"As mudanças foram em relação ao hábito,
não houve incrementos tecnológicos de elevado custo." |
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Um
programa educativo ajudou a melhorar a qualidade do leite de pequenos
produtores da região de Pirassununga, no interior de São Paulo. Segundo
o autor da dissertação de mestrado Avaliação da qualidade do leite
de produtores do município de Pirassununga submetidos a um programa
educativo, o veterinário Alexandre de Azevedo Olival, a iniciativa
deve ser difundida para que a qualidade do leite melhore significativamente
no País.
Olival estruturou um programa educativo participativo com objetivo
de aprimorar a qualidade do leite produzido na região, já que grande
parte era vendida pelos produtores diretamente à população. Ele levou
em consideração a realidade dos fazendeiros e seu conhecimento sobre
o assunto. O programa também tinha objetivos qualitativos, como o
fortalecimento da comunidade.
O estudo, que mediu a eficiência do projeto educativo, foi apresentado
à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP em novembro
desse ano. Para realizá-lo, o veterinário selecionou uma comunidade
com 13 pequenos produtores. Procurou um grupo de pessoas de baixa
renda, que utilizassem baixo índice de modernização na ordenha e cujo
leite fosse "ruim", ou seja, com muitas bactérias.
Após seis meses de preparação, em que o pesquisador visitou as fazendas,
analisou o leite produzido e fez entrevistas, iniciaram-se reuniões
quinzenais. Nelas, eram discutidos os problemas da produção leiteira
e como melhorá-los. "As reuniões despertaram os participantes para
a importância de se produzir um leite de qualidade. Eles mesmos se
empenharam em melhorar seu produto."
Durante o período de um ano e meio em que foram realizados os encontros
- de março de 2001 a julho de 2002 - amostras de leite eram coletadas
mensalmente e entregues à Olival para análise. Nas reuniões, os avanços
de cada produtor eram medidos. "Estabeleceu-se uma competição saudável
para ver quem conseguia melhorar mais", relata o veterinário.
Antes do programa educativo, os resultados da análise mostravam médias
de até 25 milhões de bactérias por mililitro de leite. Segundo Olival,
o índice torna o produto totalmente impróprio para o consumo.
"Ao final do período, o número de bactérias diminuiu, em alguns casos,
para dez mil por mililitro de leite, uma ótima medida, principalmente
em uma produção pequena e pouco modernizada".
O pesquisador explica que a melhoria da qualidade se dá principalmente
devido à higiene pessoal. "As mudanças foram em relação ao hábito,
não houve incrementos tecnológicos de elevado custo." Dentre os cuidados
que devem ser tomados, está o de lavar as mãos e desinfetá-las. Também
é recomendado limpar os estábulos antes de ordenhar e desinfetar a
teta da vaca e os equipamentos utilizados.
A solução desinfetante pode ser de cloro, em concentração 2%, ou de
iodo, a 0,5%. O produto pode ser comprado pronto ou feito em casa.
"É importante ressaltar que a medida errada pode ser agressiva para
a pele, prejudicando as mãos do produtor. E, se a concentração for
muito baixa, o produto não será eficiente na limpeza", diz Olival.
Mudanças qualitativas
Além de melhorar a qualidade do leite produzido, os fazendeiros
experimentaram, segundo Olival, uma outra visão de seu trabalho. "Eles
passaram de uma postura passiva e acuada em relação à atividade exercida
por eles para um posicionamento ativo e crítico." Houve um fortalecimento
da comunidade, que se demonstrou nas discussões coletivas dos problemas
de cada produtor. As decisões foram tomadas em conjunto e as compras
feitas em grupo. "O aumento da solidariedade entre eles foi nítido",
comenta o pesquisador.
Na opinião do veterinário, o programa é específico àquela comunidade
de Pirassununga, mas seus passos podem ser aplicados em outros lugares.
"Produção de leite é uma das atividades que mais emprega no País,
direta ou indiretamente; por isso merece atenção especial." No setor,
ele cita que aproximadamente 10% dos produtores são responsáveis por
70% da produção leiteira, enquanto 90% produz 30% do leite comercializado.
Recentemente, o Ministério da Agricultura instituiu novos parâmetros
para a qualidade do leite, o que, na opinião de Olival, farão surgir
inúmeros cursos para a melhoria da qualidade do produto. "O governo
deveria fiscalizar as instituições que pretendem lecionar o curso,
no sentido de garantir uma verdadeira educação dos participantes,
e não seu 'treinamento'."
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