historiadora Ana Maria Dietrich, sob a orientação da professora Maria Luiza Tucci Carneiro. A dissertação de mestrado "A caça às suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a Mira da Polícia Política" foi elaborada com base nos prontuários da polícia política paulista pertencente ao acervo Deops-São Paulo. De acordo com a pesquisadora, a perseguição ao partido aconteceu somente entre 1942 e 1945, com o controle das ações e idéias dos chamados "súditos do Eixo" que, com a configuração da nova ordem marcada pela guerra, tornaram-se inimigos militares do Brasil. Esta repressão causou um forte impacto na vida da comunidade alemã.

Ana Maria cita como exemplo o caso do fazendeiro paulista Nicolau Manoel Kaufmann, judeu exilado no Brasil e perseguido pela polícia como "simpatizante do Eixo", apesar de estar se refugiando das perseguições nazistas. "A polícia não se importava se a pessoa era ou não nazista e agia contra todos os alemães e estrangeiros em geral". Segundo Ana Maria, não era permitido falar a língua alemã em público e muitos alemães foram presos apenas por cantar o hino de seu país nas ruas. No entanto, a pesquisa indica que o chefe da seção brasileira do Partido Nazista, Hans Henning Cossel, que morava no Brasil desde 1933, não foi preso pela polícia paulista.

Cossel também era editor chefe do jornal semanal Deutscher Morgen (Aurora Alemã), que circulou no País entre 1932 e 1940. Ana Maria conseguiu dois exemplares desse semanário escrito em alemão que divulgava livremente a doutrina nazista, as reuniões do partido, fotos e anúncios de comerciantes partidários ao movimento. "Neste jornal, os representantes do nazismo explicitaram os objetivos do Partido Nazista no Brasil, ou seja, eles mostraram a que vieram" comenta.

Heil Hitler na escola

A pesquisadora também analisou outras duas instituições suspeitas de nazismo: a Escola Alemã de Vila Mariana em São Paulo e o Banco Alemão Transatlântico. No Banco Alemão, foram pesquisados como ocorriam os trâmites das transações bancárias com o Consulado Alemão em São Paulo, a Embaixada no Rio de Janeiro e a sede do Banco em Berlim. Ana Maria ressalta, porém, que os relatórios sobre a Escola Alemã de Vila Mariana foram os mais assustadores. "Os professores iniciavam a aula com o Heil Hitler e em seus uniformes era visível a suástica nazista. Os alunos se reuniam em movimentos como 'Juventude Hitlerista' e cantavam os mesmos hinos da Juventude Hitlerista da Alemanha". Além de restringir a circulação de literatura nazista na escola e substituir os professores alemães por brasileiros natos, a pesquisadora afirma que a polícia solicitou a alteração do nome da escola, que passou a se chamar Benjamim Constant.

Nos prontuários foram encontrados relatórios que descreviam a rotina de alemães suspeitos, com os locais e os horários por eles freqüentados. Em seguida, a casa do suspeito era invadida em busca de provas. Os policiais averiguavam a biblioteca em busca de livros, cartas, fotos ou documentos nazistas. "Se as duas investigações apresentassem indícios comprometedores de que era militante nazista, ele seria preso, sem necessidade de mandado, e ficava à disposição do Deops por tempo indeterminado", explica a pesquisadora.

A polícia também realizava a apreensão de objetos considerados "armas brancas" no contexto da guerra, como máquinas fotográficas, rádios comuns e rádios transmissores da comunidade alemã. "Com o fim da guerra, vários alemães solicitam esses materiais de volta, mas muitas vezes o Deops havia perdido esses objetos". Ela também afirma que com o desmantelamento do Partido Nazista alemão, ocorre o mesmo com o Partido no País e lamenta que não existam documentos significativos do pós-guerra.

Para o doutorado, a pesquisadora pretende analisar a atuação do Partido Nazista em todo o território brasileiro, utilizando documentos existentes em arquivos da Alemanha.



Foram 11 anos de livre atividade no País

capa da 1ª edição do Deustcher Morgen

Material apreendido pela polícia

[imagens: Acervo DEOPS/ Arquivo do Estado de São Paulo]


· vínculos:
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Humanas

· mais informações:
ana_diet@hotmail.com

sobre a Agência USP de Notícias |  direitos autorais |  créditos |  boletim |  mande um email

Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J,n.374 Sala 244 CEP05586-000 São Paulo Brasil
(00XX11) 3091-4411  agenusp@usp.br