"Os professores iniciavam a aula
com o Heil Hitler e em seus uniformes era visível a suástica
nazista" |
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repressão da polícia política paulista ao Partido Nazista alemão -
que agiu livremente em território nacional entre 1931 e 1942 - só
foi efetuada a partir da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Durante os 11 anos de livre atividade em nosso País a seção brasileira
do Partido teve 2.822 filiações, editou um jornal semanal e fundou
uma escola que divulgava livremente os conceitos empreendidos pelo
Reich.
Os dados são de uma pesquisa do Departamento de História da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizada pela
jornalista e historiadora Ana Maria Dietrich, sob a orientação da
professora Maria Luiza Tucci Carneiro. A dissertação de mestrado "A
caça às suásticas: O Partido Nazista em São Paulo sob a Mira da Polícia
Política" foi elaborada com base nos prontuários da polícia política
paulista pertencente ao acervo Deops-São Paulo. De acordo com a pesquisadora,
a perseguição ao partido aconteceu somente entre 1942 e 1945, com
o controle das ações e idéias dos chamados "súditos do Eixo" que,
com a configuração da nova ordem marcada pela guerra, tornaram-se
inimigos militares do Brasil. Esta repressão causou um forte impacto
na vida da comunidade alemã.
Ana Maria cita como exemplo o caso do fazendeiro paulista Nicolau
Manoel Kaufmann, judeu exilado no Brasil e perseguido pela polícia
como "simpatizante do Eixo", apesar de estar se refugiando das perseguições
nazistas. "A polícia não se importava se a pessoa era ou não nazista
e agia contra todos os alemães e estrangeiros em geral". Segundo Ana
Maria, não era permitido falar a língua alemã em público e muitos
alemães foram presos apenas por cantar o hino de seu país nas ruas.
No entanto, a pesquisa indica que o chefe da seção brasileira do Partido
Nazista, Hans Henning Cossel, que morava no Brasil desde 1933, não
foi preso pela polícia paulista.
Cossel também era editor chefe do jornal semanal Deutscher Morgen
(Aurora Alemã), que circulou no País entre 1932 e 1940. Ana Maria
conseguiu dois exemplares desse semanário escrito em alemão que divulgava
livremente a doutrina nazista, as reuniões do partido, fotos e anúncios
de comerciantes partidários ao movimento. "Neste jornal, os representantes
do nazismo explicitaram os objetivos do Partido Nazista no Brasil,
ou seja, eles mostraram a que vieram" comenta.
Heil Hitler na escola
A pesquisadora também analisou outras duas instituições suspeitas
de nazismo: a Escola Alemã de Vila Mariana em São Paulo e o Banco
Alemão Transatlântico. No Banco Alemão, foram pesquisados como ocorriam
os trâmites das transações bancárias com o Consulado Alemão em São
Paulo, a Embaixada no Rio de Janeiro e a sede do Banco em Berlim.
Ana Maria ressalta, porém, que os relatórios sobre a Escola Alemã
de Vila Mariana foram os mais assustadores. "Os professores iniciavam
a aula com o Heil Hitler e em seus uniformes era visível a
suástica nazista. Os alunos se reuniam em movimentos como 'Juventude
Hitlerista' e cantavam os mesmos hinos da Juventude Hitlerista da
Alemanha". Além de restringir a circulação de literatura nazista na
escola e substituir os professores alemães por brasileiros natos,
a pesquisadora afirma que a polícia solicitou a alteração do nome
da escola, que passou a se chamar Benjamim Constant.
Nos prontuários foram encontrados relatórios que descreviam a rotina
de alemães suspeitos, com os locais e os horários por eles freqüentados.
Em seguida, a casa do suspeito era invadida em busca de provas. Os
policiais averiguavam a biblioteca em busca de livros, cartas, fotos
ou documentos nazistas. "Se as duas investigações apresentassem indícios
comprometedores de que era militante nazista, ele seria preso, sem
necessidade de mandado, e ficava à disposição do Deops por tempo indeterminado",
explica a pesquisadora.
A polícia também realizava a apreensão de objetos considerados "armas
brancas" no contexto da guerra, como máquinas fotográficas, rádios
comuns e rádios transmissores da comunidade alemã. "Com o fim da guerra,
vários alemães solicitam esses materiais de volta, mas muitas vezes
o Deops havia perdido esses objetos". Ela também afirma que com o
desmantelamento do Partido Nazista alemão, ocorre o mesmo com o Partido
no País e lamenta que não existam documentos significativos do pós-guerra.
Para o doutorado, a pesquisadora pretende analisar a atuação do Partido
Nazista em todo o território brasileiro, utilizando documentos existentes
em arquivos da Alemanha.
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