05/08/2003 - odontologia
Pesquisa da USP resulta em programa
de saúde bucal para gestantes
Estudo incluiu tramento, prevenção e orientação para mulheres grávidas, reduzindo pela metade o índice de cáries nos bebês. Trabalho com pacientes do SUS foi premiado pelo Ministério da Saúde, em Brasília.


Júlio Bernardes


Um estudo sobre a saúde bucal de gestantes e sua relação com a incidência de cáries em seus filhos deu origem a um programa inédito de atendimento odontológico para mulheres grávidas na rede pública de saúde em Bauru, São Paulo. O acompanhamento, que incluiu um trabalho preventivo e ações educativas, conseguiu reduzir pela metade o índice de cáries dos bebês (de 33% para 15%), além de diminuir o risco de partos prematuros e bebês de baixo peso. A pesquisa foi desenvolvida por Régia Zanatta na Faculdade de Odontologia da USP de Bauru (FOB) em sua tese de doutorado e o trabalho com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) foi premiado pelo Ministério da Saúde, em Brasília.

Régia acompanhou 80 gestantes de primeira gravidez com alta atividade de cárie em dez unidades públicas de saúde em Bauru. A maioria das mães atendidas era de baixa renda, e 75% delas tinham entre 15 e 19 anos. As mulheres recebiam escova, pasta, fio dental e materiais educativos sobre higiene bucal, inclusive para o bebê. Também eram realizadas aplicação de flúor, limpeza dos dentes e trabalhos curativos (preenchimento de cavidades).

O acompanhamento das crianças até o segundo ano de vida conseguiu reduzir em 50% o índice de cáries entre os bebês. A pesquisadora afirma que o trabalho de prevenção com grávidas é mais importante pelo fato de a ocorrência de cáries estar associada a questões de comportamento. "Se a gestante adquirir hábitos de higiene bucal, vai passá-los aos filhos", explica. "Quanto mais cedo for iniciada a prevenção, a criança terá menos problemas com cáries". Régia aponta que o baixo nível de renda e de instrução dificultaram a mudança de hábitos entre as mulheres pesquisadas. "A saúde bucal tende a ser menos importante quando faltam recursos até para uma alimentação adequada", diz.

Comportamento
A partir dos resultados do estudo foi montado o Programa de Atenção à Saúde Bucal da Gestante em Bauru. Todas as mulheres passaram a fazer uma consulta odontológica durante o pré-natal. O atendimento começou em 2000, em quatro unidades de saúde, inclusive para portadoras do vírus HIV, e hoje é oferecido em todas as 18 unidades do SUS em Bauru. Régia relata que nos últimos três anos foram atendidas mais de 1.000 gestantes.

Ela explica que as mulheres são submetidas a um tratamento de adequação bucal, eliminando focos de infecção, até receberem alta, além de passarem por ações preventivas e educacionais. Apesar da existência do Programa, cerca de 40% das gestantes abandonam o tratamento. "Quando param de sentir dor, não voltam mais", diz. "Existe a crença de que ir ao dentista durante a gravidez faz mal ao bebê".

A tese de doutorado de Régia Zanata, Avaliação da Efetividade de um Programa de Saúde Bucal Direcionado a Gestantes sobre a Experiência de Cárie de seus Filhos, recebeu o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS em 2002. O prêmio, concedido pelo Ministério da Saúde, foi entregue em novembro do ano passado no Memorial JK, em Brasília.

 

Mais informações: (0XX14) 227-0534, com Régia Zanata.


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