04/11/2002 - economia
Trabalhador brasileiro ganha quatro vezes menos que o norte-americano
Diferenças principalmente no nível educacional dos trabalhadores faz com que, em média, os norte-americanos ganhem mais que os brasileiros na maioria dos setores


Beatriz
Camargo


Estudo apresentado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP mostra que trabalhadores brasileiros ganham, em média, quatro vezes menos que os norte-americanos. A pesquisa fez uma divisão dos salários do trabalhador brasileiro em dez faixas. Na mais alta delas, os ganhos representam dez vezes mais do que os que recebem os menores salários. No caso dos Estados Unidos, essa diferença cai para apenas três.

Segundo o economista André Luiz Sacconato, "este número é alarmante e não apresenta nenhuma tendência de declínio entre os anos de 1988 e 1995". Em julho desse ano, o pesquisador defendeu na FEA o mestrado A diferença salarial entre os trabalhadores americanos e brasileiros: uma análise com microdados, onde analisa o mercado de trabalho brasileiro e norte-americano nos anos de 1988 e 1995.

As informações coletadas para a pesquisa foram divididas em variáveis de influência para a comparação dos salários, como nível de escolaridade, produtividade, gênero e setor de trabalho. "Em todas as áreas, os trabalhadores norte-americanos ganham mais que os brasileiros, com exceção do setor de serviços odontológicos", diz o economista.

Para o pesquisador, a educação é um dos principais motivos dessa diferença. "O núcleo da desigualdade salarial do País está na distribuição dos menores salários, que estão intimamente relacionados à mão-de-obra com menor escolaridade", salienta. Em geral, os trabalhadores norte-americanos são mais qualificados, fazendo com que, na média, todos ganhem bem.

Outras variáveis
A produtividade é a segunda variável que mais contribui para a diferença. Calculando a média de riqueza que um trabalhador rende à sua empresa anualmente, Sacconato observou que os norte-americanos produzem mais, por isso teriam maior "retorno". "Isso se explica porque a indústria americana é muito mais capitalizada que a brasileira. Com mais máquinas, o trabalhador fica mais produtivo." Comparando os anos de 1988 e 1995, os índices dos dois países se aproximaram e, na opinião do economista, tendem a se igualar no futuro.

Por outro lado, Sacconato observou que a variável gênero contribui para diminuir a desigualdade salarial entre os dois países. Segundo ele, isso se explica pela discriminação. "Tanto aqui como lá a mulher ganha menos para exercer as mesmas funções dos homens. Essa 'discriminação igualitária' aproxima os ganhos mensais em todos os setores." Entretanto, o economista ressalta que, enquanto nos EUA o salto percentual entre os salários de mulheres e homens é de 22%, entre os brasileiros ele é mais agudo, de 37%.

Alguns setores mantêm maior igualdade salarial. A análise apontou que o setor mais "equilibrado " é o dos bancos, que paga praticamente a mesma quantia a seus funcionários no Brasil e nos EUA. Na área trabalham profissionais de alto nível educacional e com igual produtividade nos dois lugares. O setor agrícola é o mais desigual, em que a escolaridade dos trabalhadores brasileiros é muito mais baixa.

Na opinião de Sacconato, o governo pode intervir provendo a população de educação, principalmente nos níveis mais básicos. "Além de colocar mais de 90% das crianças na escola, é preciso fazer com que elas aprendam", diz. "A melhoria da educação pode diminuir a desigualdade em no mínimo 20% ".

 

Mais informações:(0XX11) 8117-10405 ou pelo e-mail andrels5@terra.com.br


Agência USP de Notícias
Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, n.374 Sala 244
CEP 05586-000 São Paulo Brasil
(0XX11) 3091-4411
www.usp.br/agenciausp
agenusp@usp.br