São Paulo, 
religião
01/10/2002
Música propicia estado de êxtase e
transe em Igrejas Pentecostais
Os mais variados estilos de música passam a ser usados pelas Igrejas numa tentativa de conquistar novos fiéis e aproximar a fé de conservadores a roqueiros
Juliana Kiyomura
Moreno

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" No decorrer do culto há uma gradação sonora e musical até o seu ápice que é quando alguns fiéis são agraciados pelo recebimento do Espírito Santo"
O uso da música como meio para chegar a um estado de êxtase e transe religioso vêm se tornando comum em igrejas de diversas religiões em todo o mundo. A partir dessa constatação, uma pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP analisou essa prática em algumas Igrejas Pentecostais da cidade de São Paulo. A dissertação Manifestações espirituais nas Igrejas Pentecostais: um estudo psicossocial do êxtase e do transe através da música como mobilizadora de emoções desenvolvida por Valdevino Rodrigues dos Santos mostra que a utilização da música nestas igrejas ajuda a aumentar o número de fiéis.

De acordo com o pesquisador, que apresentou sua pesquisa em agosto desse ano, "as Igrejas Pentecostais são as que mais crescem no mundo inteiro e esse tipo de recurso (o uso de ritmos musicais contemporâneos) só tende a aumentar".

Santos analisou as igrejas pentecostais desde a primeira Assembléia de Deus, trazida ao Brasil pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg em 1910. Ele também estudou "Igreja do Evangelho Quadrangular", instalada em 1950, e a "Renascer" na década de 1980.

Dentre elas, a Igreja Renascer é a mais liberal. Para se aproximar de seu público-alvo utiliza rock, samba, rap e até heavy metal. Pastores vestidos de metaleiros pregam para jovens utilizando uma linguagem semelhante a desse grupo. "Jovens são atraídos pela atmosfera a que estão acostumados. Este tipo de recurso une a pregação da fé com uma filosofia de vida que muitas vezes não seria bem aceita em outras religiões", explica Santos.

A dança do samba, por exemplo, é admitida por estarem "sambando para Deus". "Se Deus criou a arte por que não utilizá-la para louvá-lo?", esta é uma das justificativas dada pela igreja para o uso da dança e uso tipos musicais registrados na tese.

Mais proximidade
As Igrejas Pentecostais têm como característica principal a crença no "batismo do Espírito Santo", que teria acontecido pela primeira vez durante a "Festa de Pentecostes", simbolizando a descida do Espírito Santo sobre as pessoas que rezavam e comungavam após a morte de Cristo. Neste momento, pessoas de origens étnicas e idiomas diferentes começaram a falar a mesma língua e a se entender. Esse ato recebeu o nome de "glossolalia", que seria este "falar línguas estranhas", e é um dos momentos mais importantes do culto atual nessas Igrejas Pentecostais. Seria um "retorno às origens e a verdadeira fé", de acordo com o estudioso.

Segundo esta característica de busca pelo Espírito Santo, o uso de ritmos musicais diferentes durante o culto propiciariam uma aproximação entre o pastor, a palavra pregada e a recepção e compreensão por parte dos fiéis. " No decorrer do culto há uma gradação sonora e musical até o seu ápice que é quando alguns fiéis são agraciados pelo recebimento do Espírito Santo", declara Valdevino Rodrigues dos Santos.

No momento de êxtase e transe a música tem por função ambientar toda essa erupção de sentimentos por parte dos fiéis. "O transe que o indivíduo possa ter no "contato solitário com o divino" é compartilhado nessas assembléias religiosas e isto vêm aumentando e tomando uma importância para a antropologia mundial", conclui Santos.





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